O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) afirmou na tarde desta quinta-feira (20), durante sessão da CPI da Covid no Senado, que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello tem responsabilidade nas mortes causadas pela Covid-19 no Brasil. Na manifestação, o parlamentar capixaba classificou a gestão do general à frente do Ministério da Saúde como desastrosa.
"Se não fosse esse comportamento inadequado, omissivo e criminoso que vocês fizeram, nós não teríamos esses 441 mil [mortos]. Nós somos uma vergonha para o mundo", disparou.
O general Eduardo Pazuello foi o mais longevo no Ministério da Saúde durante a pandemia do novo coronavírus. Ele chefiou a pasta entre maio de 2020 e março de 2021, quando anunciou saída do governo Bolsonaro. Em depoimento na CPI, o ex-ministro disse que saiu porque havia cumprido a missão.
A declaração foi contestada pelo senador da Rede. "Falar que o senhor saiu com a missão cumprida? Só se a missão a cumprir fosse agravar a pandemia”, disparou Contarato, na sessão da comissão desta quinta.
O senador capixaba também apontou contradições no depoimento do ex-ministro e disse que ele estava mentindo ao afirmar que nunca recebeu ordens da presidência da República no enfrentamento da pandemia. Contarato, que é delegado de carreira, voltou a alertar a CPI sobre a possibilidade de prisão em flagrante em casos que o depoente falta com a verdade.
"Se a gente colocar no Google o nome do senhor e do presidente da República vai ver tanto o senhor quanto o presidente difundindo a utilização de medicamento sem nenhuma comprovação científica, difundindo a não utilização de máscara, não distanciamento social, contrário à aquisição de vacina, chegando ao ponto de dizer que não comprou vacina por causa do preço", afirmou.
O senador pontuou alguns momentos que apontam para um cenário em que Jair Bolsonaro interferia na gestão na Saúde. Um deles, quando Pazuello gravou um vídeo com o presidente dizendo que "um manda, o outro obedece".
"Quando o senhor vai para a imprensa e fala que o Ministério da Saúde vai adquirir 46 milhões de dose do Instituto Butantan, e no dia seguinte o presidente diz que não vai adquirir, o senhor está cumprindo uma ordem do presidente da República, ele está interferindo", afirmou o senador.
Pazuello, contudo, negou que houve interferência na compra de vacinas e disse que o que aconteciam eram conversas informais com o presidente. O general saiu em defesa de Jair Bolsonaro, afirmando que ele "fala de improviso, como pensa".
"É óbvio que quando o presidente foi falar comigo, eu conversei com ele sobre isso e expliquei para ele que as contratações [da vacina] só aconteceriam quando nós tivéssemos a legalidade e aprovação da Anvisa. Nós não tivemos nenhuma ordem direta para ter cancelamento. Nós sabemos como é nosso presidente da República, ele fala de improviso, de pronto, como ele pensa, e algumas coisas precisam ser corrigidas depois, conversadas. Nesse caso especificamente, não passou de uma conversa com ele", disse Pazuello.
No fim da manifestação, Contarato voltou a defender que as pessoas sejam responsabilizadas pelo aumento de mortes na pandemia e destacou que não havia ideologia na pandemia.
"Todas essas pessoas que de alguma forma concorrem para esse agravamento da pandemia têm que ser responsabilizadas penal, civil e administrativamente", concluiu.
O senador Fabiano Contarato não é membro da CPI da Covid, mas se cadastrou para fazer perguntas a Pazuello no segundo dia de depoimento do general. O capixaba Marcos do Val (Podemos) também participou da CPI nesta quinta-feira.
No primeiro dia, senadores também apontaram contradições em declarações do ex-ministro da Saúde. Na quarta, Pazuello respondeu aos questionamentos do relator, Renan Calheiros (MDB-AL), e de outros três senadores inscritos.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), suspendeu a reunião do colegiado no fim da tarde, porque havia começado a sessão do Senado, e o Regimento Interno não permite outras sessões simultâneas à do Plenário. No intervalo, Pazuello se sentiu mal, e Aziz decidiu adiar o restante do depoimento para esta quinta.
Proposta pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), com o apoio de outros 31 parlamentares, a comissão tem como objetivo apurar a conduta do governo federal na condução da pandemia de Covid-19 no Brasil, em especial a possível omissão da União nos lugares onde houve colapso do sistema de saúde, como foi o caso da falta de oxigênio em Manaus.
A comissão é formada por 11 membros, quatro deles governistas. Os membros foram indicados pelos partidos e por blocos partidários. O grupo terá um prazo de 90 dias (prorrogáveis) para ouvir autoridades e levantar provas para, depois, emitir um relatório para o Ministério Público.
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