O novo coronavírus avança e provoca mudanças no trabalho, na rotina das pessoas e, principalmente, na forma como a sociedade, daqui para frente, terá que conviver com novos hábitos de saúde. E são justamente essas questões sanitárias e sociais, trazidas ao debate pela pandemia, que vão impactar e guiar o pleito municipal de 2020.
Apesar de o Congresso já sinalizar o adiamento das eleições deste ano, ainda não há definição sobre uma nova data. Parlamentares estudam adiar o primeiro turno para 15 de novembro ou 6 de dezembro, com um período mais curto para o segundo turno, sem que ocorram prorrogações de mandatos. Pelo calendário eleitoral, a disputa aconteceria no dia 4 de outubro, com segundo turno marcado para 25 do mesmo mês.
Independentemente de quando ocorrerão as eleições, especialistas apostam em mudanças nas bandeiras dos candidatos, que terão que colocar saúde e geração de empregos como temas centrais das discussões e das propostas. Os eleitores, por sua vez, deverão usar as urnas para avaliar a forma como os políticos têm enfrentado a crise.
Se o coronavírus deve influenciar a escolha na hora de digitar o número de um candidato na urna, outra preocupação muito provavelmente estará na cabeça do eleitor: o risco de contaminação pelo vírus. Eleições, tradicionalmente, são marcadas por filas e aglomerações. Até o momento não há discussões sobre medidas de segurança que deverão ser adotadas caso o pleito ocorra em um cenário de pandemia.
As disputas municipais têm, no geral, um caráter diferente das eleições gerais. Elas trazem pautas mais próximas dos cidadãos, que buscam soluções para problemas do dia a dia.
Neste cenário, temas como combate à corrupção e segurança pública, que pautaram as eleições presidenciais em 2018, tendem a perder espaço para problemas regionais trazidos pela pandemia. Na visão dos especialistas, saúde e geração de renda farão parte de um roteiro inevitável a ser seguido por candidatos a prefeito e vereadores nas eleições deste ano.
"Os municípios vão estar totalmente contaminados pelos reflexos da pandemia e isso vai ditar o rumo das eleições. A agenda de 2020 será de recuperação econômica e fortalecimento do sistema de saúde básica. Os candidatos vão ser obrigados a falar sobre isso durante a campanha eleitoral. Quem apresentar propostas mais alinhadas com essa agenda tem chance de sair na frente. Quem ignorar, vai estar dando um tiro no pé", afirma o cientista político e professor da Unesp Milton Lahuerta.
E apesar de a eleição ser local, a polarização política que marca o Brasil não ficará de fora. Ganhará, contudo, novos contornos. Discursos extremos e divergências sobre políticas de isolamento, já observados no enfrentamento ao coronavírus no país, tendem a ser reforçados, como destaca o especialista em marketing político Roberto Gondo.
A tendência, segundo Gondo, é que o discurso favorável ao isolamento seja mais forte nas grandes cidades, onde o colapso da saúde ficará evidente, assim como o número de mortes.
"Nas capitais, principalmente, onde vai ser nítido como o sistema de saúde foi sobrecarregado, o debate sobre políticas públicas se destaca. Mas um movimento contrário ao isolamento e mais alinhado ao presidente tende a crescer em cidades pequenas, onde os impactos na saúde não foram tão grandes quanto na economia."
A avaliação sobre as ações do atual mandato em meio à crise vai pesar mais, evidentemente, sobre os prefeitos que tentam a reeleição. O cientista político Rodrigo Prando acredita que a capacidade mostrada pelos governantes de gerenciar a crise do coronavírus também será avaliada nas urnas.
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