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Coronavírus: 'Estamos longe do pico da desinformação', diz pesquisadora

Coronavírus: "Estamos longe do pico da desinformação", diz pesquisadora

Pandemia tem elevado o número de conteúdos falsos nas redes, que podem atrapalhar medidas para conter a Covid-19 e causar danos à saúde. Saiba como fugir da desinformação

Publicado em 26 de abril de 2020 às 13:09

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Firmas estão sendo investigadas pela denúncia de participação em ações de disparo em massa na plataforma Whatsapp nas eleições de 2018
Compartilhamento de informações falsas têm atrapalhado as medidas de combate ao coronavírus. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A disseminação de informações falsas sobre temas relacionados ao novo coronavírus tem afetado o sucesso de medidas para o controle do contágio da pandemia. Conteúdos já verificados como falsos têm servido de munição para desestimular pessoas a adotarem o isolamento, como orientam as autoridades de saúde, e a endossarem o uso de soluções milagrosas e medicamentos não comprovados cientificamente no combate à Covid-19.

Doutora em Comunicação e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Thaiane Oliveira tem analisado como movimentos anticientíficos têm se disseminado nas redes sociais e conquistado adeptos motivados pela desinformação. Em uma analogia com o coronavírus, em que os cálculos mostram que o pico de contágio deve ser atingido no início de maio, o "pico da desinformação" ainda está longe de ser alcançado. 

Para a pesquisadora, o início da curva de aumento de conteúdos falsos na internet começa a partir de 2013, quando cresceu a desconfiança das pessoas nas instituições.

"A desinformação é alimentada pela disputa narrativa dos grupos ideológicos, um tentando se impor sobre o outro. Com a pandemia, estamos diante de uma situação complexa em que faltam muitas respostas, enquanto as pessoas buscam cada vez mais algo para responderem seus próprios medos. Essa lacuna é um terreno fértil para essas notícias falsas", analisa.

A pesquisadora explica que muitas pessoas compartilham informações, falsas ou não, que confirmem o viés da visão que elas têm do mundo. Com isso, acabam compartilhando sem procurar as fontes dos conteúdos que reforcem seus argumentos.

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Daí temos visto surgindo informações de pessoas dizendo que o coronavírus foi criado em um laboratório chinês, que é transmitido pela tecnologia 5G, que a cloroquina está presente em medicamentos fitoterápicos e que já existe uma vacina que a China não quer liberar. É difícil dizer qual grupo cria este conteúdo, mas dá para perceber que ele surge para reforçar um argumento

Thaiane Oliveira
Doutora em Comunicação e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF)
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POLARIZAÇÃO AUMENTA DESINFORMAÇÃO

Um dos pontos mais debatidos sobre a pandemia nos últimos dias é o uso da cloroquina, medida que é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas desaconselhada pelo agora ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

A eficácia do medicamento está sendo pesquisada em vários países, mas ainda não há consenso entre cientistas sobre os resultados do remédio, que tem como seus principais defensores o presidente norte-americano, Donald Trump, e Bolsonaro. Entre os efeitos colaterais do medicamento já apontados está a arritmia cardíaca.

Contudo, circulam nas redes informações falsas para justificar o uso da cloroquina. Uma delas é sobre a suposta cura de um homem de 67 anos em um hospital particular do Rio de Janeiro. A mensagem diz que ele se curou após tomar o medicamento. Uma postagem no Twitter com a informação atingiu 12,5 mil curtidas e 3,7 mil retuítes. O projeto Comprova, do qual A Gazeta faz parte, apurou que o hospital negou ter atendido o paciente e que diz seguir apenas as orientações do Ministério da Saúde.

"A desinformação é uma consequência da polarização política. Nessa disputa de narrativas, os conteúdos falsos, ou mesmo os enviezados para um lado, acabam servindo como arma para simular um apoio contra políticos com discursos antagônicos de quem está propagando a mensagem", explica o editor do Comprova, Sérgio Lüdtke.

Internacionalmente, o Irã também virou exemplo do estrago que informações falsas podem causar, após 44 pessoas morrerem intoxicadas após beberem álcool adulterado. A atitude foi tomada depois de um boato de que bebidas alcoólicas ajudariam a curar o novo coronavírus.

"São conteúdos graves que, por vezes, incentivam a automedicação, o uso de soluções milagrosas, que podem trazer riscos à saúde das pessoas que acreditam ser verdadeiro. Além disso, colocam em xeque medidas tomadas com bases técnicas, como o isolamento social. Temos visto governadores mais fragilizados nas redes e parte dessa desconfiança vem de conteúdos falsos. É uma disputa por narrativa que pode ter consequências graves, como o aumento do contágio e até dificuldades econômicas", afirma.

COMO SE PREVENIR

Para a Thaiane Oliveira, os cuidados para quem não quer se deixar enganar é procurar as fontes dos conteúdos compartilhados, analisar os perfis que disseminam as mensagens e, se possível, checar se instituições confiáveis endossam o conteúdo.

"A principal instituição de confiança é a ciência. Há muitos conteúdos disseminados que são baseados na opinião de alguém. É preciso saber quais as fontes que aquela pessoa está usando para embasar o que está dizendo. Há compromisso com valores éticos? Há compromisso com o conhecimento?", aconselha.

DICAS PARA FUGIR DA DESINFORMAÇÃO

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  • 01

    Atenção à fonte

    Boa parte das informações falsas compartilhadas carecem de fontes que comprovem a mensagem. Tome cuidado com textos, vídeos ou áudios de pessoas que você não conhece e que não possuem indicação de fonte. Mesmo se quem repassou a mensagem a você foi um amigo ou familiar, tome cuidado, ele também pode ter sido enganado. Procure por institutos de pesquisa, dados oficiais ou estudos que possam comprovar o conteúdo.

  • 02

    Pesquise na internet

    Se um conteúdo for impactante, pesquise na internet. Se for verdadeiro, é provável que algum site de notícias confiável tenha noticiado. Cuidado com declarações imputadas a outras pessoas, elas podem ter sido manipuladas ou tiradas de contexto.

  • 03

    Desconfie de fotos retiradas de contexto

    Muitas mensagens falsas se utilizam de fotos de outros locais e até outros países que se assemelham a hospitais, praças e prédios da sua cidade. Além disso, elas também podem ter sido tiradas de contexto. A dica é usa a ferramenta de procura por imagens nos buscadores, que podem ajudar a desvendar a veracidade do conteúdo.

  • 04

    Linguagem

    Se uma informação é oficial, é provável que ela não tenha erros de português, pontuação com exagero de pontos de exclamação, letras em caixa alta ou uma sequência grande de emojis. Mensagens que fogem desse padrão acendem um alerta de possível conteúdo falso.

  • 05

    Viu que é falso? Denuncie

    Se a mensagem for postada em redes sociais e você perceber que ela foi retirada de contexto ou é falsa, denuncie. Assim, você ajuda outra pessoa a não ser enganada.

  • 06

    Na dúvida, não compartilhe

    Se você não tem certeza da veracidade da informação ou não encontrou indícios de que a mensagem seja verdadeira, melhor não levá-la adiante.

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