Principal motivo de divergência entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a estratégia do isolamento social como medida de contenção ao novo coronavírus é defendida pela maioria dos membros da bancada federal capixaba. Só uma pessoa discorda.
Deputados federais e senadores do Espírito Santo avaliam que mesmo com os impactos negativos gerados à economia por conta do isolamento iniciado há três semanas no Estado, ainda é necessária a sua continuidade, pois no momento observa-se uma escalada no número de casos de covid-19.
O fim do isolamento social para diminuir os impactos econômicos do novo coronavírus tem sido defendido pelo presidente. Para ele, é necessário isolar apenas os grupos de risco, como idosos. Pessoas com doenças crônicas e obesas também estão entre as mais vulneráveis. Essas pessoas, no entanto, ao entrarem em contato, em casa, com as que circulam normalmente, estariam expostas.
Durante a tarde, após ter convocado uma reunião entre os ministros, houve grande especulação sobre a possibilidade de demissão do ministro Mandetta, que tem batido de frente com o presidente contra a flexibilização de medidas como o fechamento de escolas e comércio.
Entre os parlamentares capixabas no Congresso Nacional, apenas a deputada Soraya Manato (PSL), que é médica ginecologista, saiu em defesa do isolamento vertical, ou seja, aquele somente para os grupos de risco. Os demais deputados e senadores são a favor de seguir as medidas recomendadas pelas autoridades sanitárias, assim como tem sido feito em outros países, para que em um momento posterior se comece a reduzir as restrições.
Dos 13 integrantes da bancada federal capixaba (dez deputados e três senadores), a reportagem conseguiu contato com dez. Três deputados não responderam.
"Neste primeiro momento, a preocupação prioritária de todos os governos é com a preservação de vidas. Quanto menos pessoas se contaminarem, menos impacto sobre o sistema de saúde e menos mortes. O isolamento é uma medida necessária e recomendada pelos organismos internacionais de saúde, até para que hospitais, profissionais da saúde e equipamentos sejam preparados para atender a quem precisar de internação. Sem dúvida haverá perda de receitas e necessidade de ajustes econômicos, mas para isso estamos trabalhando em todos os níveis com ações de apoio e ajuda ao trabalhador, aos empreendedores e empresários."
"O isolamento social é a principal maneira no momento de se evitar a propagação da pandemia. Este é o modelo que já vem sendo implementado por outros países e defendido pelas principais autoridade de saúde do mundo todo. Na minha avaliação o ministro Mandetta tem feito um bom trabalho no Ministério da Saúde."
Não respondeu.
"Neste momento, é a única solução que temos. Nós precisamos achatar a curva de infecção, porque precisamos dar tempo para o sistema de saúde construir a estrutura necessária para as pessoas que serão infectadas. Qualquer saída de sair do isolamento social horizontal passa por fazer muitos testes. Precisamos saber exatamente quem tem, onde moram, e com quem tiveram contato. Como foi feito na Coreia, Alemanha. A única saída para sair desse isolamento é testar muita gente e isolar essas pessoas que estão infectadas ou são suspeitas. Como não testamos o suficiente, não temos outra solução além do isolamento social. Como a economia vai sim ter uma queda grande, é importante que a gente teste o maior número de pessoas para conseguirmos, gradualmente, ir flexibilizando o isolamento."
"O isolamento deve continuar, e o governo deve apoiar as pessoas concedendo renda básica, e socorrer as empresas, para manter os empregos. É o que os países desenvolvidos têm feito. O Ministério da Saúde está agindo corretamente, seguindo as recomendações das autoridades sanitárias a nível mundial. Estamos falando de uma pandemia nunca vista, de proporções mundiais. Retirar o isolamento social é um perigo para a saúde de todos."
Não respondeu.
Não respondeu.
"No caso de vírus, a orientação na literatura médica, é de que como não temos o medicamento que trate, nem um medicaento ou vacina que evite, só tem uma medida: o isolamento, enquanto os índices estiverem altos. Como o Brasil é um país continental, cada local deve fazer a avaliação, que deve considerar o crescimento da quantidade de pessoas contaminadas e da letalidade. Agora, a orientação é ouvir os técnicos da área. A partir do momento em que a curva parar de crescer, é sinal de que é possível reavaliar. Mas por enquanto, o risco é muito grande. É uma grande responsabilidade para o gestor, ao não ouvir os técnicos. Economia se ressucita, vidas não. Não vejo outra estratégia de enfrentar uma pandemia que não seja esta. E nos grandes centros, o isolamento tem que ser muito maior do que em cidades do interior."
"Como médica, sem dúvidas, fico preocupada com a disseminação do Covid-19 no país. Penso que evitar aglomerações é uma medida preventiva importante e o uso de máscaras de pano também. Mas, precisamos lembrar que o isolamento total pode desencadear outros problemas na população, como a depressão e o sedentarismo. Além disso, ficando em casa o cidadão acaba gastando ainda mais. Ou seja, a população precisa trabalhar para colocar comida no prato, chega um momento em que o dinheiro acaba. Então, sou a favor do isolamento verticalizado e contra medidas extremamente restritivas, exceto com as pessoas que se enquadram no grupo de risco."
"Tem que manter a quarentena, essa é a orientação de profissionais da área. A área que define se devemos continuar ou não é a Medicina. Se todos os órgãos técnicos e cientistas entendem que é a melhor estratégia, entendo que devemos segui-los. Sabemos que há impacto na área econômica, mas não se faz economia sem pessoas saudáveis, aptas a trabalhar. O momento de agora, portanto, é de continuar o isolamento social."
"Temos que manter o isolamento social porque o país está se preparando para uma fase ainda mais difícil na tentativa de controle do coronavírus. Quanto mais gente na rua, mais contaminação. Se a pessoa é saudável e pensar em si, apenas, e não cumprir o isolamento, poderá transmitir o vírus a mais pessoas que não são saudáveis. Poderá ser responsável por mortes. É preciso ter consciência! Temos o exemplo da Itália, gravíssimo! Eles erraram. Não respeitaram o isolamento e isso custou a vida de milhares! Vamos errar também? É inaceitável, para o momento, uma flexibilização no isolamento. As pessoas que podem devem ficar em casa. Não é possível assumir o discurso irresponsável do Presidente, que nega a gravidade da doença e suas consequências. Economia é importante, mas não é mais valiosa que as vidas! E depois a gente trabalha e recupera ganhos. A hora é da solidariedade e do respeito às pessoas. Vamos seguir os conselhos das autoridades da saúde. Também de Sua Santidade o Papa Francisco, que tem dado o exemplo de amor cristão."
"Em relação ao isolamento social, acredito que o mundo vivencia um momento atípico e que não temos condições de avaliar bem o que é certo e o que é errado neste momento. Temos que buscar medidas de equilíbrio que transitem desde o isolamento ao retorno gradativo da economia, sob pena de efeitos ainda mais drásticos. Precisamos acompanhar os dados estatísticos e, assim, tomarmos as decisões. Estados e municípios devem monitorar a situação e indicar aos cidadãos as medidas a serem tomadas, sempre respeitando as orientações da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde do Brasil. Não podemos aumentar o pânico na sociedade, tampouco abrir campo para a oposição tumultuar a atual gestão."
"Hoje a economia não é mais importante que o ser humano. Peço pelo isolamento. Estar em casa, e com todas as medidas de assepsia, de higiene, é uma maneira que tem de se proteger, diante da sua família e da sociedade. Sou a favor da posição estratégica do ministro Mandetta, que vem liderando este processo com equilíbrio, segurança e transparência, informando corretamente os brasileiros na luta pela superação deste angustiante momento."
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