Um dos cotados para concorrer ao governo do Espírito Santo em 2022, o senador Fabiano Contarato (Rede) defendeu o atual governador, Renato Casagrande (PSB), pela atuação no combate à pandemia de Covid-19, durante o depoimento do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) na CPI da Covid nesta terça-feira (22).
Terra criticou a estratégia adotada pelo Executivo estadual, que determinou restrições que, segundo ele, não reduziram o número de mortos pela doença – mais de 11 mil capixabas perderam a vida devido ao novo coronavírus. Em resposta, o senador defendeu Casagrande, apontando que o Estado tem sido um "exemplo" no enfrentamento à pandemia e afirmando que, "ao contrário do presidente da República", Casagrande não é "negacionista".
Contarato está de saída da Rede e negocia com o PT para se filiar à sigla para concorrer ao governo do Estado no ano que vem. O senador recebeu o convite oficial em um encontro com o ex-presidente Lula, em Brasília, no dia 4 de maio. O parlamentar ainda não tomou uma decisão sobre a migração para a legenda.
Já Casagrande é dado como certo na disputa pela reeleição, concorrendo pelo PSB. Assim como Contarato, o socialista tem criticado a atuação do governo federal na gestão da pandemia de Covid-19. Em âmbito nacional, PT e PSB se aproximam e conversam sobre uma possível aliança no próximo pleito, o que pode ameaçar os planos do senador no Estado.
Último a fazer perguntas ao deputado Osmar Terra nesta terça, Contarato citou o número de mortos por Covid-19 em países com populações similares à brasileira, como Indonésia, Paquistão, Nigéria e Bangladesh, que oscilam entre 163 milhões e 270 milhões de habitantes, e registram de 2 mil a 54 mil mortos pela doença. O Brasil, com 211 milhões de habitantes, já ultrapassou a marca de meio milhão de mortos.
O deputado federal, então, responsabilizou governadores pelo avanço da doença e afirmou que o distanciamento social não é uma forma eficaz de prevenção à Covid-19, o que contradiz as orientações dos órgãos de saúde. A eficácia do isolamento social foi comprovada por estudos nacionais e internacionais, como os que foram feitos em Araraquara, no interior de São Paulo, e por pesquisadores britânicos, que analisaram dados de 131 países que adotaram a estratégia.
"Eu não aceito quem acha que trancando as pessoas em casa, fechando as lojas, fazendo lockdown e quarentena está se fazendo ciência", afirmou Osmar Terra.
"Essa cota aí das mortes temos que analisar qual a importância dos governadores. Ou os governadores não têm importância nenhuma? Sumiram os governadores? É só o presidente que comanda alguma coisa? Ou a estratégia que foi feita no Espírito Santo, que é um Estado muito comprometido, com um número elevado de mortes, acho que até pela vizinhança que tem com o Rio de Janeiro, que foi muito comprometido também. Mas o Espírito Santo é um Estado que está entre os que têm os maiores números de morte no Brasil", acrescentou.
Com 11.327 mortos, o Estado é o 14º no ranking de mortes totais e 7º no número de mortes a cada 100 mil habitantes, de acordo com levantamento do site Congresso em Foco.
Contarato saiu em defesa da atuação do governo estadual. "O governador Casagrande tem feito o enfrentamento. Ao contrário do presidente da República, ele não é negacionista, acredita na ciência. Se for necessário lockdown, faz, se for necessário distanciamento, faz, utilização de máscara, faz. Agora, esse governo não acredita em distanciamento social, não acredita em vacina e difunde a utilização de vermífugo, de hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, e é contra a vacina, nega a ciência", rebateu.
"O senhor está falando do Espírito Santo, o Espírito Santo está tendo comprometimento com o principal bem jurídico, que é a vida humana, o que não aconteceu com o governo federal, do qual Vossa Excelência fez parte", completou Contarato.
O Espírito Santo não chegou a adotar o modelo de lockdown durante a pandemia de Covid-19. Mesmo durante a quarentena mais rigorosa no Estado, no mês de março deste ano, serviços essenciais, como supermercados e farmácias, continuaram funcionando.
Contarato ainda criticou, durante a participação na reunião da CPI desta terça, a estratégia do senador Marcos Rogério (DEM-RO) de apresentar um vídeo de janeiro do ano passado, em que o médio Dráuzio Varella defendia uma "manutenção" da rotina mesmo diante da Covid-19.
A gravação, no entanto, é antiga, de quando o epicentro da doença ainda era a China. Em abril, três meses depois, o médico admitiu ter subestimado a doença e, desde então, defende as medidas de isolamento e a urgência da vacinação.
O uso do vídeo, de forma descontextualizada, causou discussão entre os parlamentares. Marcos Rogério é um dos senadores governistas que mais usa o tempo de fala na CPI para defender o governo federal. Contarato, embora não seja titular nem suplente do colegiado, pode fazer perguntas aos depoentes após os membros da comissão.
"Tem uma expressão muito simples. Eu creio que o tiro saiu pela culatra quando utilizaram esse vídeo do Dráuzio Varella querendo justificar todos os erros do governo Bolsonaro, que tem essa digital nas 503 mil mortes. Eu não tenho dúvida. Se o Estado brasileiro, através do MPF, não tiver a hombridade de deflagrar um crime de responsabilidade do presidente, o Tribunal Penal Internacional assim o fará", disse o senador capixaba.
A CPI poderá encaminhar relatório ao Tribunal Penal Internacional (TPI), estabelecido em Haia (Holanda), sobre a atuação do presidente durante a pandemia.
A CPI da Covid tem como objetivo apurar as ações e possíveis omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia de Covid-19. Os senadores já ouviram ex-ministros, integrantes do Ministério da Saúde, especialistas, representantes da Anvisa e da Pfizer e aliados do presidente.
Por movimentação da base governista, o objetivo do colegiado também inclui apurar o uso de verbas repassadas pelo governo federal para o combate à pandemia por governadores e prefeitos. O Supremo Tribunal Federal (STF), no entanto, decidiu que os governadores não podem ser convocados para depor, porque a convocação de chefes do Executivo extrapola a competência dos senadores.
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