Enquanto o Brasil registrava mais de 420 mil mortes causadas pela Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) resolveu fazer um passeio de moto, no domingo (9). Sem máscara, cumprimentou apoiadores, em meio a uma aglomeração. Depois, retornou ao Palácio da Alvorada. Não foi a primeira vez que o chefe do Executivo federal subestimou a doença e descumpriu medidas que evitam o contágio pelo novo coronavírus.
Ele fez isso pelo menos outras 13 vezes em meio à pandemia, de acordo com levantamento realizado pela reportagem de A Gazeta. Nas ocasiões, situações em que o presidente provocou aglomerações, ele e a maioria das pessoas no entorno não usavam máscara.
Especialistas alertam que, com a minoria da população vacinada, o distanciamento social ainda é a maneira mais eficaz de controlar o avanço da pandemia e evitar mais mortes por Covid-19. E o uso de máscara é indispensável. Veja as aglomerações promovidas por Bolsonaro.
Na aglomeração mais recente, após passeio de moto, na manhã deste domingo (9) do Dia das Mães, o presidente Jair Bolsonaro retornou ao Palácio da Alvorada e, sem máscara, os cumprimentou com apertos de mãos, abraços e tirou selfies. Na imagem postada pelo mandatário, é possível ver aglomeração e várias pessoas sem máscara ou fazendo uso inadequado da proteção.
Na última quinta-feira (6), o presidente avisou sobre o passeio durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais e disse que esperava a presença de cerca de mil apoiadores do governo. Aos simpatizantes, Bolsonaro disse que o passeio de moto deve se repetir em outras cidades. Citou São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Segundo o presidente, o ato foi uma demonstração de amor à pátria.
No dia 21 de março, em um dos piores momentos da pandemia de Covid-19 no Brasil, o presidente comemorou seu aniversário com centenas de apoiadores aglomerados, que cantaram parabéns e cortaram um bolo para ele em frente ao Palácio da Alvorada. Na ocasião, aproveitou para fazer um discurso atacando governadores que tomam medidas restritivas para tentar conter o avanço da crise sanitária.
No mesmo dia em que o presidente celebrava em meio aos apoiadores, o Brasil registrava, até então, maior média de óbitos por Covid-19. Considerando os sete dias anteriores daquela semana, morreram, em média, 2.255 pessoas por dia em decorrência da doença, de acordo com dados do consórcio de veículos de imprensa.
Em 24 de fevereiro, Bolsonaro viajou até o Acre e visitou a cidade de Rio Branco. Ele foi ao Estado para sobrevoar as regiões atingidas por alagamentos. O Acre vivia um momento crítico, com surto de Covid-19 e enchentes. Na data, o país registrou 1.433 mortes pela Covid-19, chegando ao total de 250.079 óbitos
O presidente e demais autoridades que o acompanhavam na visita ao Estado não usavam máscara e promoveram aglomeração em diversos locais, o que está proibido durante a pandemia. Posteriormente, o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Acre acionaram a Procuradoria-Geral da República para pedir a responsabilização do presidente Jair Bolsonaro e de outras autoridades federais por crimes contra a saúde pública, após visita.
No dia 19 de fevereiro, Bolsonaro esteve na Paraíba e voltou a se aglomerar com apoiadores. Ele circulou sem máscara e cumprimentou apoiadores em Boqueirão, cidade da região Metropolitana de Campina Grande. O próprio presidente divulgou as imagens nas redes sociais. Ele disse que fez uma "parada não programada".
No vídeo, Bolsonaro aparece diante de apoiadores que gritam "mito". Ele também toma um refrigerante em uma lanchonete, causando aglomeração em um local fechado, o que é um dos principais agravadores da pandemia de Covid-19. Na data, o Brasil se aproximou de 245 mil morte em função da Covid-19.
Apesar do cancelamento do carnaval se 2021 na maioria das cidades do Brasil, Bolsonaro voltou a descumprir os protocolos sanitários, provocando aglomerações no litoral de Santa Catarina, onde se hospedou com a família e a comitiva presidencial.
Os vídeos publicados em redes sociais de apoiadores e filhos mostram o presidente gerando aglomerações e participando de mergulhos, pesca e passeios de barco e jet ski, na região de São Francisco do Sul. Enquanto isso, o Brasil superava a marca de 240 mil mortos pela Covid-19. Nos dias do carnaval o Brasil alcançou a marca de 240 mil mortos pela Covid-19.
O carnaval não foi a primeira vez que o presidente causou aglomerações no litoral brasileiro. O presidente foi passar o feriado de ano novo em Praia Grande, município do litoral de São Paulo. Em mais de um dia Jair Bolsonaro gerou aglomeração na orla do local. Sem máscara, ele se aproximou de banhistas após saltar de uma embarcação e nadou em direção à faixa de areia, momento em que foi cercado por admiradores.
Um vídeo com registros da passagem pelo local foi publicado no próprio perfil do presidente em redes sociais. Na gravação, vestido com uma camiseta do Santos, ele é recebido com gritos de apoiadores e se aproxima de dezenas de pessoas, que estavam igualmente sem máscara e tampouco respeitavam as recomendações de distanciamento social. Ainda em sua estadia no local, ele chegou a tirar fotos e abraçar crianças e idosos. No primeiro dia do ano o país registrou 1.433 mortes pela Covid-19, chegando ao total de 250.079 óbitos
No dia 23 de setembro e 29 de novembro, quando visitava a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em Resende, interior do Rio de Janeiro, Bolsonaro seguiu a pé até um trailer que vende o cachorro-quente que costumava comer durante o período que viveu na cidade, quando era militar da ativa. Nas duas oportunidade o presidente não utilizou máscara e provocou aglomeração em torno do trailer ao tirar fotos com simpatizantes. No dia 29 de novembro chegou ao total de 172.848 óbitos desde o começo da pandemia.
Em março, o presidente já tinha provocando aglomeração em um estabelecimento similar de Brasília.
A pandemia do coronavírus fez o desfile cívico-militar de 7 de Setembro ser cancelado, mas não impediu o presidente de se aglomerar na data. Jair Bolsonaro participou de uma solenidade no gramado do Palácio da Alvorada
Ele e a primeira-dama Michelle Bolsonaro provocaram aglomeração ao cumprimentar e fazer fotos com apoiadores. Até 800 pessoas tiveram autorização para assistir à cerimônia. No feriado, o país registrou 315 mortes pela Covid-19 , chegando ao total de 127.001 óbitos.
No dia 3 de setembro, Bolsonaro esteve em Pariquera-Açu, interior de São Paulo, em um evento presencial para apresentar a cerca de 2 mil pessoas um projeto de uma ponte. Houve aglomeração e dezenas de pessoas estavam sem máscara, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o ministro da Justiça, André Mendonça
Apoiadores de Bolsonaro se aglomeraram nas grades de proteção para abraçar e tirar fotos com o presidente antes e depois da cerimônia. Nesta data o Brasil registrou 830 mortes pela Covid-19, chegando ao total de 124.729 óbitos.
Em sua primeira agenda externa após ser diagnosticado com Covid-19, no início de julho, o presidente Jair Bolsonaro foi recebido por dezenas de pessoas ao desembarcar no aeroporto de São Raimundo Nonato, no Piauí, no dia 30. No início, Bolsonaro usava máscara no rosto, mas logo deixou-a abaixo do queixo enquanto era cercado por apoiadores, alguns deles sem proteção sobre boca e nariz – em descumprimento ao que orienta a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ao sair do aeroporto, Bolsonaro usou um chapéu de vaqueiro branco, montou em um cavalo e acenou para as pessoas que o chamavam de “mito”. Enquanto isso, o Brasil registrou 1.189 mortes pela Covid-19 na data, chegando ao total de 91.377 óbitos
Novamente sem máscara, o presidente visitou um mercado de Brasília no dia 22 de junho. No pequeno espaço, Bolsonaro atendeu clientes e se aglomerou. Devido à quantidade de pessoas no local, o presidente não conseguiu passar pelo caixa com os produtos.
Além dessa oportunidade, Bolsonaro marcou presença algumas vezes em outros estabelecimentos comerciais no Distrito Federal e, sem máscara, se aglomerou com apoiadores e curiosos. Nesse dia o Brasil ultrapassou a marca de 50 mil mortes por coronavírus.
No dia 31 de maio, o presidente Jair Bolsonaro requisitou um helicóptero oficial para sobrevoar a Esplanada dos Ministérios e prestigiar mais uma manifestação a favor de seu governo e contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso. Depois, desceu e caminhou para cumprimentar seus apoiadores que estavam em frente ao Planalto.
Ele não utilizava máscara, obrigatória no Distrito Federal como medida de combate à Covid-19. Em seguida, andou a cavalo diante de manifestantes. No mesmo dia o país atingia a marca de 29.341 mortes provocadas pela doença.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro participa de manifestação de apoiadores em Brasília. No dia 24 de maio, quando a primeira onda da pandemia estava em plena ascensão no país, o presidente foi ao encontro de apoiadores em um ato esvaziado em frente ao Palácio do Planalto.
Com a direito a chegada de helicóptero e caminhada pela via em frente à Praça dos Três Poderes, Bolsonaro ficou meia hora no local e, por seis vezes, percorreu a grade de segurança para cumprimentar os manifestantes. O presidente e grande parte dos apoiadores estava sem máscara. Nessa mesma data a pandemia já registrava 22.746 mortes.
Em 9 de maio, Bolsonaro causou polêmica ao anunciar que faria um churrasco em meio ao aumento exponencial de mortes por Covid-19. O churrasco de Bolsonaro estava marcado para o mesmo dia em que o país soma 10 mil mortos por conta do coronavírus. O presidente resolveu cancelar a comemoração. Ao invés disso, o chefe do Executivo aproveitou para curtir o dia passeando de jet ski no Lago Paranoá.
Dentro do lago, o presidente foi abordado por outras pessoas. Ao estacionar no píer, ainda na água, Bolsonaro tirou selfies com apoiadores que se aproximaram. A maioria sem máscara.
Na avaliação do cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Arthur Leandro, agindo dessa forma o presidente reforça e fideliza o apoio do segmento da população que espera esse tipo de conduta. O especialista acredita que o presidente deve seguir promovendo esse tipo de aglomeração.
“Ele fez toda a sua carreira política no confronto, se ele muda sua conduta ele pode ver desmanchar parte desse capital político que espera que ele ignore a pandemia e as recomendações sanitárias. Ele não vai parar de fazer isso. Ele só para se for obrigado”, destacou.
Na visão de especialistas, as aglomerações promovidas por Bolsonaro são um grande problema para o enfrentamento à Covid-19 no Brasil. A pós-doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel aponta o risco para quem participa desse tipo de atividade.
“Nós já sabemos que a forma mais importante é a transmissão pelo ar, que as pessoas precisam usar máscaras até mais filtrantes. Então o presidente que dá esse mau exemplo comunica para a população que você pode se aglomerar sem estar protegido. Isso faz com que as pessoas sejam colocadas em risco e pode levar à morte”, afirmou.
A avaliação é reforçada pelo doutor em Doenças Infecciosas e professor da Emescam Lauro Ferreira Pinto. O médico lembra que além de colocar em perigo quem participa das aglomerações, o presidente ainda coloca em perigo todas as estratégias de prevenção ao coronavírus no país, já que é uma liderança e uma liderança que insiste em difundir exemplos negativos no enfrentamento à Covid-19.
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