O senador Fabiano Contarato (Rede) criticou, durante a sessão da CPI da Covid, nesta quarta-feira (5), a postura de senadores que defenderam o uso de medicamentos sem comprovação científica como "tratamento precoce" contra o novo coronavírus. Contarato disse que alguns dados apontados pelos colegas, que usam como referência a relação entre o uso das drogas e o número de óbitos em locais específicos, não podem ser utilizados como respaldo científico, e pediu respeito aos cientistas.
A discussão sobre o uso ou não, sobretudo, da cloroquina no contexto da pandemia de Covid-19 permeou grande parte da reunião do colegiado no Senado, durante o depoimento do ex-ministro da Saúde Nelson Teich, com posicionamentos de vários senadores. Contarato, antes de questionar o ex-titular da pasta, se posicionou sobre o debate.
"Você pode efetivamente ter a utilização de um medicamento em uma determinada cidade e diminuir o número de óbitos, mas isso não é comprovação científica. Se não, nós estamos aqui acabando com a ciência. Quem faz ciência são os cientistas, dentro de laboratório, com seus pares. Por favor! Daqui a pouco nós vamos estar defendendo que a terra é plana", afirmou Contarato, em menção às manifestações dos colegas.
Colega de bancada de Contarato, Marcos Do Val (Podemos) foi um dos parlamentares que questionaram o posicionamento do médico – que é contra a prescrição das drogas.
Mantendo a postura de oposição ao governo federal, Contarato fez críticas à gestão Bolsonaro, afirmando que "a digital desse governo nessa quantidade de óbito já está impregnada" e que a responsabilidade não seria apenas do presidente, mas também de seus ministérios.
"Essas são mortes evitáveis. Nós estamos falando de gente morrendo todo dia no Brasil já tendo vacina para aplicar. Quem dizia 'é só uma gripezinha', 'não passa de 200 mortes', 'cloroquina resolve', 'gente morre todo dia', 'eu obedeço ao comandante' essas pessoas são responsáveis por estar sendo violado o maior bem jurídico, que é vida humana", disse, referindo-se a frases ditas pelo presidente e alguns dos membros do primeiro escalão do governo.
Os questionamentos feitos pelo parlamentar ao ex-ministro envolviam a tentativa do presidente de alterar os protocolos do Sistema Único de Saúde (SUS) para ampliar o uso da cloroquina em pacientes com sintomas leves; se o médico havia alertado Bolsonaro quanto à necessidade de obedecer aos protocolos sanitários de saúde como o distanciamento e o uso da máscara; o direcionamento de verbas da União para publicidade de medidas econômicas e não de medidas preventivas; e quanto à transparência dos dados fornecidos pelo Ministério da Saúde sobre a doença.
Teich não respondeu a todos os questionamentos, porque alguns temas já haviam sido abordados em outras perguntas. Disse que em relação ao isolamento social a posição era "trabalhar os critérios e trazer para um programa de controle de transmissão". O ex-ministro afirmou que, com a polarização política, questões técnicas acabaram se tornando políticas.
"Não era uma posição radical de ser a favor ou ser contra tudo. O problema da Covid é que tem ações específicas que tem que ser dirigias por informações e situações do momento. E a abordagem radical de ser a favor ou contra lockdown, naquele momento, até foi uma coisa ruim, porque transformou uma coisa que deveria ser técnica em política", afirmou Teich.
Contarato, que não é membro da CPI da Covid, pode fazer questionamentos durantes as oitivas do colegiado, assim como os demais senadores. No primeiro dia de depoimento, na terça-feira (4), o senador capixaba não fez perguntas para o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
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