O segundo dia do julgamento do assassino do ex-governador Gerson Camata, Marcos Venicio Moreira Andrade, começou nesta quarta-feira (4) e o destino dele vai ser definido por um júri composto por sete mulheres, além do juiz que conduz o caso, Marcos Pereira Sanches.
A defesa e o próprio réu não negam que ele cometeu o crime. Marcos Venicio já confessou diversas vezes ter atirado contra Camata. A discordância entre defesa e acusação está em dois pontos: se o réu premeditou o homicídio e o motivo que o levou a matar o ex-governador, que também foi senador da República. Marcos Venicio trabalhou como assessor de Camata por 20 anos.
"Se ele for condenado por homicídio simples, a pena pode ter uma série de condicionantes que possibilite a defesa a pedir progressão de regime para que ele cumpra pena no semiaberto. Como já está preso há três anos, possivelmente, no final do ano ou no início do próximo ano já estaria solto", resumiu o promotor de Justiça Rodrigo Monteiro, nesta quarta, durante sustentação no julgamento.
"O que queremos não é a execração dele, queremos que ele apenas pague pelo que fez. Se condenado por homicídio duplamente qualificado, possivelmente, só poderá pedir a progressão de pena com 10 anos na tranca", complementou.
O Ministério Público Estadual (MPES) denunciou Marcos Venicio por homicídio qualificado por motivo torpe com recurso que dificultou a defesa da vítima. Camata foi assassinado no dia 26 de dezembro de 2018 em uma calçada da Praia do Canto, em Vitória. Nas mãos, levava uma sacola de pães e um livro.
Para o MPES e os advogados assistentes da acusação, Marcos Venicio cometeu o crime devido a uma rixa com Camata, motivada pelo bloqueio de R$ 60 mil na conta bancária do réu.
Em 2009, Marcos Venicio acusou, em entrevista ao jornal "O Globo", o então senador das práticas de caixa dois e rachid – ou rachadinha, que é ficar com parte dos salários dos servidores.
Essas acusações nunca foram provadas e Camata processou o ex-assessor por danos morais. Como consequência, a Justiça bloqueou o valor na conta do réu.
O chef de cozinha Cassinho Ayres ouviu parte do que disse o assassino, pouco antes de o tiro ser disparado. "Mas eu me sinto roubado", disse Marcos Venicio a Camata, de acordo com Cassinho.
Já a defesa e o próprio réu sustentam que nada foi planejado e que Marcos Venicio apenas levaria a arma à Polícia Federal para regularização, quando deparou-se com Camata e o chamou para conversar.
Em depoimento diante do juiz e do júri, o réu disse que foi tratado de forma ríspida por Camata e então atirou.
Maquinhos, como é conhecido, não tem porte de arma e o registro de posse estava vencido. Ele também não tinha autorização para transportar a arma até a unidade da PF.
A defesa alega, ainda, que não foi o bloqueio de bens ou a "ganância" que motivou o homicídio. E sim uma relação conflituosa que o réu mantinha com Camata.
Marcos Venicio se sentia desprestigiado pelo ex-chefe, principalmente considerando que foi, durante muitos anos, um amigo da família.
Assim, cometeu o crime, em tese, "por relevante valor moral".
Após os debates entre acusação e defesa, o júri vai responder ao menos quatro perguntas, cujas respostas devem ser sim ou não.
- Houve o crime?
- Se sim, quem matou?
- O réu deve ser absolvido?
- Se não, a tese da defesa deve ser aceita?
- Pode haver ainda uma quinta pergunta, sobre condicionantes do crime, mas isso o juiz deve definir depois.
Assessor de Camata por 20 anos, Marquinhos foi denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPES) pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima.
Em 2019, o ex-assessor confessou o crime em interrogatório prestado ao juiz Felipe Bertrand Sardenberg Moulin, da 1ª Vara Criminal de Vitória. Na ocasião, afirmou que não premeditou o crime e que saber que tirou a vida do ex-chefe é uma “tortura diária”. "O presídio é muito duro, mas mais duro ainda é saber que tirei a vida dele", disse Marcos Venicio, de acordo com a transcrição das declarações prestadas por ele em juízo, na época.
Marcos Venicio foi detido em flagrante horas depois do assassinato e, no dia seguinte, a prisão foi convertida em preventiva. Ele é mantido no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Viana II.
O crime ocorreu no dia seguinte ao Natal, em 26 de dezembro de 2018. Gerson Camata havia acabado de comprar um livro e cumprimentava conhecidos em uma calçada na Praia do Canto, em Vitória, quando foi abordado por Marcos Venicio, ex-assessor dele. Aos 77 anos, o ex-governador foi morto com um tiro, um crime que chocou o Espírito Santo.
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