Durante as campanhas eleitorais, no horário eleitoral gratuito, nos santinhos ou mesmo no dia a dia das ruas, muitos candidatos optam por vestir cores claras, usar camisas com mangas dobradas ou até mudar o corte de cabelo. Em uma época de campanhas mais curtas, os elementos visuais podem fazer a diferença na hora de conquistar votos.
Essa construção não é um processo simples ou do mero acaso. Cada elemento tem um significado. Claro! Muita coisa pode não ser planejada antes de a mensagem ser transmitida. Para alguns, a falta de estratégia pode acabar dando certo. Mas para outros o resultado pode desagradar e ser tarde demais.
Para compreender o que ocorre na prática, a reportagem de A Gazeta observou propagandas eleitorais dos catorze candidatos à Prefeitura de Vitória em 2020. E contou com a ajuda de especialistas.
A consultora de imagem e estilo Iara Quaresma lembra, de antemão, que não há certo ou errado tratando-se de cores, e sim o que se deseja comunicar e com quem se está comunicando.
Aposta de candidatos como João Coser (PT), Gandini (Cidadania), e Sérgio Sá (PSB), a camisa azul-claro costuma aparecer com frequência nos programas eleitorais. Em termos de cor, para Priscila Nalesso, consultora de imagem e estilo, o azul traz autoridade. Seu tom claro, serenidade. Já para Letícia Chieppe, azul é um meio neutro de cor e passa ainda leveza e integridade.
As peças na cor branca também são apostas recorrentes dos candidatos. Mazinho (PSD) é um exemplo dessa escolha. Chieppe afirma que o branco é um tom neutro suave. Segundo Iara Quaresma, o branco também pode ser atribuído à paz e à espiritualidade.
Quaresma pontua que a estrutura da camisa depende de um conjunto. O candidato pode vestir uma camisa social e comunicar postura e credibilidade, porque ela tem um tecido mais plano.
Para mesclar a identidade de inacessibilidade que a camisa pode transmitir, uma opção é usar com uma calça jeans e um tênis, por exemplo.
De acordo com a consultora, a camisa gola polo, opção escolhida por Halpher Luiggi (PL) e Gilbertinho Campos (PSOL), passa a ideia de ser mais estruturada, mas conta com tecido maleável. Já Nalesso destaca que esse tipo de camisa, por ser menos social que a primeira, confere ar de acessibilidade, fator importante ao longo da campanha.
Segundo as consultoras de estilo, este é um item que requer atenção. Letícia Chieppe ressalta que uma camiseta de malha, estampada, por exemplo, pode ficar despojada demais. Ela complementa que, se o candidato for jovem, a vestimenta pode gerar uma imagem de imaturidade. Priscila Nalesso alerta que camisas de times de futebol ou com estampas devem ser evitadas por quem se preocupa com a imagem em meio à campanha.
Outro elemento bastante comum são as mangas dobradas, sejam elas em camisas sociais ou até mesmo jeans. Para Chieppe, este é um elemento interessante porque demonstra disponibilidade. Segundo ela, quanto menos pele está à mostra, menor é a conexão estabelecida. Priscila destaca que mangas assim dispostas conotam ainda acessibilidade, além de conferirem também mais casualidade ao conjunto e ideia de mangas arregaçadas para o trabalho.
E quanto aos cabelos? A candidata Neuzinha (PSDB), por exemplo, cortou os fios durante a campanha. Para Iara, o visual do cabelo precisa ser pensado como parte do conjunto de imagem.
Se não estiver tão alinhado quanto as roupas, por exemplo, pode transmitir sentimento de desleixo. Já Priscila, destaca que a imagem comunica do cabelo aos pés. O cabelo mais curto, por exemplo, pode conferir ar de leveza.
Para o cientista político Ricardo Caldas, as roupas e o visual são os últimos pontos da estratégia a ser traçada. Cada pessoa já tem uma imagem pública. Mesmo quem nunca teve muita visibilidade midiática já tinha alguma perante a família, a vizinhança, o bairro. Há uma imagem pré-existente, expõe.
Nossa imagem chega antes de falarmos. Tudo requer conteúdo e, se a imagem não for confirmada com o conteúdo, ela se perde, avalia a consultora de estilo Iara Quaresma.
No universo da política costuma-se buscar o candidato mais bem preparado, alguém com credibilidade e força, por exemplo. Ela afirma que, ao pensarmos no candidato escolhido, a imagem transmitida por ele precisa reforçar tudo o que destacamos como qualidades em um momento anterior, para que não haja incoerência.
Não se pode falar uma coisa e visualmente apresentar outra. Também não adianta criar um personagem, porque a captação da imagem se torna falsa. O ideal para os candidatos é alinhar quem são com os propósitos que têm, complementa Quaresma.
Não dá para improvisar mesmo. O professor de Comunicação Política da Universidade Mackenzie Roberto Gondo ressalta que em uma campanha eleitoral com duração de 45 dias, como nas eleições 2020, há pouco tempo para construir uma identidade.
A construção da imagem de um candidato não fica só voltada às vestes, ela também tem uma característica voltada à atitude. Por isso, candidatos que já têm um histórico saem na frente em relação aos que são candidatos pela primeira vez, pontua.
Para construir a imagem desejada, segundo o cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira, os candidatos precisam partir de duas premissas fundamentais. A construção da imagem parte da utilização da pesquisa qualitativa para identificar como o eleitor vê aquele candidato. Em seguida, faz-se um reposicionamento, ou mesmo um aperfeiçoamento com o reforço da imagem, expõe, destacando ainda que narrativa e imagem precisam caminhar juntas.
Caso a imagem apresentada seja construída apenas em pesquisas, sem se concretizar, na realidade, as intenções de voto podem despencar. Neste sentido, Ricardo destaca ainda que os candidatos precisam alinhar discurso e imagem à expectativa do eleitorado e que a construção do conteúdo é que vai gerar essa imagem. Um médico, por exemplo, atuante na área social, poderá vestir sempre branco. Isso reforçará a visão do eleitor, destaca.
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