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De 268 candidaturas, apenas cinco mulheres conseguiram se eleger no ES

De 268 candidaturas, apenas cinco mulheres conseguiram se eleger no ES

Quatro deputadas estaduais, entre 30 vagas na Assembleia, e uma deputada federal, entre 10 vagas na Câmara, saíram vitoriosas na disputa eleitoral

Publicado em 10 de outubro de 2022 às 18:50

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Apenas cinco mulheres conseguiram se eleger no ES
Jack Rocha, Camila Valadão, Iriny Lopes, Raquel Lessa e Janete de Sá foram eleitas. (Montagem / A Gazeta)

O incentivo à participação de mulheres na política foi tema de campanhas nacionais e destaque nas eleições de 2022. A mobilização buscava encorajar mais candidatas a irem atrás de um lugar na política. No Espírito Santo, houve um pequeno aumento de candidaturas femininas. Foram 268 este ano contra 261 em 2018, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No entanto, nas urnas, esse incentivo pouco fez efeito às candidatas que concorreram aos cargos de deputada estadual, deputada federal, senadora e vice-governadora. Depois da votação do dia 2 de outubro, apenas cinco mulheres foram eleitas no Estado.

De 268 candidaturas, apenas cinco mulheres conseguiram se eleger no ES

Das 30 vagas na Assembleia Legislativa (Ales), quatro serão ocupadas por mulheres. Três delas já exercem mandato e conseguiram se reeleger: Iriny Lopes (PT), Raquel Lessa (PP) e Janete de Sá (PSB). Na próxima legislatura, elas ganharão a companhia de Camila Valadão (PSOL). A vereadora de Vitória chegará à Casa de Leis como a deputada estadual mais votada no Espírito Santo, com 52.221 votos.

No Congresso Nacional, porém, a participação feminina capixaba vai encolher. A partir do próximo ano, três mulheres sairão da bancada do Espírito Santo na Câmara dos Deputados. As três deputadas federais que disputavam a reeleição — Norma Ayub (PP), Soraya Manato (PTB) e Lauriete (PSC) — foram derrotadas. 

Assim, Jack Rocha (PT) será a única mulher do Estado na Câmara dos Deputados a partir de 2023. Ela também é a primeira mulher preta eleita como deputada federal na história capixaba, com 51.317 votos.

Outra representante feminina do Estado não conseguiu se reeleger. Rose de Freitas (MDB) perdeu a disputa pela única vaga para o Senado, por uma diferença de pouco mais de 74 mil votos, para Magno Malta (PL).

Para o governo do Estado, nenhuma mulher disputava o cargo. Mas havia três integrando chapas como vice-governadoras, todas em candidaturas que não avançaram ao segundo turno: Camila Domingues (Novo), Soraia Chiabai (PSTU) e Tenente Bombeira Andresa (Solidariedade). 

SEM GRANDES MUDANÇAS DESDE 2006

Analisando os dados desde 2006, houve poucas mudanças na representação feminina capixaba na política. Nas eleições daquele ano, o TSE não tem dados de quantas candidaturas de mulheres foram registradas, mas houve seis eleitas: três como deputadas federais e outras três para estadual. Em 2010, o TSE registrou apenas 69 mulheres na disputa eleitoral no Estado, das quais 5 foram eleitas, sendo três deputadas federais e duas estaduais.

Em 2014, Rose de Freitas se elegeu como senadora e mais quatro foram vitoriosas como deputadas estaduais: Janete de Sá, Luzia Toledo, Raquel Lessa e Eliane Dadalto. Assim, cinco mulheres foram eleitas, dentre 247 candidatas. 

Em 2018, foram 261 candidaturas femininas, e seis mulheres conseguiram se eleger: três deputadas estaduais (Janete de Sá, Iriny Lopes e Raquel Lessa) e três deputadas federais (Soraya Manato, Lauriete e Norma Ayub). 

CENÁRIO NACIONAL

Em um cenário nacional, a próxima Legislatura, que começa em 2023, terá um número menor de mulheres nas cadeiras do Senado Federal: 10. No início da Legislatura anterior, em 2019, eram 12. Apenas quatro senadoras foram eleitas este ano: Damares Alves (Republicanos-DF), Professora Dorinha (União-TO), Teresa Leitão (PT-PE) e Tereza Cristina (PP-MS).

Das atuais dez titulares, seis mantêm-se no cargo até 2027. Somadas às eleitas, serão 10 senadoras a partir de 2023 (12,3% do total de parlamentares). O número pode se alterar caso o senador Jorginho Mello (PL-SC) seja eleito governador no segundo turno em Santa Catarina, o que tornaria titular a suplente Ivete da Silveira (MDB-SC).

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou neste ano 53 candidatas ao Senado, percentual que alcançou 22,5% dos concorrentes à Casa.

O índice ficou abaixo do mínimo de 33% esperado para as candidaturas femininas em todos os cargos, mas subiu quando comparado a 2018, ano em que as mulheres foram 17,6% das candidaturas ao Senado.

Na Câmara dos Deputados, a bancada feminina será maior que a atual. Em 2018, foram eleitas 77 mulheres (15% do total de deputados). Neste ano, foram 91 deputadas eleitas, o que representa 17,7% do total.

PORQUE A REPRESENTATIVIDADE FEMININA AINDA É PEQUENA? 

Apesar dos incentivos e de a maior parte do eleitorado ser feminino (52,65%), mulheres continuam tendo menor representação na política. Para a mestre em Desenvolvimento Econômico e Política pela Universidade de Columbia (Estados Unidos), Isabela Rahal, a política no Brasil é um "clube de homens}", o que dificulta a renovação de cadeiras nos diferentes cargos e, consequentemente, afasta a presença feminina.

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Há boicote por parte dos partidos, além da falta de apoio. Apesar de haver uma lei que obriga que 30% das candidaturas sejam de de mulheres, poucas têm recursos para disputar. E outras são obrigadas a repassar recursos para os homens. A gente sabe que eleição é feita de lideranças políticas que apoiem candidatos, o que é difícil para a mulher, pois sabemos que a política é um clube de homens, que tendem a se ajudar

Isabela Rahal
Mestre em Desenvolvimento Econômico e Política pela Universidade de Columbia (EUA)
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Ainda de acordo com a especialista, falta informação e ambição de mulheres para almejar um lugar na política. "Elas passaram a vida inteira escutando que não eram líderes. A gente viu este ano uma eleição mais difícil que em 2018, pois as pessoas não estavam buscando renovação", declarou. 

Isabela Rahal ainda acrescenta que o salto no número de mulheres eleitas em 2018 não aconteceu em 2022. Segundo a especialista, os partidos não se preocupam em investir na formação de mulheres, em trazê-las para quadros internos e em incentivar que queiram estar em cargos de lideranças dentro das legendas.

"Então é claro que essas candidaturas vão estar menos preparadas. Quando uma campanha tem menos recursos, não chega longe e tem menos chance de ganhar", acrescentou. 

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