Após a divulgação, nesta sexta-feira (22), do vídeo da reunião entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ministros, alguns parlamentares capixabas consideraram absurdos alguns trechos e afirmaram que as declarações do presidente e dos ministros Abraham Weintraub e Ricardo Salles, da Educação e do Meio Ambiente, respectivamente, demonstram "insensibilidade, "incoerência" ou até "crueldade". Aliados do governo, por outro lado, saíram em defesa de Bolsonaro.
Em um dos trechos da reunião, o presidente diz que não vai esperar alguém da família ou um amigo ser prejudicado para "trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa." Bolsonaro conclui: "Vai trocar! Se não puder troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final!"
Para Amaro Neto (Republicanos), a fala deixa clara a interferência do mandatário na Polícia Federal e agora "cabe à Justiça a interpretação junto às demais provas, dentro do devido processo legal."
O petista Helder Salomão diz que esse trecho prova um "uso da estrutura do Estado para salvar de atos ilícitos seus familiares, amigos e ele próprio." O socialista Ted Conti defende que seja feita uma apuração: "As falas devem ser apuradas de forma aprofundada e correlacionadas aos fatos, para que o assunto seja esclarecido."
O senador Fabiano Contarato (Rede) considerou que o trecho "apresenta a verdade de forma incontestável. Assim, a denúncia do ex-ministro da Justiça (Sergio Moro) está comprovada." Nas redes sociais, Contarato escreveu que o trecho revela o presidente falando "abertamente que queria interferir na PF."
Em um outro momento, o presidente diz que deseja "toda a população armada", sob o pretexto de que assim, não existiria uma "ditadura" por parte de prefeitos e governadores.
O deputado federal Felipe Rigoni (PSB) disse que o vídeo mostra que, para Bolsonaro, a própria opinião está acima de todas e que "armar a população só significa mais mortes, como já é provado cientificamente. Prefeitos e governadores não têm poder para implantar ditaduras. A democracia brasileira é forte o suficiente para impedir esse tipo de autoritarismo", ressalta.
Helder Salomão respondeu que o presidente quer, na verdade, armar os próprios seguidores para ter "milícias armadas que o defendam." Em tom mais brando, Conti disse que a afirmação não surpreendeu: "deixa claras as bandeiras do governo, defendidas durante a campanha, entre elas as políticas armamentistas, portanto a pauta não surpreende."
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, também fez declarações que repercutiram negativamente entre a bancada. Weintraub disse que por ele "estariam todos presos, começando pelo STF." Amaro Neto diz que não é possível aceitar ameaças a nenhum dos Poderes constituídos e que "a manifestação do próprio ministro Celso de Melo é de que é crime."
Ted Conti se diz preocupado porque a postura demonstra que "há uma clara falta de sintonia entre os Poderes, o que é prejudicial ao país, pois precisamos de união neste momento."
No Twitter, Contarato também citou o trecho e disse que o ministro mostra "desprezo pelo Estado de Direito". O senador completa: "É um patético animador de plateia do fascismo, inoculando ignorância odienta nas veias da educação pública."
A fala do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também levantou alerta e preocupação no Congresso. Ressaltando que o coronavírus tem sido o foco das notícias veiculadas pela imprensa, Salles afirmou ser esse momento de "ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De Iphan, de Ministério da Agricultura, de Ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo".
Para Amaro Neto, isso demonstra "insensibilidade e incoerência com as necessidades do país". Rigoni promete que o parlamento não deixará passar reformas que atendam a "políticas de desmatamento defendidas pelo governo são completamente equivocadas e vão na contramão do que fazem diversos países."
Conti reafirma que as reformas precisariam de articulação com o Congresso. "Em relação às reformas, o governo sabe que é preciso uma articulação com o Congresso e, neste momento, a prioridade do Brasil deve ser salvar vidas e atenuar os efeitos do coronavírus."
Em nota, Contarato afirmou que a atitude está mostrando os verdadeiros planos do ministro para o meio ambiente. " Ele é um exterminador do nosso futuro! Agora, todos podem ver e ouvir de viva voz! Ele está propondo aproveitar-se de momento doloroso de luta contra o coronavírus para fazer esse serviço sujo." No Twitter, o senador destacou o trecho e escreveu: "Aproveitar a pandemia para fazer negócios com a Amazônia? O ministro Ricardo Salles disse isto em plena reunião ministerial: que é preciso 'aproveitar'o caos das mortes pra passar 'a boiada' em medidas pró-destruição do Meio Ambiente."
"A fala do Salles é muita crueldade, é tentar aprovar em um momento de dor e sofrimento projetos para retirar direitos do povo", afirmou Helder.
Do outro lado, entre os aliados do governo Bolsonaro, Evair de Melo (PP), um dos vice-líderes do governo na Câmara, afirmou que tem "a missão de manter a chama acessa dentro do Parlamento para as reformas". "Nosso futuro, de nossas famílias , de nossos empregos e de dias melhores passam por elas", diz.
Evair não respondeu se o vídeo enfraquece o presidente no Congresso e negou que o governo tenha se aproximado do Centrão. "A retórica de Centrão é ultrapassada, retrógrada e de certa forma expressa um jargão de quem não conhece o rito legislativo", afirma.
Soraya Manato (PSL) não respondeu aos questionamentos da reportagem, mas no Twitter postou uma mensagem de apoio ao presidente.
O presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, Erick Musso (Republicanos), também usou as redes para se manifestar após a divulgação do vídeo. O parlamentar pediu que a atenção de todos siga no combate ao coronavírus. "Não é que o vídeo da reunião ministerial não seja importante. Ele é importante, sobretudo em tempos em que a transparência se faz tão necessária. Mas não nos esqueçamos do nosso principal inimigo nesses tempos: o coronavírus e sua legião de mortos."
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