Ainda falta muito tempo – quase um ano e meio – para as eleições de 2022 e, no tabuleiro eleitoral, é comum que os movimentos decisivos sejam dados nos últimos minutos de jogo. Ainda assim, com o fim das coligações, um cenário político agitado com pandemia de Covid-19 que impõe medidas restritivas impopulares e uma CPI que investiga o governo federal e governadores, os partidos adiantaram o calendário e, nos bastidores, agem para fortalecer seus quadros para o próximo pleito. E esse é o pano de fundo das conversas entre o PSDB e os deputados federais Felipe Rigoni (PSB) e Da Vitória (Cidadania).
A saída de Rigoni do PSB é oficial e autorizada pela Justiça Eleitoral. Com posicionamentos por vezes divergentes do partido na área econômica, o parlamentar tentava se desvencilhar da sigla desde que sofreu retaliações por votar a favor da Reforma da Previdência, em agosto de 2019.
Já Da Vitória, membro do Cidadania e candidato ao Senado dado como certo por atores políticos do Estado, somente pode trocar de partido na janela partidária, marcada para março de 2022. Trata-se de um prazo de seis meses que antecedem a eleição em que os deputados podem trocar de legenda sem correr o risco de perder o mandato.
Nomes de peso na política capixaba, os dois parlamentares têm sido procurados por siglas que buscam fortalecer os quadros para concorrer ao Legislativo, entre eles o PSDB. No Espírito Santo, os tucanos têm quatro prefeituras e três cadeiras na Assembleia Legislativa, mas estão fora da bancada federal.
Ter representantes no Congresso se tornou ainda mais importante para as siglas desde a aplicação da cláusula de desempenho, dispositivo criado na minirreforma eleitoral de 2017 que cria regras mais restritas para o acesso das legendas ao fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV.
Para 2022, as siglas terão de obter nas eleições para a Câmara dos Deputados 2% dos votos válidos, em um terço dos Estados, com 1% dos votos válidos em cada um deles. Ou, ter eleito 11 deputados, distribuídos em um terço. Ou seja, na prática, existe uma representatividade mínima que as siglas precisam alcançar – que considera um mínimo de votos válidos ou de representantes eleitos para a Câmara – para ter acesso ao fundo partidário e o tempo de propaganda. E quanto maior a bancada, mais dinheiro e tempo de rádio e TV para a campanha.
O movimento da sigla havia sido mencionado pelo ex-prefeito de Vila Velha Max Filho (PSDB) em entrevista A Gazeta no dia 19 de abril. A estratégia do partido, segundo ele, é fortalecer o palanque no Estado para apoiar o projeto nacional do partido, de lançar uma candidatura como "terceira via", em uma frente ampla. "Estamos tentando a filiação de dois deputados federais, Rigoni e Da Vitória. Podemos nos qualificar no sentido de ser uma base para um palanque nacional que aponte para uma terceira via", disse, na ocasião.
As costuras estariam sendo feitas, principalmente, em âmbito nacional. Mas segundo lideranças da sigla, os dois deputados já estiveram com o presidente do diretório estadual, o deputado Vandinho Leite, para uma sondagem. Em reuniões, Vandinho já teria apresentado listas com possíveis candidatos ao Legislativo nacional a capixaba e citado a intenção de atrair os dois parlamentares.
Vandinho foi procurado pela reportagem para se manifestar por telefone e via assessoria. Quem falou pelo partido, no entanto, foi o vice-presidente do diretório estadual, Oziel Andrade. "O PSDB vem dialogando com diversas lideranças do Estado, incluindo os Deputados Da Vitória e Rigoni. Vale lembrar que a janela para mudança de partido é somente ano que vem", afirmou, em nota.
Entre os fatores que motivam as discussões antecipadas para o próximo pleito está o fim das coligações, que mudou toda a configuração das alianças durante as eleições municipais de 2020, primeira realizada após a proibição dos blocos partidários. No modelo que foi proibido, partidos grandes e pequenos podiam se juntar e concorrer em blocos aos cargos do Legislativo. Entre as principais vantagens estava o fato de que coligações grandes tinham direito a mais tempo de propaganda eleitoral em rádio e TV, por exemplo.
Concorrendo sozinhas, as siglas precisam se estruturar para lançar chapas completas de candidatos a deputado federal e estadual, o que aumenta a necessidade de ter nomes de peso para "puxar palanque e voto" para os candidatos.
"Será mais difícil essa próxima eleição. Talvez a gente consiga manter o número de três deputados na Assembleia, mas para deputado federal, pela nossa conta, cada partido vai conseguir eleger um ou no máximo dois. Ou seja, tem que ter nomes de peso para ter chances", admite uma das principais lideranças tucanas no Estado.
Rigoni deve concorrer à reeleição, por isso deve analisar entre as opções de partidos que tem, em qual terá mais espaço para concorrer com favoritismo. Além do PSDB, o parlamentar também está em negociação com o DEM e o Podemos, mas ainda não tomou uma decisão. O deputado tem dito em entrevistas que está interessado em ir para uma legenda em que possa fazer parte de uma "construção conjunta". Além disso, quer integrar uma sigla que seja liberal na economia e progressista nas questões sociais.
Já Da Vitória se movimenta politicamente para tentar se tornar senador. Viajando por todo o Espírito Santo, encontrando-se com prefeitos e líderes partidários, a candidatura do parlamentar é dada como certa no tabuleiro eleitoral.
No caso do Senado, no entanto, é ainda mais difícil. Embora o Espírito Santo tenha três senadores eleitos, apenas Rose de Freitas (MDB) está no final do mandato, por isso, as legendas vão disputar uma única vaga.
Por ser eleição majoritária, ou seja, vence quem tiver o maior número de votos, as alianças são permitidas e nem todos os partidos devem lançar candidatos. Portanto, embora não esteja decidido a sair do Cidadania, a decisão de Da Vitória deve levar em consideração a possibilidade de ser o nome escolhido pelo partido para disputar.
Da Vitória também foi procurado pela reportagem por telefone, mas preferiu mandar uma nota. No texto, diz que não é momento para articulações eleitorais, mas não nega que está conversando com outros partidos.
"O deputado federal Da Vitória considera que este não é o momento de discutir filiação partidária e eleições. Há problemas urgentes no Brasil e no Espírito Santo, como a pandemia e seus efeitos nefastos sobre a economia e a geração de emprego. 'Há um tempo determinado para tratar de eleições, e eu respeito o tempo das coisas', pontuou Da Vitória. O deputado ressalta que possuí relação muito boa com a executiva do PSDB", diz nota enviada pela assessoria do deputado.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta