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De oração a café virtual: as estratégias dos pré-candidatos em tempos de pandemia

De oração a café virtual: as estratégias dos pré-candidatos em tempos de pandemia

Distanciamento social obriga quem vai concorrer pela primeira vez a ser criativo para atrair visibilidade nas redes sociais

Publicado em 6 de setembro de 2020 às 20:53

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Pré-candidatos precisam se reinventar nas redes para aumentar visibilidade em tempos de pandemia
Pré-candidatos precisam se reinventar nas redes para aumentar visibilidade em tempos de pandemia. (Pixabay)

"É como dizem, quem não é visto não é lembrado, não é?", diz, em tom de brincadeira, Lucas Neto (Cidadania). Pela primeira vez pleiteando uma cadeira na Câmara municipal de Guarapari, o pré-candidato enquadra sua participação em eventos virtuais da igreja como uma forma de manter o nome fresco na memória dos fiéis.

Ele sempre foi ativo na comunidade católica e garante que sua presença nas novenas ocorreria mesmo sem campanha. Admite, porém, que intensificou a participação para não perder o contato com amigos e conhecidos da comunidade.

No Norte do Estado, o professor de Sociologia e pré-candidato a vereador de Linhares Antônio César Machado (PV) encontrou na disciplina que leciona a oportunidade de levantar o debate político e apresentar suas bandeiras para eleitores.

Utilizando plataformas como o Zoom, o professor, que também vai concorrer pela primeira vez, organiza grupos de estudo para ensinar e debater temas como cidadania e participação política. A iniciativa resultou  em um evento acadêmico virtual para discutir a elaboração de políticas públicas voltadas para a realidade do município. A ideia, segundo ele, é "engajar os eleitores"  e combater a imagem ruim dos políticos.

"Algumas estratégias são importantes, mantendo o respeito a lei. Sempre evitando impulsionamento e pedido de voto, aspectos que não são permitidos, tenho procurado levantar debate sobre alguns pontos específicos, porque minha disciplina é Sociologia. É uma forma que tenho de contato para buscar mais visibilidade", disse. 

O que esses dois pré-candidatos de partidos e municípios diferentes têm em comum, assim como os demais pré-candidatos neste pleito, é a necessidade de se conectar com eleitores sem a possibilidade do corpo a corpo, tão tradicional em ano de eleições municipais.

Pela legislação eleitoral, ninguém pode pedir voto até o dia 26 de setembro, mas é comum que até o início "oficial" da campanha, os pré-candidatos organizem ações para interagir com eleitores e tornar seus rostos e nomes conhecidos. Em pleitos municipais, proximidade é ainda mais importante.

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Nunca fui candidato antes, mas a gente via que todo o processo era feito na rua, abraçando os moradores, visitando suas realidades. Não estamos conseguindo fazer como era antes, pelo menos quem está respeitando o distanciamento social. Isso dificulta, porque os eleitores querem um vereador que seja próximo, esteja presente. Como estar presente sem estar?

Lucas Neto
Pré-candidato a vereador de Guarapari
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A mudança no perfil da campanha já ocorria em anos anteriores. As eleições de 2018 já foram marcadas por um peso decisivo da campanha nas redes sociais. O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), por exemplo, foi eleito com poucos segundos de propaganda em TV e um investimento forte na campanha virtual.

Como apontou o pré-candidato de Guarapari, o comportamento do eleitor é diferente em campanhas municipais. A luta para angariar os votos é travada nas feiras, nas casas de líderes comunitários e em celebrações de igrejas. Sem poder "apertar a mão" de cada fiel ao final da missa, o pré-candidato dá aulas de liturgia e reza terços virtualmente com os companheiros de fé, que também são eleitores.

"VELHAS" ARMAS, NOVAS ESTRATÉGIAS

Cada um vai "caçar com as armas que tem". No Instagram, as lives, que no início da pandemia foram uma febre, já se tornaram comuns. Muitos pré-candidatos têm usado o recurso para interagir com os seguidores e mostrar que têm o apoio de nomes importantes da política local e nacional. 

Miguel Intra (PT), que quer ser vereador na Capital, tenta explorar mais a ferramenta. Em sua conta criou diferentes "quadros" para incentivar o engajamento dos seguidores e atrair diferentes tipos de público. Em um deles, "Miguel Indica", o petista publica, aos sábados, indicações de trabalhos musicais capixabas e documentários e livros com viés ideológicos.

Semanalmente, o pré-candidato investe em um quadro de perguntas e respostas, onde abre espaço para que os seguidores tirem dúvidas sobre seus posicionamentos políticos e a construção de sua pré-candidatura. "Os quadros foram pensados para dialogar com o público. Esse foi essencial porque a gente abre um papo com a sociedade, tomando um cafézinho na casa da pessoa", afirmou.

Alguns pré-candidatos apostam em sites para atrair apoiadores e até recrutar "cabos eleitorais" voluntários. Outros criam movimentos para dialogar com grupos específicos e teve até lançamento de pré-candidatura em drive-thru: O deputado estadual Lorenzo Pazolini (Republicanos), que é pré-candidato a prefeito em Vitória, organizou um evento em que as pessoas passavam pelo local e, de dentro de seus carros, deixavam sugestões e ideias para compor seu plano de governo. Os planos de governo, também, tem sido construídos e apresentados ao público sem uma reunião presencial sequer.

O WhatsApp, presente no dia a dia dos eleitores, vira palco para os postulantes aos cargos em disputa neste ano. Políticos criaram listas de transmissão para que eleitores recebam mensagens diárias, muitas vezes sem ligação com a pré-campanha, apenas para "serem lembrados". Outros criaram diversos grupos na plataforma para dialogar com bairros diferentes.

As iniciativas têm se multiplicado e exigido criatividade, principalmente dos novatos, para se destacar.  A tendência é que os nomes confirmados para a corrida após as convenções, que acontecem até o dia 16, busquem mais inovação, uma vez que a disputa deve se acirrar ainda mais a partir do dia 27 quando a campanha, de fato, começar.

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