O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, se tornou um dos principais personagens da política brasileira durante a crise da pandemia do coronavírus. Ao seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), entrou em rota de colisão com o presidente Jair Bolsonaro, ao discordar da adoção do isolamento vertical (apenas para idosos e pessoas em grupo de risco) e do uso da hidroxicloriquina no combate ao Covid-19.
Bolsonaro cogitou demitir o ministro, mas, com o suporte político que Mandetta recebeu de outras instituições, o presidente foi desaconselhado a tirá-lo do governo. Essa, contudo, não foi a primeira vez que um ministro ganhou protagonismo e ofuscou um presidente. Outros já assumiram o papel principal de governos, algumas vezes a revelia de seus chefes, outras vezes voluntariamente impulsionados por eles.
A Gazeta fez uma lista com os ministros, da redemocratização até Bolsonaro, que por vezes se destacaram mais que os oito últimos presidentes.
Além de Mandetta, outro ministro que tem status de estrela na equipe de Bolsonaro é o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro. E, assim como o colega da Saúde, já viu sua permanência no governo sob ameaça. Desde os primeiros meses de 2019, quando o presidente tirou de seu ministério o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Moro tem andado na corda bamba. Por trás das discordâncias, está a citação do ministro em pesquisas eleitorais como possível candidato a presidência e adversário de Bolsonaro em 2022.
Outro que costuma ganhar os holofotes no governo é o ministro da Economia, Paulo Guedes. Principal gestor da agenda econômica de Bolsonaro desde a campanha eleitoral, Guedes é apontado como um dos alvos de uma declaração do presidente no último domingo (5), quando disse que alguns ministros viraram estrela e que a hora deles ia chegar. Bolsonaro já fez o ministro recuar de medidas econômicas mais impopulares, a última delas foi a possibilidade de empresas suspenderem contratos de trabalho por quatro meses, por conta da pandemia, anunciada por Guedes, mas que foi descartada.
No governo Temer, o principal nome para conter a recessão econômica foi o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ele comandou a proposição das reformas defendidas pelo mercado para a recuperação do país, como a trabalhista e a previdenciária. A reforma trabalhista foi aprovada, mas, diante do desgaste do presidente após a crise com o caso JBS, o governo perdeu apoio e o projeto para a previdência não passou.
Outro que se destacou foi o então ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que acabou assumindo uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). Também ganhou destaque durante a gestão do emedebista o secretário da Cultura, Marcelo Calero, que denunciou ter sido pressionado pelo então ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, para liberar um imóvel no centro histórico de Salvador. Calero renunciou e Geddel também pediu para sair do governo, em mais uma das crises que Temer enfrentou.
Eleita para o segundo mandato, a então presidente Dilma Rousseff escolheu um nome com aprovação do mercado, que traria mais austeridade ao governo e o corte de despesas diante da queda de arrecadação. Joaquim Levy não era aprovado pela cúpula petista, mas tentou conduzir as mudanças, apesar do desgaste cada vez mais rápido da presidente. Levy era um nome que agradava a oposição e ajudava a acalmar empresários críticos à gestão.
Em meio ao desmanche de sua base e do distanciamento do PMDB, Dilma ganhou na Agricultura, com a ministra Katia Abreu (à época no PMDB), uma fiel articuladora política. Na tentativa de reconstruir o apoio ao seu governo, também se destacou o ministro da Casa Civil, Aloísio Mercadante (PT).
Nos primeiros anos da gestão Lula, o ministro que mais ganhava os holofotes era o cantor Gilberto Gil, responsável pela Cultura. Ele ficou no cargo durante cinco anos. Outra que se destacou nos mandatos do petista foi a até então pouco conhecida Dilma Rousseff, que assumiu o Ministério de Minas e Energia e depois a Casa Civil. Com os grandes nomes da cúpula do presidente envolvidos no escândalo do Mensalão, Dilma começou a ser impulsionada para ser a sucessora de Lula, que a chamava de mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Outro presidenciável que se destacou em um ministério foi Fernando Haddad (PT). Professor universitário, assumiu a Educação para modernizar o Enem e unificar os processos seletivos para as universidades federais, com o Sisu.
Durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, um dos ministros que mais se destacou e que foi para as eleições de 2002 como candidato a sucessor do presidente foi o então titular da Saúde, José Serra (PSDB). Na pasta, Serra se destacou ao introduzir a medicação genérica no país, que reduziu os custos dos remédios.
Na parte econômica, se destacavam em aparições na TV, os ministros Luís Carlos Bresser-Pereira (Administração) e Pedro Malan (Fazenda). Malan, um dos arquitetos do Plano Real junto com FHC, chegou a ser cotado para se candidatar à presidência na sucessão do tucano, mas acabou preterido.
O então sociólogo Fernando Henrique Cardoso, responsável por comandar o Plano Real para tentar frear a hiperinflação no país, foi o nome que mais se destacou no mandato tampão de Itamar Franco. Além dele, outra estrela que esteve em seu ministério foi o filólogo Antônio Houaiss, que assumiu a Cultura e era reconhecido internacionalmente como um dos maiores estudiosos da Língua Portuguesa.
Também foi na pasta econômica que se destacou o principal nome do ministério de Fernando Collor. A ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, coordenou uma agenda de privatizações e redução da dívida pública, a fim de conter a inflação. Na pior fase do governo, no confisco das cadernetas de poupança, a ministra era presença constante em telejornais ao tentar explicar as medidas para os brasileiros.
Outro nome que se destacou foi o do ministro da Cultura, Sérgio Paulo Rouanet, autor da famosa Lei Rouanet, de incentivos fiscais para obras culturais. Uma das estrelas do ministério de Collor também era o ex-jogador do Flamengo Arthur Coimbra, o Zico, que havia acabado de se aposentar. Apesar do carisma do atleta, pouco conseguiu fazer na pasta de Esportes.
Primeiro governo democrático após a Ditadura Militar, José Sarney teve como os principais nomes de sua gestão os ministros Bresser-Pereira e Maílson da Nóbrega, que ocuparam a Fazenda. Autor do plano que congelou preços e salários, Bresser-Pereira até conseguiu conter a inflação nas primeiras semanas, mas com o tempo a economia acabou respondendo mal e a inflação subiu mais do que antes do plano. Ele renunciou e assumiu em seu lugar Maílson da Nobrega, autor do Plano Verão, com a criação de uma nova moeda, o cruzado novo.
Outra estrela do ministério de Sarney era o ministro da Reforma e do Desenvolvimento Agrário, Dante de Oliveira, autor da famosa Emenda Dante de Oliveira, que ganhou destaque com a campanha das Diretas Já, para que os brasileiros pudessem votar para presidente ao fim do período militar.
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