O retorno da senadora Rose de Freitas ao MDB deve unificar o partido que já foi uma das maiores forças políticas no Espírito Santo, mas que, nos últimos anos, virou palco de disputas internas e tem perdido território no Estado. Rose é cotada para assumir a presidência do diretório estadual, comando há mais de uma década pelo ex-deputado federal Lelo Coimbra. Ela pode contar, inclusive, com o apoio do ex-parlamentar.
A senadora já tem o aval do grupo político do também ex-deputado federal Marcelino Fraga, que protagonizou uma acirrada disputa contra Lelo pelo comando do partido em 2020. Lelo ainda não se manifestou publicamente sobre a chegada de Rose ao partido e tampouco sobre a possibilidade de ela assumir a presidência estadual, mas aliados do emedebista reconhecem que, mesmo se quisesse, ele não teria força para encarar Rose.
Lelo está à frente do partido no Estado desde 2007, salvo por um período de dez meses em que a sigla esteve sob intervenção da Executiva nacional em 2020. Atualmente, ele é o presidente provisório do partido e, consequentemente, o responsável por presidir as convenções municipais e estaduais do MDB, que devem acontecer em maio.
Essa centralização do comando é criticada pela senadora e apontada como um dos motivos do encolhimento do quadro da sigla no Estado.
“Não é bom para o partido ficar por muito tempo sob o comando do mesmo grupo. Tem que abrir espaço para que outras lideranças venham e se formem”, declarou.
Lelo era visto como um dos nomes, mais uma vez, a disputar a presidência estadual. Mas com Rose no jogo e disposta a assumir a presidência, é muito difícil que ele vá para o embate, avaliam aliados. Na visão deles, o mais provável é que o emedebista faça uma aliança com a senadora.
"Lelo está em um momento de preparar o partido para as convenções. Esse segundo momento, de quem vai disputar, ainda não aconteceu. Acredito que ele deve sentar com a Rose e conversar. E não vejo um enfrentamento", declarou uma pessoa próxima a Lelo.
Rose conta que já conversou tanto com Marcelino quanto com Lelo, e que os dois pregaram um discurso de união dentro do partido. "Eu já tinha recebido convite dos dois para vir para o MDB e ter uma participação mais efetiva dentro do partido. Todo mundo sabe que é preciso reerguer o MDB e para isso é preciso conversar", afirmou.
A senadora é apontada por filiados ao MDB como uma força capaz de unir o partido, que nos últimos anos está dividido e enfraquecido no Espírito Santo. Ela seria a responsável por “colocar ordem na casa”, nas palavras da própria senadora.
Forte na era de Paulo Hartung, quando tinha o ex-governador como seu principal filiado, o MDB chegou a ter o comando de 17 das 78 prefeituras do Estado. Isso em 2016.
Mas após a saída de Hartung do governo e do partido, e do início de uma polarização interna entre os grupos de Lelo Coimbra e Marcelino Fraga, o cenário mudou.
Em 2018, a sigla não alcançou bons resultados nas urnas. Na Assembleia, apenas dois deputados estaduais foram eleitos pela sigla – Doutor Hércules e José Esmeraldo. A bancada no Legislativo estadual já teve sete representantes do MDB. Além disso, o partido não fez nenhum parlamentar no Congresso (algo inédito na história do partido no Espírito Santo, desde a sua fundação, em 1966).
Em 2020, o MDB perdeu ainda mais terreno nas eleições municipais. Não teve candidatos disputando as principais prefeituras, a exemplo de Vitória e Vila Velha, e conseguiu eleger apenas oito prefeitos.
A reorganização do partido passa pelos planos para 2022. A cadeira de Rose de Freitas no Senado, por exemplo, é uma que vai estar em disputa. Atualmente, ela é a única representante do partido na bancada capixaba no Congresso.
“O MDB tem que estar latente dentro do Congresso para ter voz. O Espírito Santo precisa estar na pauta de desenvolvimento do Brasil e o MDB tem que ganhar força para participar do debate”, afirmou.
O conflito entre Marcelino Fraga e Lelo Coimbra no partido é antigo, mas teve como ápice a eleição para o comando estadual da sigla em 2020. Em fevereiro do ano passado, a convenção que estava marcada para eleger o diretório estadual do MDB foi cancelada. Havia duas chapas inscritas, a de Lelo e a do grupo de Marcelino.
A decisão foi da comissão estadual provisória, na época comandada por Lelo. De acordo com Lelo, a chapa de Marcelino concorria sub judice, por força de decisão judicial provisória.
No dia seguinte, aliados de Marcelino improvisaram uma eleição com caixas de papelão na Praça Getúlio Vargas. O resultado da votação: "39 votos no total, sendo 37 em Marcelino Fraga e dois em Lelo Coimbra".
O Diretório Nacional do MDB determinou o cancelamento da convenção do partido no Espírito Santo e manteve Lelo provisoriamente no comando do diretório estadual. A Justiça, por sua vez, reconheceu a eleição da chapa de Marcelino para comandar o partido no Estado.
Em março de 2020, uma comissão interventora, com membros de fora do Espírito Santo, foi designada pela Executiva Nacional do MDB para assumir a direção do partido no Estado. Até novembro do ano passado, o partido esteve sob o comando dessa comissão, mas voltou a ser presidido de forma provisória por Lelo até a realização das próximas convenções este ano.
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