Bolsonarista de carteirinha e defensor do "tratamento precoce" contra a Covid-19, o ex-deputado federal Carlos Manato (sem partido) recebeu a primeira dose da vacina Coronavac, chamada de "vacina chinesa" pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A imunização aconteceu no fim de março e foi compartilhada por Manato nas redes sociais.
Seguindo o discurso do presidente da República, que recentemente mudou a postura e passou a incentivar a imunização, o ex-parlamentar pediu que as pessoas se vacinem.
"Chegou a minha vez. Vou tomar e aconselho a todo mundo [...] Vamos tomar a vacina, a vacina é importante", disse em vídeo publicado no Instagram.
Manato é médico por formação. Por causa disso, estava apto a receber o imunizante desde janeiro, quando os profissionais de saúde começaram a ser imunizados no país. Na época, o ex-parlamentar informou que não iria tomar a vacina por não estar exercendo a profissão.
No mês passado, contudo, ele foi convocado para vacinação pelo Conselho Regional de Medicina por causa da idade e então aceitou. Carlos Manato tem 63 anos e foi vacinado na casa do cooperado da Unimed, em Vitória.
No momento da vacinação, Manato chegou a perguntar de qual fabricante era a vacina que estava tomando. "É Coronavac? Não tem Sputnik não?", questionou no vídeo.
Atitude semelhante teve a esposa de Manato, a deputada federal Soraya Manato (PSL), que foi vacinada em janeiro deste ano. Soraya recebeu o imunizante da Coronavac, mas disse que preferia a Sputnik em entrevista para o Painel, da Folha de São Paulo.
Diferentemente da Coronavac, viabilizada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), desafeto político do presidente, a Sputnik V tem sido usada como propaganda do governo federal. A vacina, que é fabricada por um laboratório russo, é chamada nos bastidores de "vacina do Bolsonaro".
No início de março, o Ministério da Saúde assinou contrato para receber 10 milhões de doses da Sputnik. Apesar disso, a Anvisa ainda não autorizou o uso dessa vacina no Brasil.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro minimizou a Covid-19 e colocou em dúvida, por diversas vezes, a eficácia das vacinas, principalmente a Coronavac.
O presidente também incentivou o tratamento precoce para a Covid-19, com uso de medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina, que não têm eficácia comprovada cientificamente para o tratamento da doença e que provocam efeitos colaterais. A Associação Médica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), inclusive, não recomendam o uso desses remédios.
Mas após o aumento do número de mortes no país, e críticas do setor empresarial sobre o atraso da imunização, Bolsonaro mudou o discurso. Em pronunciamento no dia 23 de março, o presidente defendeu a vacinação e disse que estava fazendo o possível pela vacina.
Manato tem seguido a mesma linha de Bolsonaro. Nas redes sociais, defende, mesmo sem embasamento científico, o "tratamento precoce" para a Covid-19. Quando a Coronavac foi anunciada, compartilhou a declaração do presidente de que não compraria a "vacina da China".
Adotando a mesma postura de outros bolsonaristas, o ex-deputado federal também faz, com frequência, propaganda de vacinas de outros fabricantes, como a de Oxford e a Sputnik V.
Questionado pela reportagem sobre a vacinação, Manato respondeu que preferia ter tomado a Sputnik, mas que é a favor da vacinação em massa.
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