A deputada federal Soraya Manato (PSL) recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19 em janeiro deste ano. Vacinada com a Coronavac, a parlamentar bolsonarista capixaba afirmou que preferia ter sido imunizada com vacina de outro fabricante. Médica ginecologista, a parlamentar divide as atividades no plenário da Câmara dos Deputados com a atuação em hospitais particulares da Serra, onde os funcionários estão sendo vacinados contra a doença provocada pelo novo coronavírus.
A declaração foi concedida à coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo, neste domingo (21). Procurada por A Gazeta, nesta segunda (22), Soraya Manato confirmou que foi vacinada e disse que, se pudesse escolher, tomaria a vacina Sputnik V, da Rússia. "É a vacina que, mundialmente, foi comprovada como o insumo com a maior eficácia", disse a parlamentar.
Nos bastidores, o imunizante russo é chamado de "vacina de Bolsonaro", já que o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), tem se movimentado para acelerar a liberação da vacina. A Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, foi denominada pelo presidente como "vacina chinesa de João Doria", governador daquele Estado.
A Sputnik não teve seu uso autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Até o momento, apenas a Coronavac e a vacina da Universidade de Oxford receberam o aval do órgão regulador. Pesquisas apontam que a eficácia da Sputnik, em casos sintomáticos de Covid-19, é de 91,6%. A eficácia geral da Coronavac é de 50,38%, ou seja, os vacinados têm 50,38% de chance de não adoecer. Caso contraia o coronavírus, o imunizante oferece 100% de eficácia para não adoecer gravemente e 78% para prevenir casos leves.
Ainda segundo a Folha de S. Paulo, a deputada foi vacinada no dia 25 de janeiro, no primeiro dia em que a vacinação para trabalhadores da saúde foi aberta no Espírito Santo, e deve tomar a segunda dose nesta segunda. No Estado, até esta segunda, 81% dos trabalhadores da saúde receberam a primeira dose da vacina, de acordo com o painel da Secretaria de Saúde.
Soraya atende pacientes em dois hospitais da Serra, Metropolitano e Meridional. De acordo com a parlamentar, ela atua como médica às segundas-feiras e às sextas-feiras e, devido a esses atendimentos, recebeu a vacina. "Atendo, em média, 50 pacientes por semana, também tive que ser imunizada. A orientação do Hospital (Metropolitano) era de imunizar todos os médicos e estou cumprindo esse protocolo", justificou.
A Coronavac era, entre as vacinas contra a Covid-19, uma das mais criticadas pela base bolsonarista, devido ao posicionamento do presidente. A discussão gerou trocas de farpas entre defensores do governo e João Doria (PSDB).
Soraya publicou, em novembro do ano passado, uma postagem nas redes sociais em que destacava um "evento adverso grave" durante os testes da Coronavac – após o suicídio de um dos voluntários que realizava o teste da vacina. A morte do homem não teve a ver com o imunizante.
Apesar de dizer que preferia a Sputnik, a parlamentar disse que não é contra nenhuma vacina. "Não tem nada a ver com o Doria [a preferência por outra vacina]. Tanto que sou da comissão externa do coronavírus da Câmara e visitamos o Instituto Butantan e a Fiocruz (...) Temos que valorizar essas instituições", disse a deputada para a Folha. "[Preferia outro imunizante] por causa de referências. Mas não tive problema algum, nenhuma reação", afirmou.
Nas redes sociais, a deputada bolsonarista faz a defesa do tratamento precoce com o uso de cloroquina e ivermectina contra a Covid-19, medicamentos que não possuem comprovação científica de eficácia contra a doença. A Associação Médica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), inclusive, não recomendam o tratamento precoce.
O Facebook de Soraya tem uma série de posts defendendo o uso da cloroquina e fotos de reuniões com integrantes do governo, em que, segundo ela, foram agendas para solicitar o medicamento para municípios do Espírito Santo.
"Não sou crítica de nenhuma vacina, muito pelo contrário. Nunca dei declaração nesse sentido. Sou uma defensora de vacinas, tanto que tenho projeto de lei anterior à pandemia de que os pais têm obrigação de vacinar os filhos", afirmou à Folha. A parlamentar disse ainda que defende o tratamento precoce para ele e para todos, assim como a vacina. "Um é para tratar e o outro para prevenir."
Nos pareceres e nos votos que embasaram a aprovação do uso emergencial das vacinas Coronavac e de Oxford em janeiro, servidores e diretores da Anvisa defenderam a ciência e a segurança das vacinas e refutaram a existência de tratamento precoce contra a Covid-19.
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