O insulto feito pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à repórter Patrícia Campos Mello, do jornal "Folha de S. Paulo", com uma insinuação sexual sobre o trabalho dela, dividiu a bancada capixaba feminina em Brasília. Enquanto a deputada Soraya Manato (PSL) endossou a "banana" que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) deu a colegas de plenário que repudiavam o ataque à jornalista, a deputada Lauriete (PL) e a senadora licenciada Rose de Freitas (Pode) desaprovaram a declaração do chefe do Executivo.
Na terça-feira (18), Bolsonaro disse, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada: "Ela (repórter) queria um furo. Ela queria dar o furo (risos dele e dos demais)... a qualquer preço contra mim". No mesmo dia, o filho do presidente criticou, na tribuna da Câmara dos Deputados, parlamentares mulheres que fizeram uma nota de repúdio a Bolsonaro. Rodeado por cinco deputadas do PSL, entre elas Soraya, Eduardo fez o gesto de "banana" para deputadas que estavam defendendo a jornalista.
"Esse tipo de discurso também revolta. A deputada diz que fala em nome das mulheres. Calma aí. Será que não tem mulher aqui comigo não? Uma banana, em nome das mulheres. Uma banana! Quero saber onde elas estavam quando o Lula falou em mulheres de grelo duro", disse o 03. Ele se referiu a uma conversa grampeada entre o ex-presidente Lula (PT) e o ex-ministro Paulo Vannucchi, em 2016, na qual o líder petista citou as feministas do partido como "mulheres do grelo duro".
Procurada nesta quarta-feira (19) pela reportagem de A Gazeta, Soraya Manato não se pronunciou sobre o caso.
Já Lauriete e Rose avaliaram que, ao insinuar que a jornalista teria sugerido relação sexual em troca de "um furo", o presidente da República teve uma atitude machista, desrespeitosa e dolorida para as mulheres.
A deputada federal Lauriete desaprovou a conduta do chefe do Executivo.
"Em primeiro lugar, minha solidariedade e respeito a Patrícia Campos Mello, vítima de acusações públicas hediondas e extremamente doloridas para as mulheres. As ofensas contra a jornalistas começaram durante uma audiência, inflamadas por um militante partidário. Vejo este acontecimento com indignação. Já a declaração do presidente da República é a segunda parte da polêmica. Existe, inegavelmente, uma queda de braço entre o presidente e setores da imprensa. E, o pior de tudo, é que quem perde é o Brasil. Ambos lados precisam harmonizar o relacionamento para que o povo brasileiro tenha uma comunicação social sem ruídos. Respeito a imprensa, o presidente e como mulher também lutamos para merecer o respeito de todos", declarou.
A senadora licenciada Rose de Freitas também se disse indignada com as declarações de Bolsonaro.
"Infelizmente, o senhor Jair Bolsonaro prevalece sobre o cargo que exerce para fazer comentários que desmerecem o mandato de um Presidente da República. Seus comentários pessoais não seriam do interesse de ninguém, mas como Presidente despertam repúdio pela forma desrespeitosa como se refere a nós, mulheres. Nunca vi tanto machismo e desrespeito. Constrangedor!", avaliou Rose.
A reportagem entrou em contato também com a deputada Norma Ayub (DEM), nesta quarta, mas não obteve retorno.
Ainda na terça-feira, associações de jornalismo e a OAB consideraram que a fala do presidente desrespeita a imprensa e seu trabalho essencial na democracia.
O presidente Jair Bolsonaro fez referência ao depoimento à CPI das Fake News de Hans River do Nascimento, ex-funcionário de uma empresa que fez disparos em massa pelo WhatsApp nas eleições de 2018. Hans River atacou Patrícia afirmando que a repórter "se insinuou" e queria "sair" com ele, o que foi desmentido pela "Folha" com a publicação de troca de mensagens entre os dois.
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