Durante a sessão virtual da Assembleia Legislativa do Espírito Santo nesta segunda-feira (29), o deputado estadual Bruno Lamas (PSB) cobrou que sejam investigadas mensagens com conteúdo de ódio e incitação à violência publicadas em grupos de WhatsApp por servidores comissionados dos gabinetes do deputado estadual Capitão Assumção (Patriota) e da deputada federal Soraya Manato (PSL). Na semana passada, reportagem de A Gazeta mostrou a existência de uma rede estruturada de disseminação de ofensas, desinformação e ataques a adversários políticos no aplicativo de mensagens.
Entre as publicações compartilhadas estão informações falsas sobre demissões em massa e toque de recolher no Estado, incitações a crimes, como colocar fogo no Palácio Anchieta, sede do governo, e ataques ao governador Renato Casagrande (PSB), ao secretário de Saúde, Nésio Fernandes, e a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
O núcleo tem organização semelhante ao chamado "gabinete do ódio", grupo de servidores lotado na Presidência da República e investigado por suposta divulgação de ofensas contra opositores e conteúdos enganosos que favorecem suas convicções.
Bruno Lamas, aliado do governador e integrante do Executivo até abril deste ano, como secretário de Trabalho e Assistência Social, classificou os fatos apontados na reportagem como "gravíssimos". "Uma trama política organizada para a destruição de reputações e biografias, ou seja, temos um gabinete do ódio no Espírito Santo", disse o parlamentar.
O deputado estadual cobrou investigação sobre as mensagens com teor de ódio. "Servidores que sugerem atear fogo no Palácio Anchieta com o chefe do Executivo dentro. Crime. Incitação ao crime, previsto no Código Penal. Fatos que devem ser investigados e punidos com o rigor máximo da lei", apontou.
"Conservadores não atacam instituições e autoridades de Estado 'à bala', como reportou o jornal A Gazeta, com promessas de violência, atos de calúnia e as mais diversas difamações. Isso tem nome no Brasil, no Estado Democrático de Direito, chama-se banditismo", acrescentou.
O socialista deu ênfase ao fato de que servidores são pagos com o dinheiro público. "O trabalho destes servidores vem sendo usado não para auxiliar a Assembleia no cumprimento de seu ofício institucional de legislar em prol do povo capixaba (...). O que vemos são funcionários que servem de instrumento do ódio de seu líder", declarou.
A reportagem de A Gazeta mostrou ainda o pagamento, com verba da cota parlamentar da Câmara dos Deputados, de publicidade em site que publica conteúdos compartilhados nos grupos administrados por servidores de políticos aliados a Bolsonaro no Estado. O fato também foi criticado pelo parlamentar, afirmando que "verba pública foi usada para alimentar sites e blogs de baixíssima qualidade, com o único fim de disseminar notícias falsas e gerar engano no povo".
"Mais uma vez o dinheiro público é usado com fins inescrupulosos. Perde o povo. Perde o Estado do Espírito Santo, e tudo por conta de maus parlamentares, pois não há debate, não há ideias. Só há ofensas e ódio", disse Lamas.
Assumção não se manifestou durante as declarações do colega de plenário. Estava, inclusive, ao telefone durante parte do discurso. Ao final da sessão, usou seu tempo de fala para atacar novamente o repórter que teve acesso às mensagens de cinco grupos de WhatsApp e produziu a reportagem. Afirmou que encaminhou as mensagens trocadas com o repórter e nos grupos para a procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade, e para as "delegacias competentes".
Assumção participa dos grupos e mantém funcionários pagos com dinheiro público como administradores deles. Apesar disso, ao ser questionado pela reportagem, afirmou que cada um é responsável pelo que publica. Manifestação semelhante foi feita por Soraya Manato, que disse que não tem influência sobre as mensagens compartilhadas por seus servidores.
Na sessão, o deputado não prestou qualquer esclarecimento sobre postagens citadas na reportagem, nem mesmo a que foi citada por Lamas, em que a servidora incita o ateamento de fogo no Palácio Anchieta. Disse apenas que participa de "mais de 300 grupos no WhatsApp" e que a maioria deles é "em defesa do excelentíssimo presidente da República Jair Messias Bolsonaro". Na sexta-feira (26) durante transmissão ao vivo, porém, citou "meu grupo" e "minha casa" ao rebater a reportagem de A Gazeta.
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