Faltando menos de dois meses para a votação que vai eleger o presidente da Câmara dos Deputados pelos próximos dois anos, os deputados federais que representam o Espírito Santo ainda não definiram quem pretendem apoiar, mas não descartam o nome de Arthur Lira (PP-AL), líder do centrão e nome favorito do governo Jair Bolsonaro.
O momento é de reuniões entre os partidos e negociações com os que almejam a vaga. Para deixar o cenário mais definido, falta o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) bater o martelo sobre quem vai tentar emplacar como sucessor.
A possibilidade de reeleição de Maia foi barrada pelo Superior Tribunal Federal (STF) no último domingo (6). Fora da disputa, o demista deve apoiar algum aliado, decisão que ainda não foi tomada. Inicialmente, o nome de Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, era tido como o favorito, mas no momento, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), relator da reforma tributária, também é um dos cotados.
Mesmo sem o nome do cabeça de chapa, Maia lançou um bloco de apoio com seis partidos: PSL, MDB, PSDB, DEM, Cidadania e PV.
Outros nomes que se colocam como pré-candidatos são Elmar Nascimento (DEM-RJ), Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Luciano Bivar (PSL-PE), pivô da crise que resultou na saída de Bolsonaro do PSL. A eleição para a presidência da Câmara acontece em 1º de fevereiro de 2021.
Segundo o jornal O Globo, o presidente costurou espaços em ministérios em troca de apoio ao progressista. Mesmo com o rótulo de "candidato do presidente" para o cargo, Lira tem se articulado para conseguir apoio dos partidos de oposição, entre eles o PSB. A sigla do governador Renato Casagrande tem dois representantes na bancada capixaba: Felipe Rigoni e Ted Conti.
Entre os parlamentares do Espírito Santo, embora os apoios não estejam totalmente definidos, o candidato não tem encontrado forte resistência.
Coordenador da bancada capixaba no parlamento, Josias Da Vitória (Cidadania), admite que, embora o partido tenha apoiado Maia durante seu período à frente da Casa, não tem "dificuldades" com o nome de Lira. "Nós apoiamos Maia na eleição passada. Temos proximidade com esse grupo, mas não temos dificuldade com o candidato do governo. Ainda é cedo, vamos nos reunir na próxima semana para definir", afirma.
Para o parlamentar, no entanto, o apoio de Maia pode ter um peso maior na disputa e dificultar a vida do governo. Partidos de esquerda e aqueles que se consideram independentes podem apoiar o candidato de Maia por avaliar que seria um Poder Legislativo mais independente do governo federal.
"Acredito que o governo precisa conversar muito bem para não sair derrotado, e acho que é um risco para qualquer governo declarar um apoio muito antecipado", pontuou Da Vitória.
Focado em sua atuação como relator do projeto que regulamenta o Fundeb, Felipe Rigoni (PSB), afirma que ainda não parou para estudar os nomes disponíveis e definir apoio a alguém. O parlamentar briga na justiça para deixar o PSB e, por isso, não deve aguardar um posicionamento partidário para declarar o voto. Na avaliação dele, no entanto, todos os nomes cotados até o momento, inclusive o de Arthur Lira, têm características que ele observa como critério.
"O presidente da Câmara tem que ser alguém do parlamento, ou seja, nem da base do governo, nem da oposição. Tem que ser alguém independente. Acho que os nomes que temos, do Lira, do grupo do Maia e até de uma terceira via que pode chegar, tem essa característica, por isso ainda não defini quem vou apoiar", assinalou.
Quem conta com essa possibilidade de terceira via é o deputado Helder Salomão (PT). O parlamentar relata que o partido está se movimentando e conversando com outras siglas de oposição para tentar encontrar um "nome que unifique toda oposição e que consiga ter um nível de articulação com a base do governo".
Questionado se descarta apoiar Lira, no entanto, o deputado não respondeu de forma taxativa, apenas voltou a dizer que aguarda um possível acordo entre a oposição. Na tentativa de atrair o voto dos petistas, conforme mostrou o Estadão, o progressista pediu uma conversa com o ex-presidente Lula (PT).
Uma grande conquista de Lira até o momento foi conseguir a sinalização de que pode ter o PSB, partido do governador Renato Casagrande, em sua lista de apoiadores. O partido faz oposição ao governo Bolsonaro e chegou a mobilizar uma "frente ampla" pelo impeachment do presidente.
Ainda assim, em reunião nesta quarta-feira (9), a maioria da bancada socialista optou pelo apoio ao progressista. Dos 30 parlamentares que estavam presentes, 18 sinalizaram apoio ao candidato. Ted Conti (PSB), esteve no encontro e, embora argumente que o partido ainda não oficializou a aliança, é um dos que não tem objeção ao nome de Lira.
O deputado considera difícil analisar "quem vai ganhar a corrida sem saber quais serão os carros disputando", mas aponta que a articulação de Arthur Lira na política nacional já trouxe bons frutos para a legenda.
"Eu não tenho objeção clara contra o nome do Arthur Lira, mas para definir preciso saber quem será o outro candidato. (...) Se for analisar o cenário nacional, o JHC (PSB) foi eleito em Alagoas, como prefeito da capital, em função de apoio do Arthur Lira. O Arthur se articula bem com vários políticos de centro e de esquerda pelo Brasil inteiro. E todo mundo diz que ele é muito solícito na Câmara dos Deputados", ressaltou.
Rodrigo Maia esteve no Espírito Santo, na última sexta-feira (4), para se reunir com o governador Renato Casagrande. Ele é secretário-geral do partido, e nos bastidores a visita de Maia foi vista como uma busca de apoio para seu candidato a sucessor. O parlamentar negou que esse foi o teor da conversa, mas afirmou que a interferência do presidente no processo eleitoral do Legislativo não seria boa para a democracia.
Nesta quinta-feira (10), Casagrande recomendou "prudência" à bancada do PSB para tomar a decisão de apoiar Lira. Conti garante que o presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira, pediu que a decisão final seja tomada apenas depois que todos os candidatos sejam conhecidos.
As deputadas Lauriete (PSC) e Soraya Manato (PSL) consideram que "ainda é muito cedo" para definir o apoio, sem conhecer os outros nomes que estarão na disputa. As duas, no entanto, são aliadas do governo federal e ao longo do mandato se posicionam sempre dessa forma.
Embora as duas não tenham confirmado que vão apoiar Arthur Lira, representantes das duas legendas fazem parte da base do presidente Bolsonaro na Casa. Lideranças do PSC estiveram no evento de lançamento da candidatura de Lira, enquanto o PSL, por enquanto, está no bloco de Maia.
Da mesma forma, Evair de Melo (PP) preferiu não responder sobre apoio ao candidato do governo. Vice-líder de Bolsonaro na Casa, no entanto, um caminho natural para o parlamentar seria apoiar Lira, embora seu partido possa ter a candidatura de Aguinaldo Ribeiro, aliado de Maia.
Colega de sigla de Rodrigo Maia, Norma Ayub (DEM) afirmou que "no momento certo" vai definir o voto. Ela não compareceu ao almoço com o presidente da Casa no Palácio Anchieta. A demista é casada com Theodorico Ferraço (DEM), que é quem dá as cartas do partido no Estado. Theodorico é aliado de Casagrande.
A reportagem procurou os deputados Amaro Neto (Republicanos) e Sergio Vidigal (PDT), mas até a publicação deste texto não teve respostas. O Republicanos conta com a candidatura de Marcos Pereira, que também é o presidente nacional da sigla, é capixaba e com quem Amaro tem proximidade. Pereira decidiu não integrar o bloco de Rodrigo Maia.
Já Vidigal vai deixar a Câmara para ser prefeito na Serra, a partir de 2021. Quem vai ocupar a vaga é Neucimar Fraga (PSD), como suplente, e é ele quem vai votar na eleição do dia 1º de fevereiro.
Neucimar afirmou que ainda não conversou com o partido sobre a eleição, mas que pretende ir à Brasília na próxima semana e quer tomar posse no cargo ainda em dezembro. O partido dele foi um dos que estiveram presentes no evento de lançamento da candidatura de Arthur Lira.
No Senado, seis parlamentares trabalham para se viabilizar como candidatos. Outros dois ainda analisam o terreno para decidir se lançam ou não seus nomes para suceder Davi Alcolumbre.
Três das seis candidaturas postas vêm do MDB, que tem a maior bancada na Casa. Apenas uma delas permanecerá ao fim. São os senadores Eduardo Braga (AM), líder do partido; Simone Tebet (MS), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ); e Eduardo Gomes (TO), líder do governo no Congresso. Este último é o favorito do presidente Jair Bolsonaro.
O principal adversário do MDB deve surgir do PSD, legenda que detém a segunda maior bancada. Diferentemente dos emedebistas, a tendência é lançar imediatamente um candidato, o senador Antonio Anastasia (MG).
O Muda Senado, grupo composto por 21 senadores, planeja lançar a candidatura do senador Álvaro Dias (Podemos-PR), líder do partido. Outro membro desse grupo, o senador Major Olímpio (PSL-SP), também planeja ser candidato.
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