Em áudio divulgado pelo Estadão, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) revelou os bastidores da divisão das emendas de relator, conhecida como orçamento secreto. Segundo o parlamentar, os R$ 50 milhões recebidos por ele foram por agradecimento ao apoio dado na campanha de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Senado em 2021.
Após a publicação da entrevista feita pelo repórter Daniel Weterman, na noite de quinta-feira (7), o parlamentar capixaba emitiu nota em que afirma ter sido "mal interpretado" e pediu desculpas pelo "eventual mal entendido". A gravação da entrevista, no entanto, comprova a fala de Do Val.
O áudio mostra que ele achou o valor alto para ser encaminhado ao Espírito Santo, mas aceitou mesmo assim. O senador capixaba afirma na gravação que foi comunicado a respeito da transação por Davi Alcolumbre (União-AP), então articulador da campanha de Pacheco à presidência do Senado. Confira o áudio abaixo:
Segundo Do Val, Alcolumbre teria dito que a concessão da emenda seria uma “gratidão” por ele ter ajudado na campanha de Pacheco.
“Mas ele (Alcolumbre) falou: ‘Só que o Rodrigo te colocou no critério como se você fosse um líder pela gratidão de você ter ajudado a campanha dele a presidente do Senado’. Eu falei: ‘Poxa, obrigado, não vou negar e vou indicar’”, diz Do Val na gravação.
Procurado por A Gazeta ainda na noite de quinta-feira, o senador negou que tenha recebido valores por ter apoiado a eleição de Pacheco e reforçou que não houve acordo condicionando a concessão da emenda à ajuda na campanha. Segundo o parlamentar capixaba, a recompensa pelo seu apoio à eleição do presidente do Senado foi a presidência da Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle do Senado, da qual ele declinou, depois, em favor do então colega de partido Reguffe (atual União Brasil-DF).
Na entrevista ao Estadão, Do Val destacou que a verba não foi prometida antes da votação, mas oferecida depois, utilizando o critério de quem teria apoiado o atual presidente do Senado. "E o critério que ele colocou para mim foi o critério de eu ter apoiado ele (sic) enquanto outros não apoiavam. Mas ele não prometeu." Segundo reportagem do Estadão, o critério para divisão dos recursos, detalhado por Do Val, privilegiava os líderes do Senado.
Ele (Pacheco) chamou os quem eram os mais próximos, que apoiaram a campanha dele, os líderes, e aí ele tornou: “Olha, o meu critério vai ser esse”. E todo mundo concordou. Então, ficou uma coisa transparente, assim, (e) não: “Pô, quem será que ganhou mais?”
Não, porque ele não sabia o que viria, o que o Executivo iria encaminhar, mas que era em proporcionalidade. E, assim, de todo o coração, o Rodrigo para mim é um cara fora da curva, um cara corretíssimo, muito equilibrado. Vamos dizer assim, distensionou as cordas entre os Poderes. Então, eu até perguntei para ele se ele pensa em se reeleger. Ele falou que está pensando. Eu falei: “Olha, então você vai ter um cabo eleitoral porque eu vou brigar para que você continue”. Então, muita gente que era contrária a ele, o Podemos, que era contrário, hoje a maioria fala: “Pô, você me surpreendeu”. E eu dizia para o Podemos: “Viu? Eu falei para vocês”.
Eu não sei qual é a conversa que ele teve em valores com os outros. Para mim, quem me ligou dizendo foi até o Davi (Alcolumbre), não foi nem o Rodrigo. E aí com o Davi que eu perguntei. Eu achei até muito para eu encaminhar para o Estado (Espírito Santo), mas como (é) questão de saúde, eu não vou negar. Eu perguntei: “Mas teve algum critério?” Ele só falou: “Aquele critério que o Rodrigo falou para vocês lá no início”. “Ah, tá, entendi.” Mas ele falou: “Só que o Rodrigo te colocou no critério como se você fosse um líder pela gratidão de você ter ajudado a campanha dele a presidente do Senado”. Eu falei: “Poxa, obrigado, não vou negar e vou indicar”.
Foi R$ 50 milhões.
Isso. Do ano passado, para ser executado neste ano.
Pode, pode ser em on. É público, eu já comuniquei isso ao Ministério Público na época (os valores e a destinação dos recursos). É o valor que todo mundo dizia que é o tal do orçamento secreto, da compra de votos. Eu acho, porque eu não pedi para levantar isso, que foi o mesmo valor que os líderes receberam. E o critério que ele colocou para mim foi o critério de eu ter apoiado ele (sic) enquanto outros não apoiavam. Mas ele não prometeu. Em nome da minha filha, eu tenho uma, tem 16 anos, em nome dela eu te digo (que) em momento algum ele me prometeu um real tipo assim: “Me apoie que eu te dou um real”. Ou: “Me apoie que eu te dou a presidência de uma comissão”. Nada, nada. Absolutamente, nada.
É, isso, boa, palavra excelente. Vou usar, se você me permitir.
Gratidão, você resumiu. Gratidão, gratidão.
Olha, assim, no critério que ele tinha colocado, eu acho que eu ia receber... Era assim: a minha parte seria de R$ 10, 15, 20 (milhões), alguma coisa assim, entendeu? Então, como ele me colocou, me deu essa gratidão, como você falou, eu recebi. E aí, pode ser que eu esteja enganado, vocês que levantam tudo, eu acho que eu recebi o mesmo que os líderes.
A primeira versão desta matéria tinha como título "Do Val revela bastidores de negociação do orçamento secreto; ouça áudio". No entanto, após a publicação, optou-se por alterar a chamada para dar mais precisão, uma vez que o senador não detalha acordos, apenas cita critérios usados para distribuição das emendas.
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