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Documentos destruídos são encontrados no gabinete de prefeito de São Mateus

Documentos destruídos são encontrados no gabinete de prefeito de São Mateus

Sacos pretos com documentos foram encontrados na residência do prefeito Daniel da Açaí e em seu gabinete na prefeitura, segundo a PF

Publicado em 28 de setembro de 2021 às 16:12

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Parte dos sacos repletos de papel picado recolhidos pela PF na residência e no gabinete do prefeito Daniel da Açaí.
Parte dos sacos repletos de papel picado recolhidos pela PF na residência e no gabinete do prefeito Daniel da Açaí. (Assessoria de Comunicação da PF/ES)

Polícia Federal encontrou cerca de 20 sacos pretos com documentos destruídos na residência do prefeito de São Mateus e em seu gabinete na prefeitura. A PF investiga a hipótese de o material ser resultado da tentativa de destruição de provas.

Operação Minucius, deflagrada na manhã desta terça-feira (28), prendeu o prefeito Daniel Santana Barbosa, o Daniel da Açaí (sem partido), a chefe de gabinete do município e outros quatro empresários por suspeita de participarem de uma organização criminosa que fraudava licitações e desviava recursos públicos. 

Todos os sacos foram recolhidos à Delegacia da Polícia Federal em São Mateus para serem periciados. Segundo apuração feita pelo colunista Leonel Ximenes, a operação não vazou, dado o desfecho da investigação.

Foram encontrados mais de R$ 400 mil na casa e R$ 300 mil na empresa que pertence ao prefeito, sem contar as joias encontradas que ainda não foram avaliadas pela Polícia Federal. Confira no vídeo o momento da apreensão:

PRISÕES

Batizada de Operação Minucius, a ação resultou na prisão de sete pessoas, incluindo o prefeito Daniel Santana, uma das controladoras do município, seu operador e quatro empresários suspeitos de participar do esquema criminoso.

De acordo com informações da Polícia Federal, cinco presos foram levados para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Mateus, já o prefeito e a mulher devem ser encaminhados ao Quartel da Polícia Militar.

Devido ao grande número de mandados, sete de prisão e 25 de busca e apreensão, a Polícia Federal contou com a participação de 85 policiais de diferentes estados brasileiros.

FRAUDAVA LICITAÇÕES

De acordo com superintendente regional da Polícia Federal, Eugênio Ricas, a organização criminosa agia junto com outras empresas, fraudava licitações e desviava recursos públicos.

"Pelo que nós descobrimos nas investigações realizadas, até o momento, um grupo criminoso, uma organização criminosa se apropriou da prefeitura, em conluio com inúmeras empresas, para fraudar licitações e desviar recursos públicos. Recursos, inclusive, que eram provenientes do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), do Ministério do Turismo, recursos que deveriam ser aplicados no combate à pandemia de Covid-19, foram apropriados por essa organização criminosa", explica.

"As investigações agora continuam, o objetivo é obter mais provas ainda e, certamente, essas pessoas que se apropriaram dos recursos públicos do município de São Mateus vão passar muito tempo atrás das grades", conclui.

Prefeito de São Mateus e empresários são presos em operação da PF(Polícia Federal)

O ESQUEMA CRIMINOSO

A Polícia Federal constatou indícios de um desvio fraudulento de licitações em diversos segmentos do Executivo municipal: limpeza, poda de árvores, manutenção de estruturas e obras públicas, distribuição de cestas básicas, kits de merenda escolar, aluguel de tendas, dentre outros. Algumas das licitações, inclusive, contavam com verbas federais que deveriam ter sido utilizadas no combate à pandemia de Covid-19.

As informações iniciais também indicaram que, uma vez que empresas ligadas ao esquema “venciam” as licitações, estabelecia-se um valor a ser pago aos agentes públicos que variava de 10% a 20% do valor do contrato. Como forma de não gerar perdas aos empresários, a entrega de bens e serviços era identicamente reduzida na proporção das propinas pagas.

De acordo com a PF, dentre o conjunto de empresas ilegalmente beneficiadas pelo esquema ilícito, há empresas do próprio prefeito, que se valia de sócios de fachada (laranjas) para ocultar sua verdadeira condição de proprietário. O valor dos contratos celebrados pelo município com as empresas investigadas chega ao valor de R$ 43.542.007,20.

QUEM É QUEM SEGUNDO AS INVESTIGAÇÕES

  • Daniel Santana Barbosa (sem partido): prefeito de São Mateus e apontado pela Polícia Federal como líder do esquema criminoso.
  • Luana Zordan Palombo: controladora municipal, chefe de gabinete e braço direito de Daniel. Foi funcionária dele na Mineração Litorânea e  administrava empresas de Daniel em nome de laranjas. Ela é apontada como a responsável pela organização do esquema de fraudes em licitações no município.
  • João de Castro Moreira: conhecido como João da Antártica, é apontado como amigo de Daniel e testa de ferro no planejamento da execução de atividades escusas. Ele seria o responsável por simular compra de imóveis em nome dos filhos e por recolher dinheiro oriundo de propina, segundo as investigações. De acordo com a PF, além de participar de lavagem de dinheiro em compra de imóveis, ele atuava como cabo eleitoral de Daniel.
  • Edivaldo Rossi da Silva: empresário da K&K Gêneros Alimentícios. As investigações apontam que a empresa se beneficiou em pelo menos dois processos de dispensa de licitação conduzidos pela prefeitura de São Mateus. 
  • Yosho Santos: empresário dono da Estrela Shows e Eventos. É apontado nos autos como um parceiro do prefeito, que o auxiliaria colocando em prática esquemas de corrupção e de lavagem de dinheiro.
  • Gustavo Nunes Massete: empresário da Massete Estrutura e Eventos. A empresa aparece em licitações para simular concorrência, como um rodízio, segundo as investigações. Ele também atuava como cabo eleitoral de Daniel;
  • Caio Faria Donatelli: empresário dono da Multiface Serviços e Produções, que seria parceria de Daniel no esquema de desvio de recursos. A empresa tem R$ 36 milhões em contratos com a prefeitura, é alvo de CPI na Câmara de Vereadores e foi contratada para a construção de passarelas de acesso ao mar de Guriri com verba federal R$ 500 mil. De acordo com a PF, o prefeito teria recebido cerca de 10% a 20% do valor do contrato a fim de concretizar o negócio.

O QUE DIZEM OS CITADOS

A Prefeitura de São Mateus informou que o município só vai se manifestar quando tiver acesso aos autos do processo.

A reportagem entrou em contato com o pai de Caio Donatelli , o vereador de Linhares Juarez Donatelli (PV). Ele disse que o filho foi prestar depoimento na Polícia Federal, mas que não recebeu voz de prisão. A decisão do TRF2, no entanto, determina prisão temporária, de cinco dias, de Caio Faria Donatelli.

O advogado, Jayme Henrique, que representa Caio, informou que está seu cliente está na Polícia Federal em São Mateus e que só após a audiência de custódia a defesa vai se pronunciar sobre a prisão.

A Gazeta tenta contato com os outros citados. O texto será atualizado. 

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