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Domingos Martins: personagem do ES na luta pela Independência do Brasil

Domingos Martins: personagem do ES na luta pela Independência do Brasil

O nome do município capixaba foi dado em homenagem ao homem que liderou a Revolução Pernambucana, em 1817, e foi alçado à condição de herói, mas não há consenso; entenda a história

Publicado em 7 de setembro de 2022 às 03:00

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Pintura de Domingos José Martins, personagem do Espírito Santo que foi líder na luta pela independência do Brasil
Quadro de Domingos Martins. (Montagem em foto de divulgação)

Refúgio para muitos visitantes nas temporadas de frio no Espírito SantoDomingos Martins carrega bem mais que as belezas naturais e temperaturas baixas características da região. O nome do município foi dado em homenagem ao homem que liderou a Revolução Pernambucana, em 1817, e foi alçado à condição de herói. Mais que isso: há correntes que o colocam como personalidade na luta pela Independência do Brasil.

Apesar de sua morte ter ocorrido em 1817, cinco anos antes de o País se tornar independente de Portugal, em 7 de setembro de 1822, as ideias que disseminou pelo sonho de libertar o Brasil, liderando revoltas, são consideradas precursoras da Independência.

Em 2011, Domingos José Martins foi incluído no Panteão da Pátria, localizado em Brasília, que reúne, em um livro com páginas de aço, os heróis nacionais. Para fazer parte desse seleto grupo, é preciso aprovação de projeto de lei no Congresso Nacional. Mas é importante observar que os critérios de seleção são subjetivos e podem variar conforme a época.

Mais recentemente, a Rede Nacional de Rádios produziu uma série de reportagens em que apontou 10 personagens considerados importantes para a Independência do Brasil, entre os quais Domingos Martins.

TRAJETÓRIA

Relatos históricos indicam que Domingos José Martins teria nascido na localidade onde é hoje o município de Marataízes, no Sul do Estado, em 1771. Mas há apontamentos também de outros locais de nascimento. De família próspera de comerciantes, foi morar na Europa para estudar e, em Londres, conheceu as ideias liberais da Revolução Francesa.

Quando retornou ao Brasil, em 1813, montou uma filial da empresa da família em Recife, Pernambuco, mas se deparou com dificuldades econômicas e altos impostos cobrados pela Coroa Portuguesa. Tomado pelos ideais revolucionários, Domingos Martins fundou uma loja maçônica, debatia o iluminismo  — liberdade, progresso, estado laico — e discutia problemas da capital pernambucana e do País.

Já em 1817, articulou atos revolucionários em Recife, Salvador (BA) e Rio de Janeiro, simultaneamente, mas o plano foi descoberto. Houve confrontos e, em junho daquele ano, Domingos Martins foi preso e, no dia 12, fuzilado por determinação de Portugal.

HERÓI CAPIXABA

Antes de ser um herói nacional, Domingos Martins já tinha esse título no Espírito Santo havia quase 100 anos. Pesquisa da policial civil Bruna Breda Bigossi, mestra em História Social das Relações Políticas pela Ufes, destaca que, em 1916, quando foi criado o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES), ele foi alçado a essa condição e também a patrono da instituição.

Era, segundo ela, um momento da história do Brasil em que o surgimento de mitos e símbolos era importante para legitimar o regime republicano.

“A construção de Domingos Martins como personagem mítico e heroico se deu na primeira década do século XX, no seio da elite intelectual e política capixaba, que precisava de uma figura que unisse o conceito de ‘república’ e o Estado do Espírito Santo de algum modo para justificar e apoiar o regime, o que pôde ser facilmente encontrado em Domingos José Martins”, observa a historiadora.

Primeira igreja evangélica a ter torre no Brasil foi construída no ES
Praça de Domingos Martins: município homenageia personagem da Independência. (Prefeitura de Domingos Martins )

Questionada sobre a relevância do capixaba, que talvez nem mesmo tenha nascido no Estado, para o processo de Independência, Bruna Breda afirma que há interpretações distintas.

"Há várias disputas narrativas sobre a Revolução Pernambucana. Vê-se que no século XIX, quando a produção sobre o fato foi mais intensa, monarquistas e republicanos tinham visões diferentes acerca do acontecimento”, pontua.

Não há um consenso, acrescenta Bruna, sobre o movimento, se pode ser classificado como uma revolução ou apenas uma insurreição provincial. “Há textos que expõem controvérsias até mesmo sobre o local de nascimento de Domingos Martins, apresentando-o como baiano e português.”

No entanto, a historiadora assegura que não se pode negar a participação ativa de Domingos Martins. “No meu entendimento, porém, nada que o faça ter a relevância de herói para os capixabas. Ele foi, sim, um próspero comerciante, cosmopolita, que transitava por vários círculos sociais, conhecia ideias republicanas e pertencia à maçonaria — as lojas maçônicas eram locais primordiais de discussão de ideias relacionadas à Independência.”

Doutor em Ciência Política e professor de História da Ufes, Ueber José de Oliveira tem ainda mais ressalvas sobre o papel de Domingos Martins. Para ele, a Revolução Pernambucana foi um movimento regional, ou seja, não tem a abrangência propagada que justificasse colocar seus líderes como precursores da Independência brasileira.

“O Brasil possui uma vocação eminentemente regionalista e com tendência ao separatismo. Não por acaso diversas rebeliões tinham esse objetivo.”

O professor Ueber observa, ainda, que Domingos Martins é herói no Espírito Santo, mas não recebe a mesma deferência em Pernambuco, onde liderou a revolução.

“Ele era, sim, um grande comerciante, riquíssimo, inclusive tinha negócios aqui e em Londres. Mas, do ponto de vista da sua base doutrinária, é um sujeito obscuro, não deixou escritos sobre o que pensava, suas ideias, nem o que fez”, conclui.

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