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Doria aproveita fritura feita por Bolsonaro e tenta atrair Moro

Doria aproveita fritura feita por Bolsonaro e tenta atrair Moro

João Doria não fez convite formal ao ministro, mas diversos recados vêm sendo dados por interlocutores comuns dos dois

Publicado em 29 de agosto de 2019 às 07:09

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João Doria (PSDB). (Reprodução/Twitter )

O ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) é o novo ativo político desejado pelo governador João Doria (PSDB-SP), que busca aproveitar-se da crise entre o ex-juiz símbolo da Operação Lava Jato e o chefe, o presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Para aliados do tucano, a vice-presidência numa chapa encabeçada por Doria em 2022 pode ser a isca para fisgar o ministro à sua equipe, quebrar um alicerce do bolsonarismo e formar o que os mais empolgados chamam de "dupla matadora".

Doria não fez convite formal ao ministro, mas diversos recados vêm sendo dados por interlocutores comuns dos dois. Nesta terça (27), o governador falou a repórteres sobre o assunto após um evento em São Paulo, dando a deixa mais explícita até aqui.

"Quem não gostaria?", perguntou, ao ser questionado se gostaria de Moro em sua equipe. "Foi um grande juiz, é um grande ministro. Não há convite, há admiração", disse o tucano, relembrando a parceria com o Ministério da Justiça na remoção de 25 líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) de São Paulo.

A saída é vista pela área de segurança do estado como responsável por alguns dos bons números que a gestão Doria vem apresentando de redução de criminalidade nestes primeiros meses do governo.

O governador vem se movimentando acentuadamente para tentar diferenciar-se de Bolsonaro, após ter sido eleito em 2018 com uma ajuda fundamental da campanha conjunta "BolsoDoria" no segundo turno contra Márcio França (PSB).

Desde que assumiu o governo e começou a enfrentar todo tipo de desgaste, a maioria autoinfligido segundo avaliação corrente nos partidos de centro, Bolsonaro viu refluir de sua base de apoio o eleitorado de centro e centro-direita que havia votado nele amparado nos discursos anticorrupção e antipetista.

O presidente ainda tem confortáveis um terço do eleitorado, mas eles parecem hoje divididos entre os bolsonaristas radicais e aqueles elementos antiestablishment, a contar com a avaliação de pesquisas qualitativas de partidos. O antipetismo é mais espraiado pelos diversos grupos que apoiaram Bolsonaro, mas aí Doria sempre esteve bem colocado.

E o voto anticorrupção, fortemente atrelado à ação da Lava Jato que Moro simbolizou desde 2014, está na praça. Não só ele: o próprio ministro vem sofrendo uma campanha diária de humilhações por parte do presidente, que lhe retirou um aliado à frente do antigo Coaf (que foi extinto para renascer sob as asas do Banco Central) e passou a semana passada dizendo que poderia trocar o diretor da Polícia Federal quando quisesse.

Isso é verdade, mas do jeito que vem sendo colocada a atitude de Bolsonaro indica a pura e simples fritura de Moro. Motivos: o prestígio ainda associado ao ex-juiz, que o presidente considera a antessala para uma candidatura presidencial dissidente em 2022, e as investigações que Moro não coibiu acerca dos elos entre a família do mandatário e milicianos no Rio.

Isso levou, como a Folha de S.Paulo relatou, a uma discussão acalorada entre ambos recentemente e ao esfriamento público, quase diário, da relação dos dois. Segundo um líder partidário com acesso a Moro, o ex-juiz reclama que trouxe prestígio ao governo, mas só ganhou críticas de volta.

Moro foi o grande trunfo apresentado por Bolsonaro durante a transição de governo, que até então só tinha como nome reconhecido o economista Paulo Guedes, que viria a ser o chefe da área.

Ao aceitar ser ministro, o juiz que colocou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cadeia ganhou imediatamente a acusação de ter orientado seu trabalho para remover um adversário central de Bolsonaro em 2018, recebendo a cadeira em troca.

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Moro nega isso, mas sua situação ficou mais delicada com as revelações do site The Intercept Brasil sobre mensagens trocadas entre ele e procuradores da Lava Jato. Para alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, elas indicam parcialidade do então juiz.

Para Doria, isso é irrelevante. Ele já concedeu uma medalha a Moro e fez elogios públicos a ele quando o escândalo do Intercept veio à tona. Agora, estende o tapete do Palácio dos Bandeirantes a ele, não sem causar a pergunta óbvia: estaria convidando para sua casa um potencial adversário em 2022?

Aí entra na equação a sugestão da oferta da vice. Moro sofreu desgaste nos últimos meses, embora retenha popularidade alta. Um operador político de Doria em Brasília afirma que o governador está ciente disso, mas considera que a disputa presidencial está tão distante que o bônus de retirar o símbolo anticorrupção do governo é bem maior que o eventual ônus lá na frente.

Para deixar o governo, Moro já teria até uma desculpa: a falta de resposta de Guedes a seu pedido para ampliação orçamentária do ministério em 2020.

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Restaria saber onde encaixá-lo em São Paulo, dado que no estado a pasta da Justiça é lateral e a da Segurança Pública, central, mas cujo titular, o general da reserva João Camilo Pires de Campos, tem tido o trabalho bem avaliado.

A fusão de ambas as secretarias deixaria o militar sem teto, o que obrigaria a outras acomodações. Parece algo menor, contudo, dado o tamanho do gol político que roubar Moro de Bolsonaro teria.

Em seu esforço de diferenciação do presidente, Doria já o criticou abertamente em diversos episódios recentes, buscando qualificar Bolsonaro como alguém dado a posições mais extremas. O faz com luvas de pelicas, contudo.

Na semana retrasada, aproveitou a expulsão do deputado federal Alexandre Frota do PSL-SP para filiá-lo, não sem contestação judicial da velha guarda tucana, ao PSDB. O caso ainda pode ter novos capítulos, e Doria sofreu um revés interno ao não conseguir ver o deputado Aécio Neves (MG) expulso da sigla na semana passada.

Doria também é muito próximo de Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo Bolsonaro no Congresso. Para muitos de seus aliados, ele apoiará informalmente a deputada se ela quiser ser candidata a prefeita paulistana no ano que vem, ainda que oficialmente dará suporte à postulação de Bruno Covas (PSDB) à reeleição.

No sempre convulsionado PSL, a líder é acusada por colegas de fazer jogo duplo. Ela, por sua vez, nega e afirmou recentemente que Moro tem apoio do governo para permanecer no cargo -apesar do bombardeio quase diário de Bolsonaro.

Por fim, Doria já havia aberto uma cunha no bolsonarismo original ao atrair para presidir o PSDB no Rio o empresário Paulo Marinho, peça-chave da campanha do então presidenciável em 2018 e suplente do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do mandatário.

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O empresário é próximo de Gustavo Bebianno, que foi o primeiro ministro a ser expelido do Planalto pelo presidente, e que vem dando declarações favoráveis a uma candidatura de Doria em 2022.

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