A novela da eleição para o diretório estadual do MDB no Espírito Santo, que poderia chegar ao fim, ganhou mais um capítulo. A convenção estava marcada para as 9h deste domingo (16), mas no sábado (15) foi cancelada.
A decisão foi da comissão estadual provisória do partido no Estado, comandada pelo ex-deputado federal Lelo Coimbra. Havia duas chapas inscritas, a de Lelo e a do grupo do também ex-deputado Marcelino Fraga.
Aliados de Marcelino, aliás, improvisaram uma eleição neste domingo, na Praça Getúlio Vargas, Centro de Vitória, em frente ao hotel em que, originalmente, a eleição seria realizada.
Não foi a primeira vez que a convenção foi convocada, mas acabou não ocorrendo. A disputa entre os grupos de Lelo e Marcelino, antes de se dar pelo voto, ocorre há meses no Judiciário e nas instâncias do MDB nacional.
No edital de cancelamento, datado de sábado, a comissão provisória elenca os motivos para a adoção da medida, entre eles o fato de a chapa "Muda MDB", de Marcelino, concorrer sub judice, por força de decisão judicial provisória.
A chapa teve a inscrição indeferida pela comissão provisória, sob a alegação de que Marcelino possui condenação judicial em segunda instância. Assim, feriria uma cláusula anticorrupção. Mas o grupo conseguiu se manter na disputa por determinação da Justiça.
O edital também cita "insegurança jurídica" e finaliza mencionando que seria impossível realizar a convenção "sem interferências externas".
Em vídeo, Lelo Coimbra tratou do tema: "Devido ao ambiente hostil que se consolidou nesta reta final da convenção, com pressões externas absolutamente indevidas e que se repetiram, como das outras vezes e, especialmente, com uma insegurança jurídica muito importante, atendendo aos apelos de vários convencionais, resolvemos cancelar a convenção de domingo, que se realizaria às 9h".
"Seguimos fortes, seguimos firmes e pedimos a compreensão de todos na certeza de que este é o melhor caminho. Queremos um MDB que seja capaz de cumprir o seu papel, não um MDB que esteja submetido a pressões que não fazem parte da nossa história", complementou.
Lelo não mencionou de onde partiriam as pressões externas. Pessoas próximas ao emedebista, no entanto, apontam interferência até de integrantes do governo do Estado, que tentariam angariar votos para a chapa de Marcelino entre os delegados (os emedebistas aptos a votar).
Em novembro de 2019, a convenção também foi suspensa com o apontamento de interferências externas. Na época, o governo divulgou nota e negou qualquer influência. "O governo do Espírito Santo entende que disputas internas são inerentes à vida das agremiações políticas e só dizem respeito aos seus dirigentes, filiados e militantes", dizia o texto.
Neste domingo, a reportagem acionou a Secretaria de Estado de Governo, mas não houve retorno até a publicação deste texto.
O deputado estadual José Esmeraldo, que integra a chapa Muda MDB, diz que ele e outros aliados de Marcelino Fraga foram impedidos, por correligionários de Lelo, de entrar no hotel em que a convenção seria realizada.
Assim, caixas de papelão sobre mesas de plástico viraram urnas e a Praça Getúlio Vargas, em frente ao hotel, o novo local da convenção, improvisada.
Questionados pelo colunista de A Gazeta Vitor Vogas sobre o caráter dessa votação, se seria algo apenas simbólico, um ato político, ou se eles acreditam na legalidade do pleito, tanto Marcelino quanto Esmeraldo escolheram a segunda opção.
Para eles, e para o advogado da chapa, Luciano Ceotto, o edital de cancelamento publicado por Lelo é que não teria validade.
"O oficial de justiça esteve presente, registrou a ausência da executiva do MDB. Não existe ata da executiva de cinco membros com dois assinando. Não tem nenhuma validade, foi assinada pelo Lelo e pelo Chico (Donato). Só isso aí já é um erro enorme, quanto mais fazer o eleitorado do Espírito Santo de bobo", afirmou Marcelino.
"Eles sabiam que iam perder", disse Esmeraldo.
Depois, aliados de Marcelino divulgaram o resultado da votação: "39 votos no total, sendo 37 em Marcelino Fraga e dois em Lelo Coimbra".
Para aliados de Lelo, o pleito improvisado não tem qualquer validade e contraria posicionamentos da comissão provisória estadual e da executiva nacional do partido.
O deputado estadual Hércules Silveira, o Doutor Hércules, historicamente aliado a Lelo, participou do pleito. Ele afirmou que caberá à Justiça dizer se a votação foi válida ou não e preferiu não revelar em quem votou.
"Eu tenho direito a dois votos, como líder do partido e como deputado. O voto é secreto, não gostaria de revelá-lo", pontuou. A presença do deputado no pleito foi lida por aliados de Marcelino como uma legitimação à votação. Mas não é esse o tom de Doutor Hércules.
"Votei porque sou líder do partido. Ficaria muito ruim eu ficar totalmente ausente", justificou.
"O juiz deu à chapa do Marcelino condições de fazer a convenção. Agora está essa briga. Quem manda mais, o estatuto do partido ou o juiz? Fico muito triste com isso tudo que está acontecendo. Gostaria que resolvesse isso logo, desgasta muito a gente, os militantes do partido."
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