Além de definir os nomes dos que vão comandar 73 das cidades do Espírito Santo, o resultado da eleição do último domingo (15) mexeu com o tabuleiro das forças políticas e partidárias capixabas. Enquanto novos nomes e partidos emergiram das urnas até com certa surpresa, mesmo que em alguns casos não levando a vitória, alguns políticos tradicionais do Estado saíram perdendo tanto de forma direta, com a derrota na disputa, quanto indiretamente, através de apoios que não prosperaram.
A Gazeta analisou os resultados dos 73 prefeitos já eleitos (o resultado de Boa Esperança ainda está sob análise da Justiça Eleitoral) e dos candidatos que ainda vão brigar no segundo turno nas quatro maiores cidades do Estado e também conversou com analistas políticos para avaliar quem saiu ganhando ou perdendo do primeiro turno. Veja o sobe e desce abaixo:
Em termos proporcionais, o maior crescimento no Estado em número de prefeitos foi do Republicanos (antigo PRB), partido do atual presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, e do deputado federal Amaro Neto. A sigla fez nove prefeitos, ante a apenas um na eleição passada.
Mas o grande destaque do partido foi em Vitória, principal vitrine política do Estado entre as prefeituras, com a chegada em primeiro lugar do delegado e deputado estadual Lorenzo Pazolini, com 30,95% dos votos válidos, contra 21,82% do segundo colocado, o ex-prefeito João Coser (PT), com quem vai disputar no segundo turno.
Se quando havia poucos dias para o primeiro turno da eleição a disputa em Vitória tinha Coser e o deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania) como líderes de intenção de voto, conforme o Ibope, assim como em Vila Velha corriam na frente o atual prefeito Max Filho (PSDB) e o ex-prefeito Neucimar Fraga (PSD), na reta final do primeiro turno, Pazolini, na Capital, e Arnaldinho Borgo (Podemos), no município canela-verde, cresceram muito rapidamente e surpreenderam.
Ambos começaram a corrida eleitoral em terceiro nas pesquisas e terminaram o primeiro turno em primeiro, com votações bem superiores à dos candidatos que terminaram na segunda colocação. Pazolini teve quase 15 mil votos de vantagem sobre Coser. O Ibope já havia mostrado o deputado do Republicanos empatado com Gandini e Coser na véspera da eleição. Mas Pazolini foi além.
Já Arnaldinho, que ficou com 36% dos votos válidos, mais de 26 mil votos à frente de Max Filho, que é quem ele enfrenta no segundo turno.
"Se no começo parecia que as pessoas vinham buscando pela experiência, nos últimos dias a figura do 'novo' veio com força, fazendo emergir na Grande Vitória as figuras do Arnaldinho e do Pazolini, que foram dois fenômenos da reta final do primeiro turno", analisou o cientista político João Gualberto Vasconcellos.
Também surpreenderam as chegadas de Célia Tavares (PT) e de Fábio Duarte (Rede) ao segundo turno em Cariacica e na Serra, respectivamente. Ambos ficaram em segundo lugar, mas não vinham despontando como favoritos nas pesquisas para conseguir uma vaga na segunda etapa da disputa.
Para analistas, apesar de serem estreantes na disputa pela vaga de prefeito, o crescimento repentino dos dois mostra menos uma busca do eleitor por um novo nome e sim uma força ainda grande dos seus padrinhos políticos e apoiadores principais: o deptado federal e ex-prefeito Helder Salomão (PT), no caso de Célia, e do atual prefeito da Serra, Audifax Barcelos (Rede), principal fiador da campanha de Fábio.
Se por um lado os nomes menos favoritos se deram bem na Grande Vitória, nas principais cidades do interior os atuais prefeitos se reelegeram sem dificuldades. Como mostravam as pesquisas Ibope, Victor Coelho (PSB) conseguiu mais um mandato com folga em Cachoeiro de Itapemirim, com 53,25% dos votos válidos contra 17,74% do segundo colocado, Diego Libardi (DEM).
Já em Linhares, Guerino Zanon (MDB) vai governar a cidade pela quinta vez, tendo sido reeleito com 54,44% dos votos válidos. Vitória também já indicada nas pesquisas eleitorais. Em São Mateus, Daniel da Açaí (PSDB) conseguiu mais um mandato, com 36,42% dos votos.
Em Colatina, e também em Linhares e São Mateus, as surpresas ficaram mesmo por conta dos candidatos que chegaram em segundo lugar e foram muito além do esperado. Nas três cidades os favoritos levaram, mas os opositores tiveram votações expressivas. Em São Mateus, o prefeito Daniel Santana teve pouco mais de 1.500 votos de vantagem sobre o segundo colocado, o radialista Carlinhos Lyrio (Podemos).
O ex-prefeito Guerino Balestrassi (PSC), favorito em Colatina, ficou com apenas 631 votos à frente de Luciano Merlo (Patriota). No percentual de votos válidos, o placar foi de 34,08% a 33,01%.
Já em Linhares, a diferença do primeiro para o segundo foi bem maior, mas chamou atenção a votação de Lucas Scaramussa (DC), que recebeu votos de 22,162 eleitores e ficou com 29,01% dos votos válidos contra 54,44% de Guerino Zanon.
Pela primeira vez, o PSOL conseguiu eleger um vereador em Vitória e para qualquer cargo no Estado inteiro. O partido, criado em 2004 como uma dissidência do PT nos primeiros anos do governo Lula, elegeu a assistente social Camila Valadão.
Ela foi a segunda mais votada para a Câmara da Capital, com mais de 5,6 mil votos. Camila havia sido a quinta mais votada em 2016, mas não conseguiu uma vaga em função do sistema de voto proporcional.
Em 2016, o PT fez apenas uma prefeitura no Espírito Santo, em Barra de São Francisco, mas acabou a perdendo no meio do caminho com a desfiliação do prefeito. Agora, em 2020, o partido seguiu com nenhum prefeito eleito, mas, por outro lado, se cacifou para o segundo turno em duas das maiores cidades do Estado.
Os dois únicos candidatos da sigla na Grande Vitória seguem na disputa. Em Cariacica, com Célia Tavares, e em Vitória, com João Coser. Os dois municípios, aliás, já foram governados pelo partido entre 2005 e 2012 com o hoje deputado federal Helder Salomão e com o próprio Coser.
Na Capital, o PT também conseguiu reconquistar uma cadeira na Câmara Municipal após quatro anos sem representante na Casa. A vaga será ocupada por Karla Coser, filha de João, que teve 1.961 votos.
No restante do Estado, no entanto, o partido não foi bem. Não elegeu, por exemplo, nenhum prefeito no primeiro turno. Fora da Grande Vitória nem há possibilidade de 2º turno, que ocorre somente em cidades com mais de 200 mil eleitores. Mesmo com uma vitória magra, portanto, chega-se ao comando de prefeituras do interior. Mas o PT não chegou. Elegeu apenas um vice-prefeito, Efrem, de Águia Branca, cidade de dez mil habitantes.
Em número de prefeitos eleitos, o PSB, partido do governador Renato Casagrande, foi o grande vitorioso. A sigla dobrou seu desempenho de 2016, quando elegeu seis prefeitos, vencendo agora em 13 municípios. Nas maiores cidades, o único resultado positivo que o partido colheu foi em Cachoeiro de Itapemirim, onde o prefeito Victor Coelho foi reeleito com 53,25% dos votos válidos.
Apesar do sucesso no interior, nos maiores municípios do Estado o PSB teve um desempenho pífio. Em Vitória, o atual vice-prefeito, Sérgio Sá, candidato do partido, ficou em 7º lugar, com apenas 4,15% dos votos válidos. Em Cariacica, o ex-vereador Saulo Andreon ficou na 10ª posição. Na Serra, o deputado estadual Bruno Lamas ficou em 5º lugar, com 5,13% dos votos.
Já em Guarapari, cidade onde o PSB apostava suas fichas na chapa encabeçada pelo ex-vereador Gedson Merízio e que, inclusive, foi uma das poucas candidaturas que contou com a participação de Renato Casagrande (que gravou vídeo de apoio ao candidato), a sigla terminou na terceira colocação com 16,71% dos votos válidos.
O Cidadania, antigo PPS, que na eleição passada só tinha eleito dois prefeitos, mas justamente em duas das maiores cidades do Estado (Vitória e Cariacica), deixará o comando dos dois municípios em dezembro. Em Cariacica, o partido não havia sequer lançado nome para defender o legado e disputar a sucessão do prefeito Juninho, que está encerrando o segundo mandato.
Já em Vitória, principal reduto da sigla no Estado e que é administrada por Luciano Rezende há oito anos, o candidato apoiado pelo prefeito, o deputado estadual Fabrício Gandini, não conseguiu uma vaga no segundo turno e ficou em terceiro lugar atrás de Pazolini e Coser.
Na Capital, o partido também perdeu uma das quatro vagas de vereador que ocupa na legislatura atual, com a não reeleição do ex-presidente da Câmara, Vinícius Simões, e conseguiu três cadeiras na Câmara: Denninho Silva, Luiz Emanuel e Mauricio Leite.
Pelo lado do copo meio cheio, o Cidadania foi o segundo partido que mais fez prefeitos no Estado em 2020: foram nove eleitos, empatado com o Republicanos. A sigla levou em Aracruz, Águia Branca, Conceição do Castelo, Dores do Rio Preto, Governador Lindenberg, Jaguaré, Pinheiros, Piúma e Venda Nova do Imigrante.
É bem verdade que o governador ficou bem distante da disputa no primeiro turno. Uma das pouquíssimas exceções em que ele manifestou apoio explícito foi para Gedson Merízio (PSB), em Guarapari. Apesar disso, Casagrande acabou colhendo algumas vitórias e sofrendo derrotas no primeiro turno.
A reeleição de Victor Coelho (PSB), seu aliado de primeira hora em Cachoeiro de Itapemirim, foi uma das vitórias. O avanço do PSB pelas prefeituras do interior também, bem como o aumento do número de prefeitos dos partidos da base governista. Juntos, PSB, Cidadania, PDT, PP e Podemos, os mais próximos do Palácio Anchieta, fizeram 35 prefeitos no Estado.
Já entre as perdas, uma foi a candidatura de Gedson Merízio, que terminou em terceiro lugar na disputa em Guarapari mesmo com o apoio direto do governador. Mas a maior derrota, sem sombra de dúvidas, foi na Capital, onde os dois candidatos declaradamente governistas mesmo que sem o apoio explícito do governador ficaram pelo caminho.
Para além da derrota do vice-prefeito Sergio Sá (PSB), do seu partido, que teve apenas 4,15% dos votos, ficou para trás o deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania), que terminou em 3º lugar e não avançou para o segundo turno, que será disputado entre Pazolini e Coser.
"É uma perda para o grupo governista uma vez que um segundo turno entre Republicanos e PT não é melhor dos mundos para o governador. Mas trata-se de uma derrota que se deve à divisão do grupo político. Se PSB e Cidadania tivessem caminhado juntos, talvez Gandini poderia ter passado (para o segundo turno). A soma de votos do Sérgio Sá e do Gandini daria para ele ir para o segundo turno", analisou João Gualberto.
O deputado federal Amaro Neto (Republicanos) fez campanha em vários municípios do Estado apoiando candidatos a prefeito, e colheu resultados positivos e negativos. Com a ajuda, o partido avançou pelo Espírito Santo no número de prefeituras. Ele, que disputou a Prefeitura de Vitória em 2016, também pode conseguir ter um aliado lá, caso Lorenzo Pazolini saia vencedor.
Entre os apoiados por Amaro Neto, destaca-se o prefeito de Guarapari, Edson Magalhães (PSDB), que foi reeleito, além da vitória de outros aliados em municípios menores como em Itapemirim, com Thiago Peçanha (Republicanos), e Brejetuba, com Levi da Mercedinha (PDT).
Já entre as derrotas estão a do ex-prefeito Reginaldo Quinta (DEM), em Presidente Kennedy, e a do ex-deputado estadual Sandro Locutor (PROS), que disputou a Prefeitura de Cariacica e não conseguiu uma vaga no segundo turno, ficando na 4ª posição. Amaro fez campanha de rua ao lado de Sandro e também gravou vídeos de apoio mesmo com o seu partido estando na chapa da Euclério Sampaio (DEM), que foi o mais votado na cidade e disputa do segundo turno.
Após oito anos à frente da Prefeitura de Vitória, Luciano Rezende (Cidadania) não conseguiu fazer um sucessor e ainda viu seu candidato sair do jogo logo no primeiro turno.
O partido e ele próprio apostavam alto na candidatura de Gandini, que, por pouco, perdeu o segundo lugar na disputa para João Coser (PT) e não avançou ao segundo turno.
Os partidos que mais perderam espaço nas prefeituras capixabas foram o MDB e o PSDB. Em 2016, o MDB, que era o partido do então governador Paulo Hartung (hoje sem partido), foi o campeão absoluto em número de prefeitos eleitos, conquistando 17 cidades. Em 2020, a sigla ganhou em oito municípios.
Já o PSDB, que tinha César Colnago como vice-governador na época, havia ganhado 13 prefeituras na eleição passada e, agora, ficou com apenas quatro. Os tucanos, porém, ainda vão disputar o segundo turno em Vila Velha, onde o prefeito Max Filho tenta a reeleição. Ele ficou em segundo lugar no domingo, com 22,91% dos votos, atrás de Arnaldinho Borgo (Podemos).
Apesar disso, emedebistas e tucanos mantiveram o comando de cidades importantes, com as reeleições de Guerino Zanon (MDB), em Linhares, Edson Magalhães (PSDB), em Guarapari, e Daniel da Açaí (PSDB), em São Mateus. Em 2016, os dois partidos formavam a base de sustentação do governo Hartung.
Também não tiveram sucesso os candidatos que buscaram na campanha se reafirmar como de direita e ligados ao bolsonarismo. Apoiados pelo ex-deputado federal Carlos Manato, que fez campanha em várias cidades para os aliados, nenhum deles conseguiu uma declaração de apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Destacam-se as derrotas de Capitão Assumção (Patriota), que terminou em 4º em Vitória; e de Amarildo Lovato (PSL), que ficou em 5º na disputa pela Prefeitura de Vila Velha.
Já em Cariacica, com Subtenente Assis (PTB), e na Serra, com Vandinho Leite (PSDB), o grupo teve resultados melhores, com ambos chegando na terceira colocação e com uma distância pequena para o segundo, mas eles não avançaram ao segundo turno.
Em Vila Velha, Neucimar Fraga (PSD) não conseguiu, pela terceira vez, voltar à prefeitura. Além dele, saiu perdendo também seu vice, Ricardo Chiabai (Cidadania), que antes era apontado como um nome forte para compor chapa com Arnaldinho Borgo (Podemos), que segue na disputa após ter sido o mais votado no domingo.
Na convenção do Podemos, Chiabai chegou a subir no palanque demonstrando apoio a Arnaldinho. Mas, de última hora, fez uma manobra repentina, surpreendendo até mesmo o candidato do Podemos, e optou pela vaga de vice na chapa de Neucimar.
Outra derrota foi para o deputado estadual Doutor Hércules (MDB), que, como em outros anos, ensaiava lançar sua candidatura em Vila Velha, mas acabou optando pela aliança com Neucimar. O parlamentar pediu votos para o ex-prefeito durante todo o período de campanha e intensificou o contato com o eleitor quando Neucimar teve Covid-19.
O senador Marcos Do Val (Podemos) fez poucos vídeos declarando apoio a candidatos a prefeito, mas as três campanhas em que mais participou não tiveram êxito. Em Vitória, o apoiado era Gandini (Cidadania). Em Cariacica, ele gravou vídeos pedindo votos para Adilson Avelina (PSC), que terminou na 11ª colocação. Avelina foi assessor de Do Val no Senado.
Mas a campanha em que Do Val participou mais ativamente foi a do Coronel Carlos Wagner (PL), candidato a prefeito em Vila Velha, que também não chegou ao segundo turno e ficou em 4º, com 6,73% dos votos válidos.
O ex-senador Magno Malta (PL) fez campanha para vários candidatos do partido, sobretudo usando as redes sociais. No sábado (14), véspera da votação, ele fez várias publicações mostrando todos os seus apoiados pelo Estado. Nenhum deles venceu.
Os pedidos de votos foram para Halpher Luiggi (Vitória), Alexandre Xambinho (Serra), Coronel Wagner (Vila Velha), Jonas Nogueira (Cachoeiro), Nilis Castberg (São Mateus), entre outros. Todos tiveram pequenos percentuais de votos.
O PL de Magno pode apoiar, oficialmente ou não, no entanto, o deputado estadual Lorenzo Pazolini no segundo turno em Vitória.
Também saíram das urnas com derrotas os atuais presidentes das Câmaras Municipais de Vila Velha e de Vitória. Na Capital, Cléber Félix (DEM) não foi reeleito e ficou como primeiro suplente do vereador reeleito por seu partido, Sandro Parrini (DEM).
Já em Vila Velha, Ivan Carlini (DEM), que é vereador do município há sete mandatos, ou seja, 28 anos, ficou de fora da próxima legislatura. Ele ficou como primeiro suplente do vereador reeleito Rogério Cardoso (DEM).
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