Com as campanhas eleitorais já presentes nas ruas e também nas telas e as eleições municipais de novembro se aproximando, as pesquisas eleitorais são instrumentos que reaparecem no contexto político, com um grande potencial de auxiliar no processo decisório.
Os questionários feitos aos entrevistados para elaborar uma pesquisa contam com uma série de perguntas que, depois, vão gerar outros vários índices de resultado. Mas em meio a tantas informações, o que é mais importante para entender o retrato das intenções de voto?
É preciso ter em mente que as pesquisas eleitorais tentam "prever" o que vai acontecer quando chegar o dia da votação. E a evidência existente até agora é de que, na maioria das vezes, os levantamentos são bem sucedidos nesta tarefa, principalmente quanto mais perto estão da data do pleito.
Muito mais do que um único percentual, as pesquisas são um conjunto de informações que contam a história da eleição. Ao longo da campanha, elas servem para mostrar tendências e como a opinião pública está reagindo aos fatos e estímulos envolvendo os candidatos.
Entender o universo das pesquisas é importante, pois também é possível que durante a campanha surjam informações nas redes sociais mencionando levantamentos que não existem, para favorecer este ou aquele candidato. Para saber se uma pesquisa foi realmente feita ou não, basta consultar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Todas as pesquisas confiáveis feitas no país estão registradas neste banco de dados da Justiça Eleitoral.
Nas eleições de 2020, A Gazeta contratou o Ibope para realizar pesquisas de intenção de voto nas seguintes cidades: Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra, Colatina, Cachoeiro de Itapemirim e Linhares.
Entenda o que é importante para entender as pesquisas eleitorais:
As intenções de voto, ou seja, em quem a pessoa pretende votar, são sempre os primeiros resultados apresentados nas pesquisas.
Aos entrevistados, no questionamento da intenção espontânea, a pergunta feita é: "se as eleições fossem hoje, em quem você votaria?". Sem informar previamente quais são os candidatos.
No caso da estimulada, o entrevistado deve responder o seguinte: "se as eleições fossem hoje, e os candidatos fossem estes, em quem você votaria?", com a apresentação dos nomes dos concorrentes.
O resultado final desses dois itens da pesquisa deve ser analisado pelo eleitor conjuntamente, segundo a diretora do Ibope, Márcia Cavallari.
"A pergunta espontânea é muito importante porque vai mostrando qual é o grau de conhecimento que as pessoas têm dos candidatos e como está o envolvimento com a eleição. É comum, agora, nessas primeiras pesquisas, ainda ter um índice muito alto de quem não sabe em quem vai votar. Já na estimulada, muita gente está vendo aqueles candidatos pela primeira vez, mas consegue optar por um".
Durante a campanha, é comum que o resultado da espontânea vá se aproximando da estimulada, explica ela. "Quanto mais próximo, significa que aquela declaração de voto está mais consolidada. E quando você tem uma espontânea com índice muito alto de indecisos, e na estimulada é baixo, significa que é uma primeira preferência da pessoa, e tudo ainda pode mudar."
O cientista político, doutor pela USP e pesquisador da FGV-SP Humberto Dantas acrescenta que a intenção de voto espontânea deve ser analisada observando a data da pesquisa. "Quanto mais longe, menos eferverscência e debate público existe. Quando está mais perto, o eleitor já está sabendo do cenário, já está contaminado pelo debate, e aí passa a fazer mais sentido olhar para esse dado, que será mais próximo do resultado fiel", comenta.
Alguns fatores do comportamento do eleitor também influenciam o resultado de uma pesquisa. Os especialistas avaliam que as pessoas estão definindo o voto cada vez mais tarde, na última hora. Muitos preferem esperar até o último debate, ou se não vai aparecer nenhuma denúncia contra aquele candidato. Em uma eleição municipal com a campanha curta, ao surgir um fato novo, uma mudança nos resultados pode aparecer de forma muito rápida.
Por esta razão, e como a pesquisa é um retrato do momento, seus resultados têm de ser tratados como uma fonte a mais de evidência no contexto analisado. Não se pode considerar os resultados de uma pesquisa feita uma semana antes da eleição como necessariamente o prognóstico eleitoral, segundo os especialistas. É preciso também ter sempre claro que as pesquisas não são infalíveis, pois seus resultados não representam números exatos, mas sim estimativas.
"Analisando eleições recentes, podemos encontrar diversos resultados que mudaram significativamente de um dia para o outro. Com frequência, as viradas acontecem nos últimos dias que antecedem a eleição. Portanto, as pesquisas devem sempre ser inseridas no contexto no qual foram realizadas", ressalta a diretora do Ibope.
O questionamento feito aos entrevistados nas pesquisas sobre "em qual candidato eles não votariam em hipótese alguma", para chegar ao índice de rejeição, também pode significar muito em uma campanha eleitoral, de acordo com o professor Humberto Dantas.
"Principalmente onde há segundo turno, se o candidato tem índices de rejeição significativamente elevados, ele pode perder para ele mesmo. Isso porque nesta segunda votação, muitos eleitores vão optar pelo 'voto útil', votando no adversário desta pessoa não por suas propostas, mas para que aquele que ela não gosta não ganhe", comenta.
Os índices de avaliação do governo para os gestores que estão no cargo também podem indicar alguns resultados. Se o prefeito está concorrendo à reeleição e ele está bem avaliado, pode significar uma intenção de voto mais assertiva, mais robusta, por exemplo.
"O que se vê é que prefeitos bem avaliados estão largando nas pesquisas bem posicionados. E para os que não estão bem avaliados, é possível ver para onde pode estar indo o voto dele. Ou se ele estiver apoiando alguém, dá para ver a força daquele gestor", explica Márcia Cavallari.
Um equívoco comum na leitura dos dados de uma pesquisa eleitoral é divulgar tendência de subida ou queda de determinada candidatura a partir de diferenças mínimas no resultado, que não caracterizam estatisticamente uma tendência.
Segundo a diretora do Ibope, só é possível chegar à conclusão de que uma candidatura está crescendo ou caindo se houver vários períodos consecutivos de medição, com pelo menos três deles seguindo na mesma direção.
Em uma sequência de três pesquisas, por exemplo, se o candidato A registrar, respectivamente, 32%, 30% e 31% das intenções de voto, não se pode afirmar que há uma tendência de crescimento ou queda: a oscilação dos resultados está dentro das margens de erro da pesquisa.
Mas se esse candidato registrasse 32%, 34% e 38%, mesmo as diferenças estando dentro das margens de erro das pesquisas, neste caso estaria diagnosticada uma tendência de crescimento.
"Para se dizer que um determinado candidato cresceu ou caiu sem errar, é preciso analisar a evolução do seu desempenho numa série de pesquisas e não somente comparar, isoladamente, a pesquisa atual em relação à anterior", demonstra.
Toda pesquisa possui uma margem de erro associada, que vem de uma fórmula matemática calculada em função do tamanho da amostra e dos resultados obtidos na pesquisa. A margem de erro divulgada refere-se a uma estimativa de erro máximo, considerando-se um modelo de amostragem aleatória simples.
Se há uma margem de erro de dois pontos percentuais, entendemos que um resultado de 25% pode apresentar uma variação de dois pontos, para mais ou para menos, e deve ser lido como um intervalo de 23% a 27%. As pesquisas eleitorais costumam variar entre 2% e 4% de margem, para mais ou para menos.
E por que os institutos não conseguem eliminar a "margem de erro" que existe nas pesquisas? Basicamente, porque seria preciso entrevistar todos os eleitores da região avaliada, segundo Márcia Cavallari. "Quanto mais entrevistas você faz, mais cai a margem de erro. Mas, a partir de um certo ponto, você pode aumentar o quanto quiser a sua amostra o número de entrevistas que a margem de erro varia pouco", conta.
Muitas pesquisas podem fazer também simulações de resultados de 2º turno, ainda antes de ter ocorrido o 1º turno. Neste caso, são testados somente os nomes dos primeiros colocados nas intenções estimuladas de voto, e aqueles que apareçam empatados tecnicamente com eles, por serem os candidatos com maior probabilidade de efetivamente ir ao 2º turno.
Ou seja, os institutos de pesquisa colocam como opções para os entrevistados somente aqueles candidatos que estejam alcançando intenções de voto que os colocariam, numericamente, no 2º turno. Inclusive aqueles que estejam em situação de empate técnico, ainda que perto do limite
Isso porque, em geral, no 1º turno há um grande número de candidaturas, e testar todos os cenários não trariam interpretações conclusivas para a análise do eleitor.
Os especialistas também apontam que é preciso cuidado ao fazer comparações de resultados obtidos por diferentes institutos de pesquisa. Eles podem significar apenas que os métodos usados foram diferentes, e não que a opinião pública realmente mudou.
Vale ressaltar, contudo, que o fato de uma pesquisa produzir resultados diferentes de outras não quer dizer que ela esteja errada. De toda forma, é importante reconhecer quando os resultados de uma pesquisa são atípicos para poder analisar as causas desse movimento.
Com os métodos certos, as pesquisas eleitorais são capazes de apresentar o pensamento e as tendências de voto de um grupo tão grande quanto o universo de todos os 147 milhões de eleitores do país, por exemplo, a partir de entrevistas com uma pequena parte deste contingente - com amostras de 2 mil pessoas ou até menos.
Para que a pesquisa esteja correta, a amostra precisa corresponder ao universo dentro de alguns critérios. Em geral, as variáveis utilizadas são escolaridade, idade, gênero e profissão.
Por exemplo: os últimos dados do TSE mostram que 52,5% dos 147 milhões de eleitores brasileiros são mulheres. Portanto, uma amostra de 2.000 eleitores deverá ter 52,5% de mulheres (1.048 eleitoras). E assim é feito também com os outros critérios. Ou seja, as respostas das pesquisas representam o "todo" do grupo que se quer pesquisar.
Isso é diferente das enquetes que podem ser feitas em sites ou páginas. Aí não se tem qualquer controle de quem vai responder às perguntas e uma pessoa pode responder mais de uma vez. Os resultados estarão, portanto, distorcidos.
Por isso, é importante que os eleitores chequem sempre se a pesquisa tem registro. No ano eleitoral, qualquer pesquisa relativa às eleições e aos candidatos, realizada para fim de divulgação, deverá obrigatoriamente ser precedida de registro na Justiça Eleitoral, feito pela empresa que a realizou. As pesquisas eleitorais podem ser divulgadas até mesmo no dia da eleição, desde que estejam devidamente registradas. Veja aqui o registro das pesquisas.
A divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime e a divulgação, ainda que incompleta, de resultados de pesquisa sem o prévio registro sujeita o instituto de pesquisa, o contratante da pesquisa, o órgão de imprensa, o candidato, o partido político ou coligação, ou qualquer outro responsável a multas previstas pelo TSE.
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