Dos 78 municípios do Espírito Santo, apenas um elegeu uma mulher como prefeita: Ana (DEM) foi a escolhida para administrar São Domingos do Norte, cidade do Noroeste do Espírito Santo que tem pouco mais de 8 mil habitantes. A demista, com 37,37% dos votos válidos, venceu o atual prefeito Pedro Pão (PMN), que teve 25,88%.
Ana voltará ao cargo que já assumiu de 2005 a 2008. Com 61 anos, a prefeita eleita se considera uma "feminista, mas com princípios conservadores". "Você não pode abandonar tudo que você aprendeu e dizer ser feminista ao extremo. Não tem como. Considero muito importante a participação da mulher na política, mas não abro mão de família, religião", explicou Ana.
A trajetória política da demista começou, segundo ela, na década de 1990, quando seu esposo, o agricultor Venício Alves de Oliveira, foi prefeito da cidade de 1997 a 2000. Como primeira-dama, Ana que acumulou mais de 20 anos de experiência na área da educação começou a pegar gosto pela política ao comandar trabalhos na área social. Mesmo com as atividades durante o mandato do marido, não abandonou a escola que dirigia. "Todos os meus adversários na eleição passaram pelas minhas mãos na escola", brinca a prefeita eleita.
Ana diz que o marido não quis mais concorrer, mas ela acabou aceitando o convite para representar o mesmo grupo político nas eleições de 2004, quando foi eleita prefeita no primeiro pleito que concorria. Participou ainda de outras duas eleições, incluindo em 2008, quando não conseguiu se reeleger. Ainda tentou se candidatar em 2016, mas foi impedida de concorrer por erros na prestação de contas de campanhas anteriores. Com quase 20 anos de trajetória na política, a prefeita admite que faltam mulheres no poder, mas diz que nunca enfrentou preconceito na família e outros moradores, incluindo rivais na campanha.
"Nunca me puxaram para trás. Sempre que eu falo que vou concorrer, meu marido e meus três filhos me dão total apoio. E sempre fui respeitada por onde eu passei. Meu município não é machista para mulheres. Somos felizes aqui", comenta Ana.
Para ampliar a participação da mulher na política, a prefeita afirma ser preciso incentivar a mulher a tentar o poder e diz que estuda oferecer cursos para conscientizar as moradoras da cidade.
"Penso que tem de criar uma disciplina nas escolas para pregar essa vontade política para jovens, meninas se candidatem. Foi muito difícil conseguir mulher para ser candidata a vereadora porque pode ser que elas tenham sido podadas, tenham enfrentado resistência. Penso às vezes em dar cursos para mulheres terem mais coragem para se candidatar. Aqui não foi eleita nenhuma vereadora. É triste não ter representação feminina na Câmara. É hora da mulher avançar e ter mais iniciativa. A mulher toma conta da casa, da família e tem mais cuidado com as coisas do município", analisou a demista.
O resultado eleitoral nas cidades capixabas é um dos reflexos da baixa representatividade feminina na política do Espírito Santo que já começou a ser sentida na pré-campanha. Das 374 candidaturas para o cargo de prefeito no Espírito Santo, apenas 44 foram de mulheres, o que corresponde a 11% do total de candidatos ao cargo nos Executivos municipais. O levantamento é feito pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES).
Os dados contradizem com o recorte do eleitorado capixaba, que é formado em sua maioria por mulheres, que representam 52% do total de eleitores. Em São Domingos do Norte, a situação não é muito diferente: 51% são mulheres. Para o segundo turno das eleições, apenas uma mulher continua na disputa nos quatro municípios que deixaram para decidir os novos prefeitos no último domingo de novembro: Célia Tavares (PT), que terminou o primeiro turno em segundo, enfrenta Euclério Sampaio (DEM) em Cariacica.
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