Câmeras desligadas, desatenção e silêncio na hora da votação. Essas têm sido cenas comuns nas sessões da Assembleia Legislativa com o início da campanha eleitoral. Dos 30 deputados, 11 estão disputando prefeituras em todo o Espírito Santo e muitos outros apoiam algum nome e caminham junto durante as ações de campanha. O cenário era outro durante as sessões virtuais que aconteceram ainda durante a pandemia de Covid-19, mas antes da largada oficial das eleições 2020.
Desde o dia 14 de setembro, as sessões têm sido realizadas de forma híbrida, ou seja, os deputados podem optar por participar dos encontros pela internet, como tem sido feito desde o início da pandemia, ou presencialmente no plenário. A maioria tem optado por permanecer virtualmente e, apesar de registrar presença, mantém a câmera desligada e poucos minutos após o início da sessão já não respondem quando são chamados.
Alguns ligam as câmeras para falar e depois desligam novamente, outros não falam uma palavra sequer. A sessão, no entanto, não tem caído por falta de quórum mínimo de deputados necessários para continuar as discussões, que pelo Regimento Interno da Casa são 10. Eles estão presentes, mas dispersos.
Outra mudança é que desde quando as sessões híbridas tiveram início, o presidente da Casa, Erick Musso (Republicanos), só presidiu a sessão nos dias 14 e 30 de setembro, por cerca de 30 minutos em cada uma.
Marcelo Santos (Podemos), vice-presidente da Mesa, assumiu em seguida os trabalhos. A maior parte dos encontros, no entanto, tem sido dirigida pelo deputado Torino Marques (PSL), que é segundo vice-presidente. Erick tem participado ativamente na campanha de candidatos do Republicanos pelo Estado, mas via assessoria informou que não deixou de participar das sessões, está apenas "cuidando de trabalhos internos."
O ex-diretor geral da Casa Roberto Carneiro, presidente estadual do partido de Erick Musso, foi exonerado para trabalhar durante a campanha eleitoral pelo Republicanos. O cargo dele está vago.
Durante as sessões virtuais já era possível observar parlamentares que participavam do encontro em seus carros, outros saíam da sala e deixavam a câmera ligada e outros que atendiam ligações. O que mudou com a aproximação da campanha é que eles não aparecem e muitas vezes precisam ser chamados diversas vezes para ligar o microfone e votar.
Algumas sessões começam cheias, mas menos de uma hora depois parlamentares não respondem quando são chamados. A prática de sair da sessão para derrubar as discussões é comum quando motivada por articulações políticas para evitar votações que grupos, aliados ou não do governo, não queiram que aconteçam. A diferença é que, agora, a sessão não cai porque eles continuam "presentes" no plenário virtual, mesmo sem votar.
A dispersão dos parlamentares em época de eleições não é novidade. Com a possibilidade de registrar a presença virtualmente, no entanto, fica mais fácil fazer a campanha sem, de fato, deixar o mandato de lado. É o que aponta o cientista político Fernando Pignaton.
"O deputado pode funcionar com um assessor que lhe dê as coordenadas, para responder presença quando forem conferir quórum ou votar quando chegar a vez dele, e participar de qualquer lugar. Uma coisa que facilita que o deputado esteja, ao mesmo tempo, em campanha", afirma.
Essa possibilidade estar "em dois lugares ao mesmo tempo", pondera o cientista político, pode comprometer a qualidade da atividade legislativa. Se os parlamentares aparecem só para votar "sim ou não", os projetos não são apreciados e discutidos com profundidade. "Quando os trabalhos são presenciais, há mais articulação. Sem a presença, de fato, dos parlamentares existe o risco de que as decisões não sejam aprofundadas", pontua.
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