A poucos dias para o fim da janela partidária, período em que parlamentares podem trocar de partido sem perder o mandato, as movimentações na política do Espírito Santo estão a todo vapor.
Dos 30 deputados estaduais, mais da metade deve mudar de legenda até sexta (1º), quando termina o prazo de filiação. Na Câmara, o cenário não é muito diferente. Entre os 10 deputados federais da bancada capixaba, pelo menos cinco vão tentar se reeleger em uma legenda diferente da que foram eleitos em 2018. Veja um infográfico com as mudanças no fim desta reportagem.
O troca-troca tem sido intenso nesta reta final para que os partidos consigam montar chapas para disputar a eleição. Essa tarefa ficou ainda mais difícil em 2022 com o fim das coligações para cargos proporcionais, que é o caso de deputados.
Até 2020, candidatos de diferentes partidos podiam se juntar em uma chapa para alcançar o quociente eleitoral, que é o número mínimo de votos necessários para eleger um representante ao Legislativo. Agora, cada legenda tem que montar a própria chapa e alcançar sozinha esse número para, então, eleger candidatos.
No Espírito Santo, esse cenário fez com que dirigentes abandonassem os próprios partidos por uma questão de "sobrevivência política", como foi o caso do deputado federal Neucimar Fraga, que trocou o PSD, legenda presidida por ele no Estado, pelo PP.
"Com tantas incertezas de filiação no PSD, a entrada ou não de Eugênio Ricas, de Paulo Hartung e de Guerino Zanon, as conversas no partido acabaram se perdendo. Hoje, é mais seguro eu disputar a eleição em um grupo competitivo como o PP, que tem uma chapa que deve fazer mais de três deputados na Câmara", disse Neucimar.
Situação semelhante aconteceu com a deputada estadual Janete de Sá. Ela deixou a presidência estadual do PMN para se filiar ao PSB, partido do governador Renato Casagrande (PSB). Quem também chega à sigla socialista é o deputado estadual Luciano Machado, que deixou o PV.
PP CRESCE NO ESPÍRITO SANTO
O PP é o principal partido do Centrão. A nível nacional, a legenda de Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, caminha para apoiar o presidente Jair Bolsonaro (PL). A aliança, no entanto, não será necessariamente repetida nos Estados.
No Espírito Santo, por exemplo, o Progressistas compõe a base de Casagrande, sendo o presidente estadual da legenda Marcus Vicente, secretário do primeiro escalão do governo. E esforços não faltaram para reforçar o time de filiados em 2022.
Além de Neucimar e do deputado federal Evair de Melo, que vai permanecer na legenda, integram o grupo o líder da bancada capixaba na Câmara, Da Vitória, que saiu do Cidadania, e os deputados estaduais Raquel Lessa e Marcos Madureira, que abandonaram, respectivamente, o PROS e o Patriota.
O partido contará também com a família Ferraço. Depois de muitas negociações, o deputado estadual Theodorico Ferraço e a deputada federal Norma Ayub assinaram a ficha de filiação na última segunda-feira (28). Eles deixaram o União Brasil.
Já o ex-senador Ricardo Ferraço, filho de Theodorico, vai para o PSDB, partido ao qual já foi filiado. A legenda decidiu formar uma federação com o Cidadania.
Quem também volta ao ninho tucano é o deputado estadual Sergio Majeski (PSDB), candidato mais votado em 2018 para a Assembleia Legislativa. Após conflitos com o PSB, ele deixou a legenda.
UNIÃO BRASIL PERDE FILIADOS
A saída de Theodorico e Norma do União do Brasil foi anunciada logo depois da executiva nacional nomear o deputado federal Felipe Rigoni, recém-filiado ao partido, como presidente estadual. A princípio, o acordo era que a legenda, que se formou a partir da fusão do DEM e do PSL, fosse comandada no Espírito Santo pelo ex-senador Ricardo Ferraço.
Rigoni, contudo, comprou briga para não só presidir o partido como ter o aval para se lançar pré-candidato ao governo do Estado. O movimento levou a uma debandada de deputados, sobretudo de aliados do governador Renato Casagrande na Assembleia Legislativa, como é o caso do Coronel Alexandre Quintino e José Esmeraldo.
José Esmeraldo se filiou ao PDT e levou com ele o filho, Sérgio Sá, ex-vice-prefeito de Vitória. A dobradinha, inclusive, era uma das "exigências" do partido, que também deve ser o principal destino de Quintino: "As conversas já estão bem avançadas", afirmou.
O PDT, que hoje é comandado no Estado por Weverson Meireles, e faz parte da base de Casagrande, ainda busca filiar o deputado estadual Marcos Garcia, que está de saída do PV.
Apesar da debandada no União Brasil, Rigoni afirma estar tranquilo para formar as chapas. "É um período difícil, mas já tenho a chapa de deputado estadual 90% formada e 2/3 da federal. Tenho a vantagem de ter recursos e tem muita gente em conversa com a gente", afirmou, sem revelar, contudo, nomes.
AINDA SEM DESTINO
Pelo menos três deputados estaduais que demonstraram desejo de trocar de partido ainda estão com destino incerto. São eles: Adílson Espíndola (PTB), Alexandre Xambinho (PL) e Doutor Hércules (MDB).
Após conflitos internos, Espíndola já cravou que deixará o PTB, legenda que ele chegou a presidir no Estado. Já Xambinho tem mantido conversas com outros partidos para deixar a sigla presidida por Magno Malta no Espírito Santo.
Quanto a Doutor Hércules, o emedebista também não está satisfeito na legenda, que já chegou a ser casa do governador Paulo Hartung, mas nos últimos anos encolheu e passou por intervenção. Ele tem conversado com outros partidos, mas ainda sem destino certo.
REFORÇO NA DIREITA CONSERVADORA
Já o deputado estadual Torino Marques trocou o União Brasil pelo PTB. O partido também é a nova casa da deputada federal Soraya Manato, esposa de Carlos Manato, que é pré-candidato ao governo pelo PL, partido do presidente Jair Bolsonaro.
No Espírito Santo, a legenda é comandada por Magno Malta e tem como objetivo formar uma frente da direita conservadora no Espírito Santo.
O time do PL conta com os deputados estaduais Capitão Assumção, que saiu do Patriota, e Danilo Bahiense, que estava sem partido desde 2020.
GUERINO, PAULO HARTUNG E O PSD
Mas não é só Rigoni que enfrenta problemas na construção de chapas. O PSD, que após a saída de Neucimar Fraga está sob o comando do vice-presidente estadual, José Carlos da Fonseca Júnior, também tem perdido filiados.
Um deles foi o ex-vereador de Vitória Mazinho dos Anjos, que presidia a legenda na Capital. Ele era um dos nomes que o PSD contava para disputar o cargo de deputado estadual, mas anunciou a desfiliação. O superintendente da Polícia Federal Eugênio Ricas, que tinha admitido a possibilidade de se filiar para disputar o Palácio Anchieta, também não vai concorrer.
As incertezas que, em parte, levaram à saída de Neucimar, ainda pairam sobre o PSD. A filiação do prefeito de Linhares, Guerino Zanon, que hoje está no MDB, ainda está sendo negociada. Segundo articuladores políticos, parte dela depende da capacidade de articulação de Zanon para montar chapas.
Além do prefeito de Linhares, há dúvidas também sobre a chegada de outro ator importante ao partido de Gilberto Kassab: Paulo Hartung. O ex-governador do Espírito Santo, que já afirmou ter encerrado o seu ciclo na política capixaba, é hoje cotado para uma candidatura a nível nacional (presidência ou vice-presidência).
Em fevereiro, amigos próprios de Hartung afirmaram que, após uma reunião com Kassab, o ex-emedebista já havia selado a filiação. Faltaria, assim, só assinar. Isso só será possível saber no último dia da janela partidária.
Confira as mudanças de partidos feitas pelos deputados estaduais e federais até o momento:
QUEM TROCOU DE PARTIDO ANTES DA JANELA PARTIDÁRIA
O período de janela partidária está previsto na Lei das Eleições e faz parte do calendário eleitoral. São 30 dias para que os parlamentares troquem de legenda sem perder o mandato. Isso acontece porque o mandato de um deputado ou vereador pertence a um partido e não a um indivíduo.
Fora da janela partidária, os parlamentares só podem deixar as legendas em casos de justa causa, ou seja, quando a Justiça Eleitoral entende que houve discriminação dentro do partido, quando há criação de uma nova sigla ou fim do partido.
Esse entendimento de "justa causa" aconteceu nos casos dos deputados estaduais Marcelo Santos (Podemos) e Danilo Bahiense (PL) e do deputado federal Felipe Rigoni (União Brasil). Todos os três conseguiram na Justiça o direito de se desfiliar dos partidos pelos quais se elegeram na última eleição. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) entendeu que eles sofreram grave discriminação política. Bahiense era filiado ao PSL, Marcelo Santos ao PDT e Rigoni ao PSB.
Já no caso de Capitão Assumção, que estava no Patriota, houve um acordo com a sigla para que ele pudesse se filiar ao PL fora do prazo.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta