A reportagem foi atualizada para incluir um nono pré-candidato, Vinícius Sousa, que foi lançado pelo PSTU ao governo do Estado.
Nove pré-candidatos a governador se apresentam como aqueles que vieram para ficar na corrida pelo Palácio Anchieta nas eleições de outubro. Mas até a conclusão das convenções partidárias, em agosto, ainda pode ter muita “gente a sorrir e a chorar”, como canta Maria Rita em “Encontros e despedidas”, pois “todos os dias é um vai e vem” na discussão de alianças e alguns deles podem ter de abrir mão da disputa ou trocar o cargo que almejam.
O discurso predominante entre os pré-candidatos é o de busca por renovação e defesa de um novo ciclo no comando do Executivo estadual, uma vez que o atual governador do Estado, Renato Casagrande (PSB), que deve disputar a reeleição, se reveza há 20 anos no cargo com o ex-governador Paulo Hartung (sem partido).
Adotam abertamente essa linha o ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (Rede), o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), e o deputado federal Felipe Rigoni (União Brasil), ainda que com nuances entre os discursos.
Já a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato (PT) é a única posicionada mais claramente no campo progressista, enquanto a do ex-deputado federal Carlos Manato (PL) segue na direção oposta, mais conservadora e de total oposição ao atual governo.
O ex-prefeito da Serra tem rodado os municípios capixabas para construir um plano de governo - faltavam Castelo e Presidente Kennedy até esta terça-feira (26). Ele aposta na sua experiência de 20 anos como gestor, sendo 12 deles como prefeito, para obter apoio das lideranças e da população ao seu projeto.
Audifax afirma que vai dialogar com todos os partidos, acima de questões ideológicas, mesmo que a Rede, legenda que comanda no Estado, tenha firmado federação nacional com o Psol, sigla mais à esquerda. Ele confirmou conversas com Musso, com o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD) e outros pré-candidatos, exceto Contarato e Casagrande, até agora.
“Me considero melhor gestor do que o atual governador. O que ele estiver fazendo de bom eu vou dar continuidade, principalmente as obras, mas entendo que precisamos avançar muito mais, principalmente no campo social”, resume o ex-prefeito, que garantiu ter autonomia em relação ao palanque para presidente da República.
Sem experiência no Executivo, Musso tem se movimentado como presidente da Assembleia para se tornar mais conhecido pelos capixabas. Ele saiu na frente em termos de apoios, já conta com PSC, Agir e Patriota em torno da sua pré-candidatura a governador, e aguarda a decisão da direção nacional do Republicanos sobre eventual aliança em defesa da reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Chegou a hora de mudar e avançar, de oxigenar o processo político capixaba na construção de um novo tempo no Espírito Santo. No contato junto à população sinto que há essa expectativa do nascimento de uma nova proposta de gestão, mais ágil e moderna”, avalia o presidente da Assembleia.
Também se apresentando como opção para um ciclo pós-Casagrande e Hartung, Rigoni ainda está concentrado na formação da chapa para deputados pelo União Brasil e na montagem do projeto de governo. As alianças, afirma, serão baseadas nesse projeto, mas concentradas no campo de centro e centro-direita.
“Estamos vivendo um ciclo político desde o início dos anos 2000, que foi importante, mas as tarefas desse ciclo já foram cumpridas. Precisamos discutir um novo projeto e vou procurar todos os partidos que vão querer participar desse novo ciclo”, ressalta o pré-candidato do União Brasil.
A mola propulsora da pré-candidatura de Contarato ao governo será a pauta social, com foco em melhorias na educação, estímulo à agricultura familiar e ao pequeno empreendedor, por exemplo. Para o senador, “é perfeitamente possível manter a saúde fiscal com saúde social”, algo que ele considera bastante fragilizado na atual gestão.
“Acho que o Espírito Santo merece uma candidatura progressista. Mesmo com todo o respeito ao governador Casagrande, de que adianta um conceito A de saúde fiscal sem uma saúde social?”, indaga o petista, que está ciente de que caberá à direção nacional do PT a decisão final sobre a candidatura própria a governador.
O PT está junto com o PSB em nível nacional e tem se reunido com lideranças socialistas e com Casagrande para discutir o cenário estadual. A prioridade petista é garantir palanques fortes para o ex-presidente Lula (PT) na disputa presidencial e o fortalecimento do nome do senador pode facilitar a conquista desse espaço no Espírito Santo.
O governador ainda não se lançou na disputa à reeleição, como ressalta o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini, mas isso é visto apenas como um mero detalhe. O partido busca aliança com cerca de 15 legendas para garantir um amplo apoio a Casagrande, entre as quais estão: PP, PDT, Podemos, Pros, Solidariedade, Avante, PSDB e MDB.
“Estamos tentando construir uma aliança com os parceiros do atual governo e também temos conversado com outros pré-candidatos para termos um relacionamento mais para a frente. O governador conversa com todo mundo. Acho que a relação nacional entre PT e PSB ajuda a nossa relação aqui, mas entendemos que é democrática a candidatura do Contarato”, salienta Gavini.
Com um leque diversificado de partidos no seu entorno, Casagrande não estaria tão disposto a se colocar de cabeça no palanque de Lula, conforme informações de bastidores, pois isso poderia dificultar a consolidação da parceria com legendas que estão em outros campos em nível nacional. Também entram nesse debate as pré-candidaturas a senador que podem ter o apoio do socialista.
O único partido que já deixa claro o apoio ao governador é o PDT, mesmo que a sigla tenha um nome próprio à Presidência da República, o do ex-governador do Ceará Ciro Gomes. “Não temos discussão de apoiar nenhuma outra candidatura”, garante o presidente estadual do PDT, Weverson Meireles.
No lado oposto de Casagrande está o ex-deputado Manato, adversário direto do governador nas eleições de 2018, quando saiu derrotado. Com aliança negociada com o PTB, ele acredita que terá mais facilidade para se mobilizar e discutir propostas com a população, pois o PL já tem definido o nome do ex-senador Magno Malta para o Senado e do presidente Bolsonaro para o Palácio do Planalto.
“Enquanto estou no Sul conversando com algumas lideranças, Magno Malta está no Norte falando com outras. Assim, temos uma capilaridade maior e isso é uma vantagem em relação aos outros pré-candidatos, que não sabem quem irão apoiar na disputa para presidente e senador”, especula Manato.
Também estão na lista de pré-candidatos a governador o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD), o ex-secretário da Fazenda de Vitória Aridelmo Teixeira (Novo) e o capitão da Polícia Militar Vinícius Sousa, que deve se filiar ao PSTU. Zanon não quis se manifestar.
Aridelmo ressalta que o propósito da sua pré-candidatura é enriquecer o debate. Ele também tem percorrido o Estado para discutir um projeto de governo e faz críticas à atual gestão. O empresário afirma que não fará esforço para trazer políticos e alianças só para ganhar a eleição ou tempo na propaganda partidária.
"Nosso objetivo é fazer uma coligação direta com o povo, com a parte da população que se sustenta apesar do peso do Estado nos ombros deles. Não aceitamos barganhar o projeto", garante Aridelmo.
O Capitão Sousa teve a pré-candidatura anunciada pelo PSTU no último dia 21, em comunicado publicado nas redes sociais. Ele faz parte do Movimento Policiais Antifascimo e alega ter sido vítima de perseguição política por críticas ao sistema político. Conforme postagem do partido no Facebook, sua pré-candidatura propõe "um governo dos trabalhadores" e "uma real alternativa para o Espírito Santo".
Veja, em ordem alfabética, quem são os pré-candidatos a governador do Estado:
Empresário e fundador da Fucape, Aridelmo Teixeira (Novo) deve disputar o cargo de governador pela segunda vez. Na primeira, em 2018, concorreu pelo PTB e foi derrotado.
Para entrar na disputa, deixou o cargo de secretário municipal da Fazenda da gestão do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), que se posiciona em campo oposto ao do governador do Estado, Renato Casagrande (PSB).
Prefeito da Serra por três mandatos, Audifax Barcelos (Rede) é economista e foi o deputado federal mais votado do Estado em 2010. Desde que deixou o comando da Prefeitura da Serra, em 2020, tem rodado os municípios capixabas para discutir um projeto de governo e se cacifar para a disputa a governador.
A federação formada com o Psol pela Rede Sustentabilidade, partido que Audifax comanda no Estado, não deve restringir as negociações da sua pré-candidatura ao campo da esquerda, pois ele mantém boa relação e tem tido conversas mais próximas com partidos de centro e de centro-direita.
Pré-candidato a governador pelo PL, o ex-deputado federal Carlos Manato busca pela segunda vez consecutiva o comando do Palácio Anchieta pelo mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2018, foi o segundo mais votado na disputa a governador, quando concorreu pelo PSL.
Manato é médico e exerceu o cargo de deputado federal por quatro mandatos consecutivos. Ele tem como certo o apoio do PTB à sua pré-candidatura, assim como o nome do ex-senador Magno Malta (PL) na corrida pelo Senado na chapa de oposição ao atual governo.
Atual presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso foi lançado pré-candidato ao governo pelo Republicanos com uma “proposta de renovação política e mudança de ciclo geracional”. Ele já tem apoio declarado do PSC, Agir e Patriota.
Ainda pouco conhecido da maioria dos capixabas, o ex-presidente da Câmara de Aracruz se coloca como candidato independente e busca se contrapor ao grupo que se revezou à frente do Palácio Anchieta nos últimos 20 anos, sob o comando do atual governador, Renato Casagrande (PSB), e do ex-governador Paulo Hartung (sem partido).
Eleito senador em 2018 pela Rede, o delegado da Polícia Civil aposentado e professor Fabiano Contarato foi lançado em fevereiro pelo PT para a disputa a governador. Ele foi o primeiro homem assumidamente homossexual eleito para o Senado e viralizou com um discurso contra a homofobia durante a CPI da Covid-19.
O PT busca consolidar a pré-candidatura de Contarato para garantir um palanque forte no Estado para a campanha do ex-presidente Lula ao Palácio do Planalto, seja mantendo-o na disputa ou reproduzindo a aliança com o PSB já firmada em nível nacional.
Deputado federal, Felipe Rigoni é pré-candidato ao governo pelo partido União Brasil e busca alianças com partidos de centro e centro-direita. Ele é o primeiro deputado federal cego eleito no país e está em seu primeiro mandato eletivo.
Rigoni não se coloca como oposição ao atual governador, mas como um nome para iniciar um novo ciclo político no Estado, pós-Casagrande e Hartung.
Pré-candidato do PSD ao governo estadual, Guerino Zanon deixou o MDB depois de 26 anos de filiação e renunciou ao quinto mandato de prefeito de Linhares em 31 de março, para ficar livre para a disputa eleitoral.
A mudança de partido teve o aval do ex-governador Paulo Hartung, de quem Zanon foi secretário estadual de Esportes. Ele também foi deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa.
Atual governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) deve buscar seu terceiro mandato à frente do Palácio Anchieta em outubro. O PSB tenta viabilizar a reeleição dele com uma coligação suprapartidária e busca apoio de mais de 10 partidos, que vão de esquerda a centro-direita.
Com uma lista de cargos já ocupados, entre os quais vice-governador e senador, Casagrande tenta se reeleger governador pela segunda vez. Na última tentativa, em 2014, foi derrotado por Hartung, mas acabou retornando ao cargo em 2018.
Conhecido como Capitão Vinicius, Vinícius Sousa é capitão da Polícia Militar e membro do Movimento Policiais Antifascismo. Por participar de eventos contra o presidente Bolsonaro, mesmo em dias de folga e à paisana, tornou-se alvo de procedimento disciplinar. Natural de Belo Horizonte (MG), é morador de Castelo, onde disputou a eleição suplementar para prefeito, em 2019, pelo Patriota.
Em 2020, ele disputou as eleições como candidato a vice-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim pela Rede Sustentabilidade, na chapa liderada por Joana D'Arck (PT). Agora, deve se filiar ao PSTU para concorrer ao governo do Estado, uma vez que como militar da ativa não pode manter filiação partidária fora do período eleitoral.
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