Com a saída de Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente que foi exonerado do cargo nesta quarta-feira (23), o governo Jair Bolsonaro (sem partido) alcança a marca de 16 baixas no primeiro escalão em dois anos e meio de mandato. Além disso, o presidente também promoveu uma "dança das cadeiras", com sete realocações. Seis mudanças foram feitas em março deste ano, após negociações com o Centrão.
Ao todo, são mais de 24 mudanças desde janeiro de 2019. Além das exonerações e trocas, Bolsonaro recriou o Ministério das Comunicações e está longe de manter uma de suas promessas de campanha. Enquanto o candidato Jair Bolsonaro falava em cortar ministérios e ter, no máximo, 15 pastas, o presidente conta com 23.
As demissões tiveram como contexto crises internas entre as alas ideológica e militar do governo, interferência de atritos familiares envolvendo os filhos do presidente, denúncias e investigações. Algumas exonerações são vistas, ainda, como cortina de fumaça por terem acontecido em dias estratégicos em que o governo federal passava por algum desgaste.
Ricardo Salles, que não tem formação na área ambiental, sai em um momento de tensão, em que é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por operação da Polícia Federal que investiga um possível esquema que favorecia madeireiras, modificando normas para regularizar cargas de madeira apreendidas no exterior.
Essa não é a primeira controvérsia envolvendo o nome do o ex-ministro. Salles era alvo de críticas de ambientalistas e até de ruralistas, que apontavam os índices crescentes de desmatamento e queimadas e a paralisação do Fundo Amazônia, além da imagem negativa que o ex-titular da pasta criou com países do exterior que ofereceram ajuda financeira – recusada – ao país.
A exoneração do ex-ministro, no entanto, ocorre também em um momento estratégico. Enquanto a CPI da Covid recebe a denúncia de envolvimento do governo federal em uma compra possivelmente superfaturada da Covaxin, imunizante da Índia ainda não aprovado pela Anvisa, a saída de Salles foi vista como uma forma de tirar o foco das denúncias.
Assumiu a pasta Joaquim Pereira Leite, que fazia parte da gestão de Salles como secretário da Amazônia e Serviços Ambientais. Anteriormente, foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), uma das organizações que representam o setor agropecuário no Brasil.
Com atuação alinhada à ala ideológica do bolsonarismo, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo foi exonerado em 29 de março deste ano, após desgaste sob críticas de deputados e senadores. Araújo foi acusado pelos parlamentares de manter uma postura que isolou o Brasil no cenário internacional em meio à pandemia de Covid-19. Oficialmente, pediu demissão.
Próximo à política externa do então presidente dos EUA, Donald Trump, o ex-chanceler foi acusado de atrapalhar o relacionamento do Brasil com o principal parceiro comercial, a China, que também assumiu protagonismo como a maior fornecedora de insumos de vacinas, como a Coronavac, primeiro imunizante aplicado no Brasil.
Ernesto Araújo foi exonerado no mesmo dia em que a cúpula das Forças Armadas deixou o governo, com a troca do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva. O ex-chanceler foi substituído pelo embaixador Carlos França.
A troca do titular no Ministério da Defesa foi feita no dia 29 de março, mesma data da exoneração de Ernesto Araújo. A exoneração de Azevedo e Silva causou a maior crise militar do país em 50 anos, com a renúncia coletiva dos três comandantes das Forças Armadas.
O general foi demitido por manter os militares distantes do governo, não trazendo o apoio político que Bolsonaro esperava ter do segmento. Em carta de despedida, Azevedo e Silva enfatizou que havia "preservado as Forças Armadas como instituições de Estado".
No lugar dele assumiu Braga Netto, que até então estava na Casa Civil como um dos principais aliados de Bolsonaro.
O dia 29 de março foi marcado por demissões e uma grande "dança das cadeiras" entre os ministros de Bolsonaro, provocada por negociações entre o mandatário e os partidos do Centrão. Entre as mudanças, foi exonerado José Levi Mello, que comandava a Advocacia-Geral da União (AGU), pasta que tem status de ministério.
O ex-advogado-geral estava no cargo no lugar de André Mendonça, que saiu para ser ministro da Justiça e da Segurança Pública após o pedido de demissão de Sergio Moro. Entre os motivos da saída estava uma Ação Direta de Inconstitucionalidade para tentar barrar decretos estaduais de medidas restritivas à circulação de pessoas. O titular da AGU deveria, obrigatoriamente, assinar a ação e representar o presidente no STF, o que não fez.
Com a saída de José Levi, Mendonça voltou ao posto que ocupava. No lugar dele, o delegado Anderson Torres assumiu a pasta da Justiça e Segurança Pública.
A exoneração de Eduardo Pazuello da pasta da Saúde, em 15 de março, foi marcada pela escalada de mortes por Covid-19 e o atraso na vacinação no país. Quando assumiu o ministério, em maio de 2020, o Brasil registrava pouco mais de 14.800 mortes e 218 mil casos da doença.
Cúmplice do negacionismo de Bolsonaro, Pazuello não investiu na propagação de medidas sanitárias e foi sob sua gestão que ocorreram dois dos principais fatos investigados pela CPI da Covid no Senado: o colapso na saúde em Manaus, com a falta de oxigênio, e o atraso para adquirir a vacina Coronavac e a da Pfizer. O colegiado no Senado já tem documentos que apontam mais de 50 ofertas rejeitadas ou ignoradas pelo ministério.
A saída do general, no entanto, também veio em momento estratégico. Com a aprovação em queda e a volta do ex-presidente Lula (PT) ao cenário eleitoral de 2022, Bolsonaro precisou agir para buscar a reeleição. Ficou insustentável manter o militar no cargo.
Para comandar o Ministério da Saúde foi nomeado o médico Marcelo Queiroga.
Um dos poucos com saída "pacifica" do cargo, o ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência Jorge Oliveira foi nomeado por Bolsonaro para o Tribunal de Contas da União (TCU), ainda em outubro. Com a indicação aprovada pelo Senado, Oliveira deixou a secretaria, que tem status de ministério, no dia 31 de dezembro de 2020.
Ele foi substituído por Onyx Lorenzoni, que já ocupou outros dois ministérios ao longo de dois anos e meio: Cidadania e Casa Civil.
Ex-ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG) foi exonerado em 9 de dezembro do ano passado. Ele teve o nome envolvido em uma denúncia de esquema de candidaturas laranjas do PSL.
A demissão, no entanto, não se deu pela possível participação de Álvaro Antônio no caso suspeito de corrupção eleitoral. Segundo reportou a CNN Brasil na época, a gota d'agua para a demissão foi uma mensagem enviada por ele em um grupo de WhatsApp, chamando o então ministro da Secretaria de Governo de "traíra" por supostamente ter negociado a pasta do Turismo com deputados do Centrão.
O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub anunciou sua saída da pasta no dia 18 de junho de 2020. Em vídeo, Weintraub informou que sairia do MEC para atuar como diretor-executivo do Banco Mundial, em Washington, por indicação do governo brasileiro.
O ex-ministro foi exonerado após desgastes que tornaram sua permanência difícil de sustentar, como problemas no Enem, atritos diplomáticos causado por comentários xenofóbicos publicados em suas redes sociais e insultos aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). No vídeo de uma reunião ministerial levada a público, o ex-ministro chama os integrantes do Supremo de "vagabundos".
A exoneração de Weintraub aconteceu no mesmo dia em que Fabrício Querioz, ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro e amigo próximo da família, foi preso na casa do advogado do filho de Bolsonaro, Frederick Wassef. Queiroz é investigado como operador de um esquema de rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio.
Weintraub foi substituído pelo atual ministro, Milton Ribeiro. Antes, Carlos Alberto Decotelli chegou a ser nomeado, mas pediu demissão antes de assumir o cargo após serem detectadas informações falsas no currículo apresentado.
O médico Nelson Teich foi o ministro que ficou menos tempo no governo Bolsonaro: menos de um mês. Substituto de Luiz Henrique Mandetta, o oncologista pediu demissão dia 15 de maio de 2020, por um motivo similar ao que levou seu antecessor a sair do cargo: divergências com o presidente a respeito da estratégia de enfrentamento à Covid-19.
Em depoimento à CPI da Covid, Teich afirmou que sua saída foi motivada por não ter autonomia para gerir a pasta como achava que deveria. O médico confirmou que houve pressão por parte do governo federal para alterar o protocolo do Ministério de Saúde sobre o uso de cloroquina contra o novo coronavírus, contrariando entidades especializadas e outras autoridades em saúde pública. Teich recusou-se a adotar o "tratamento precoce" e foi substituído por Pazuello.
Uma das demissões que mais abalaram o governo Bolsonaro, Sergio Moro era visto por apoiadores do presidente como uma espécie de "selo de qualidade" da gestão, principalmente no combate à corrupção, uma das bandeiras que elegeram o presidente.
Após ganhar notoriedade pelo trabalho na Operação Lava Jato, Moro abandonou a magistratura para ser ministro da Justiça no governo Bolsonaro. A saída dele do ministério foi vista com surpresa por grande parte dos seguidores do presidente – muitos chegaram a abandonar o mandatário para abraçar a narrativa do ex-ministro e defendê-lo.
Moro pediu demissão no dia 24 de abril de 2020. Em pronunciamento, acusou Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal ao tentar trocar comandos da corporação no Rio de Janeiro, onde um dos filhos do presidente, Flávio Bolsonaro, é investigado.
O substituto de Moro, André Luiz Mendonça, saiu da Advocacia-Geral da União para assumir o Ministério da Justiça.
Em meio a uma crise sanitária mundial, Bolsonaro demitiu o então ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, no dia 16 de abril de 2020. Até então, quase 2 mil pessoas tinham perdido a vida para a Covid-19, número que agora se ultrapassa os 500 mil.
A exoneração foi anunciada após semanas de desentendimentos entre a pasta e o presidente quanto às estratégias de combate à doença. Mandetta defendia o isolamento social, enquanto Bolsonaro fazia passeios por Brasília ignorando todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de seu próprio ministro. Mandetta foi substituído pelo oncologista Nelson Teich.
Ex-ministro da Cidadania, Osmar Terra (MDB-RS) foi demitido em fevereiro de 2020. A exoneração veio após suspeitas envolvendo a pasta, que contratou uma empresa suspeita de ter sido usada para desviar verbas dos cofres públicos. O ex-ministro voltou para a Câmara, onde é deputado eleito pelo Rio Grande do Sul. Em seu lugar assumiu a pasta Onyx Lorenzoni, que até então estava na Casa Civil, que por sua vez passou a ser chefiada por Braga Netto.
Em entrevista a emissoras gaúchas, Terra afirmou que foi exonerado porque Bolsonaro precisava de um ministério para "abrigar" Onyx.
Gustavo Canuto foi exonerado do Ministério de Desenvolvimento Regional no dia 6 de fevereiro de 2020. A exoneração foi publicada como “a pedido” no Diário Oficial. Canuto foi realocado dentro da administração de Bolsonaro, como presidente da Dataprev, empresa de tecnologia e Informação da Previdência Social, estatal ligada ao Ministério da Economia. No lugar dele, Rogério Marinho assumiu a pasta.
Em 13 de junho de 2019, Carlos Alberto dos Santos Cruz foi demitido do cargo de ministro da Secretaria de Governo. O general desagradava Olavo de Carvalho, ideólogo que influencia a ala ideológica bolsonarista do governo. O general também teve desavenças com Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador do Rio e filho do presidente.
Santos Cruz foi exonerado após supostamente falar mal dos filhos do mandatário em mensagens do WhatsApp. A Polícia Federal concluiu, meses depois, que as mensagens eram falsas. Ele foi substituído pelo também general Luiz Eduardo Ramos.
Vélez foi exonerado em 8 de abril de 2019 após intensa crise no Ministério da Educação e críticas vindas de fora. Com uma disputa interna entre grupos rivais – militares e apoiadores de Olavo de Carvalho – o MEC teve quase 20 exonerações durante a gestão do colombiano. Ele foi substituído por Abraham Weintraub.
Primeiro ministro a ser demitido, Bebianno perdeu o cargo de ministro da Secretaria-geral em fevereiro de 2019, após tensões causadas por desavenças com Carlos Bolsonaro e denúncias relacionadas ao financiamento de campanhas laranjas do PSL, partido do qual Bolsonaro e Bebianno faziam parte.
Bebianno chegou a afirmar, dias antes, que não pretendia pedir demissão, mas foi exonerado e substituído pelo general da reserva Floriano Peixoto. Bebianno morreu em março do ano passado, vítima de um infarto.
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