Partidos ou candidatos que defendem o armamentismo, que simpatizam com regimes ditatoriais ou com palavras e atos que atentem contra a democracia e que defendem o combate ao crime com mais violência estão entre os que não merecem o apoio dos seguidores da doutrina da Igreja Católica. Esses e outros apontamentos estão em carta à sociedade divulgada pelos bispos da Arquidiocese e dioceses do Espírito Santo sobre a escolha dos candidatos nas eleições 2022.
Com referência a textos bíblicos, ao papa Francisco e a documentos da Igreja Católica, a carta (o texto integral está disponível abaixo), publicada nesta sexta-feira (1º) no site da Regional Leste 3 (Espírito Santo) da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), traz orientações a serem observadas pelos fiéis para saber se os candidatos e partidos estão fora de sintonia com as doutrinas da Igreja nas eleições de outubro próximo.
Os temas pontuados pelos bispos são: a preocupação com a casa comum; a defesa da vida desde a concepção até o fim natural; segurança e direitos humanos; economia a serviço da vida; defesa da democracia; compromisso com a verdade; e honestidade como pressuposto.
Antes de detalharem esses sete temas, os bispos destacam que grande parte das 670 mil mortes de brasileiros por Covid-19 poderia ter sido evitada, mencionam preocupação com o número de pessoas desempregadas, a situação de extrema pobreza em que vivem essas pessoas, o avanço do desmatamento e o clima de ódio na política.
Para os bispos, sob uma suposta adesão à palavra de Cristo, esse clima de ódio tem propiciado ataques aos direitos humanos e minorias, fez aumentar o fundamentalismo religioso, intolerância, racismo, xenofobia, machismo, homofobia e outras formas de preconceito, que muitas vezes se concretizaram em atos de violência, como feminicídio e outros.
Na avaliação dos bispos, esses aspectos negativos têm sido reproduzidos por muitos políticos e representantes eleitos. Por isso, fazem um alerta aos fiéis: “Muitas serão as armadilhas ideológicas e informacionais, as notícias falsas e os apelos pseudorreligiosos – sem nenhum amparo nem nas Escrituras, nem na Doutrina Social da Igreja – que tentarão nos capturar em nome de interesses eleitoreiros”.
Depois de pontuarem sobre a concepção geral de política e a necessidade de se conhecer as competências e os limites de cada Poder, bem como a importância de defender a democracia, os bispos citam as questões relacionadas ao meio ambiente como uma preocupação com a casa comum.
Em relação à defesa da vida, eles vão além de reiterar a posição da Igreja Católica contra o aborto. Os bispos defendem que “igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura e em todas as formas de descarte”.
Ao abordarem o tema segurança e direitos humanos, eles fazem críticas contundentes a quem considera que a criminalidade deve ser combatida com mais violência.
Eles ressaltam que a doutrina social da Igreja condena “a ação criminosa de agentes do Estado, por meio da prática de tortura”. Da mesma forma, citam os bispos, a doutrina considera que o enorme aumento das armas representa uma ameaça grave para a estabilidade e a paz.
Os bispos não citam nomes no documento, mas deixam claro que não podem se apresentar como representantes dos valores defendidos pela Igreja Católica candidato, partido ou cabo eleitoral “que homenageiam e defendem publicamente torturadores ou agentes de segurança que agem fora da lei”.
A respeito da economia, a carta defende que se deve “privilegiar os programas econômicos e as propostas políticas que tenham o meio ambiente e os pobres como meta prioritária do desenvolvimento econômico”.
Os bispos ressaltam o compromisso da Igreja Católica com a democracia e o apoio e estímulo a práticas que fortaleçam a participação popular, como fóruns, conselhos populares, conferências etc..
A carta ainda traz luz ao “uso da mentira como método político, potencializado pelas redes sociais” e ao uso de mandatos políticos para criação de vantagens pessoais. O assunto permeia a defesa do enfrentamento da corrupção, com a oposição à compra e venda de parlamentares.
Por fim, a carta destaca que a honestidade deve ser pressuposto para qualquer candidato que mereça o voto dos católicos e não apenas uma promessa de campanha.
Assinam o documento: o arcebispo metropolitano de Vitória, Dom Dario Campos; o bispo Dom Paulo Bosi Dal’Bó, vice-presidente da Diocese de São Mateus; o bispo Dom Luiz Fernando Lisboa, secretário da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim; Dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, bispo da Diocese de Colatina; e Dom Andherson Franklin Lustoza de Souza, bispo auxiliar da Arquidiocese de Vitória.
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