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Em culto, Magno Malta coloca Bolsonaro no viva-voz e presidente reclama de CPI

Em culto, Magno Malta coloca Bolsonaro no viva-voz e presidente reclama de CPI

Presidente da República afirmou que "inventaram uma CPI", se referindo à comissão instalada no Senado para apurar a conduta do governo federal na pandemia de Covid-19 e o uso dos repasses federais por Estados e municípios

Publicado em 5 de maio de 2021 às 15:11

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Magno Malta recebe ligação de presidente da República em culto evangélico
Magno Malta recebe ligação de presidente da República em culto evangélico. (Reprodução/Youtube)

No último domingo (2), o ex-senador do Espírito Santo Magno Malta (PL) estava em um culto na Igreja Plenitude do Trono de Deus, em São Paulo, quando recebeu uma ligação do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Diante dos fiéis no templo, além dos que acompanhavam o evento pelas redes sociais, Magno Malta colocou o presidente no viva-voz, para que ele se comunicasse com um dos pilares de sua base eleitoral: os evangélicos.

Em culto, Magno Malta coloca Bolsonaro no viva-voz e presidente reclama de CPI

Em uma declaração com jargões usados pelos religiosos, Bolsonaro reclamou da CPI da Covid, instalada no Senado para apurar ações e omissões do governo federal diante da pandemia de Covid-19 e aplicação de recursos federais por Estados e municípios, e disse ter "certeza" que a CPI se voltaria "contra quem determinou sua abertura".

"Agora, inventaram uma CPI. Tenho certeza que essa CPI se voltará contra quem determinou sua abertura. Além de nada devermos, temos Ele (Deus) ao nosso lado", disse o presidente. Ao fundo, o líder da igreja que conduzia o culto e os fiéis gritavam em concordância.

A ligação tem como pano de fundo um momento que Bolsonaro está pressionado devido a cobranças relativas ao combate à pandemia e Magno Malta, assim como muitos atores políticos, passam a se movimentar de olho nas eleições de 2022. Sem cargo público, o ex-parlamentar, que é o grande líder do PL no Espírito Santo, tem se dedicado, nos últimos anos, ao seu público na internet, gravando vídeos quase diariamente defendendo o presidente e as bandeiras conservadoras.

Um dia antes do evento na igreja, Magno estava na Avenida Paulista, em uma manifestação que reuniu milhares de apoiadores do presidente. Ao microfone e em cima do trio elétrico, dizia para as pessoas continuarem nas ruas em nome da "liberdade". Poucos dias antes, o país batia a marca de 400 mil mortos pela Covid-19.

Os evangélicos compõem a base eleitoral tanto de Magno quanto de Bolsonaro. No culto do último domingo, que durou mais de seis horas, Magno e Bolsonaro não foram os únicos a ganharem palco. Antes deles, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) recebeu elogios, abraços e cantou no púlpito da igreja. Jefferson já foi condenado a sete anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro e é um importante articulador bolsonarista no meio político e nas redes sociais.

Após mais de cinco horas de evento, um homem se aproximou do pastor para informar que Bolsonaro falaria com os fiéis. Em seguida, Magno Malta entrou no local e avisou ao mandatário que o colocou no viva-voz. Após deixar a mensagem, o presidente ouviu palavras de afago do apóstolo e gritos de apoio vindos da plateia. Veja no vídeo abaixo o momento da ligação.

Mais tarde, Magno voltou ao palco e discursou por alguns minutos. O ex-senador citou milagres que teria recebido de Deus e, em seguida, contou sobre a relação dele com o presidente e passou a defendê-lo, distorcendo informações sobre a CPI no Congresso. Enquanto ressaltou que atuou em duas grandes CPIs quando estava no Senado – a do Narcotráfico e a da Pedofilia – Magno fez críticas à CPI da Covid.

"O presidente está em paz com essa CPI, ele sabe que é um presente de Deus. Aqueles que acham que criaram um veneno para destruí-lo vão se destruir com o veneno que criaram. (...) Eu conheço de CPI, o presidente está em paz porque a única coisa que ele fez foi agir de maneira digna e correta", disse.

Assumindo o discurso da base bolsonarista no Congresso, que tenta levar o foco das investigações para a atuação dos governadores e prefeitos, Magno Malta afirmou que Bolsonaro não fez nada no combate à pandemia porque o Supremo Tribunal Federal (STF) teria "tirado os poderes dele e dado aos governadores e prefeitos".

O argumento, no entanto, não é verdadeiro. O STF não impediu que o governo federal atuasse ou tomasse decisões. A decisão do Supremo apenas permitiu que governadores e prefeitos pudessem agir com medidas de restrição de circulação, indicadas pelas autoridades sanitárias como a forma mais eficaz de combater a contaminação pelo novo coronavírus.

No final do discurso, o ex-senador pediu que os evangélicos orassem por quatro senadores bolsonaristas que compõem a CPI, dizendo que eles estão "enfrentando" outros sete parlamentares, que são da oposição.

RELAÇÃO ENTRE MAGNO MALTA E BOLSONARO

Jair Bolsonaro, recém-eleito presidente da República, ao lado do então senador Magno Malta, em 2018
Jair Bolsonaro, recém-eleito presidente da República, ao lado do então senador Magno Malta, em 2018. (Reprodução)

"Há cerca de 15 dias, tenho orado com o presidente, como foi sete anos antes de ele virar presidente. Depois de três anos sem uma palavra, nós voltamos a orar juntos." Foi assim que Magno Malta definiu em que pé está sua relação com Bolsonaro, diante dos fiéis na igreja. 

O ex-senador, que trilhou a carreira política com bandeiras conservadoras e mantém grande influência entre o público evangélico por ser cantor gospel, participou com dedicação da eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Foi cotado para ocupar o cargo de vice-presidente na chapa ou assumir um ministério. Apesar de estar ao lado do presidente durante toda a campanha, ficou a ver navios e está sem cargo desde então.

Na época, após não conseguir se reeleger para o Senado, Magno disse que se aposentaria da política. Bolsonaro respondeu que "as portas estariam abertas", mas não no primeiro escalão. "Sobre a questão de um possível ministério não achamos adequado para ele (Magno) no momento", disse o presidente, na época.

Ainda assim, o ex-senador não deixou de defender Bolsonaro e as bandeiras bolsonaristas durante os dois primeiros anos de mandato. A lealdade não passou despercebida pelo presidente. Em uma reunião ministerial em abril do ano passado, Bolsonaro citou Magno Malta como exemplo de fidelidade. "Politicamente ele nunca me deu uma alfinetada e sempre está defendendo, com os problemas que ele tem", disse.

Durante a pandemia, o ex-senador tem sido uma das vozes que propagam os discursos de Bolsonaro. Fez vídeos criticando o STF e a vacina, promovendo medicamentos sem comprovação científica, atacando adversários políticos do governo e chamando o coronavírus de "vírus chinês". Alguns dos vídeos foram derrubados do YouTube por conter informações falsas.

Facebook sinaliza publicação de vídeo de Magno Malta como
Facebook sinaliza publicação de vídeo de Magno Malta como "informação falsa". (Reprodução/Facebook)

Após a mudança de tom do governo federal, que passou a adotar a vacina como bandeira, entre os meses de dezembro de 2020 e janeiro de 2021, o próprio Magno deletou diversos vídeos do canal dele no YouTube nos quais falava mal da vacina Coronavac, fabricada pelo Butantan em parceria com a Sinovac, empresa chinesa. Até o momento, Magno não informou se tomou a vacina contra a Covid-19. Aos 63 anos, o ex-senador, que mora em Vila Velha, já poderia ter se imunizado.

VEJA O VÍDEO DO CULTO COM MAGNO MALTA NA ÍNTEGRA

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