Em rápida passagem por Vitória para palestrar no 10º Fórum Liberdade e Democracia, o vice-presidente do país, general Hamilton Mourão (Republicanos-RS), falou sobre conjuntura econômica, reformas e, naturalmente, um pouco de política. Durante o discurso, enfatizou que é contra o PT, partido do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, mas se comprometeu, como senador eleito, a votar em projetos do novo governo se, em sua avaliação, forem favoráveis ao Brasil.
"Eu sou oposição ao futuro governo porque eu não acredito nas ideias deles. Mas já deixei claro isso uma vez: eu não sou oposição ao Brasil. Da minha parte, aquilo que vier do governo do presidente Lula que esteja de acordo com o nosso pensamento, ou seja, reforma tributária, reforma administrativa, medidas que promovam a abertura comercial, terão o meu apoio irrestrito. Eu não vou ser contra o Brasil, muito pelo contrário. Se eles vão ter um excelente governo porque fizeram isso, palmas para eles", pontuou Mourão.
Questionado pelo mediador do debate sobre as articulações na composição do novo Congresso Nacional, a partir de 2023, o vice-presidente disse que, ao longo do segundo turno, atuou para tentar reeleger Jair Bolsonaro (PL). Mas, com a eleição do adversário, Mourão se coloca no campo da oposição e contou que já manteve com outros senadores eleitos que integraram a atual gestão — Sergio Moro (União Brasil-PR), Marcos Pontes (PL-SP), Jorge Seif (PL-SC) e Damares Alves (Republicanos-DF) — para se organizarem na tentativa de construir a maioria no legislativo.
"Sentimos que vamos ter uma coesão maior, em termo das ideias que nós acreditamos, pelo grupo que já havia e que permaneceu dentro do Senado e mais com a nossa chegada. Agora, a tarefa política é construir maioria, é a nossa tarefa neste momento", declarou.
Apesar de política não ter sido o tema central do painel que participou no evento, ainda nessa área Mourão mencionou um recurso utilizado nos Estados Unidos e que, para ele, também deveria ser adotado no Brasil. É o chamado "recall" que, grosso modo, cria a possibilidade de o eleitor revogar o mandato daquele candidato que, em sua avaliação, não está cumprindo as pautas a que se propôs defender. Novo nesse ambiente político, sua ideia, entretanto, pode não ser apreciada por outros parlamentares.
O vice-presidente ainda defendeu a gestão Bolsonaro, embora em alguns momentos tenha feito críticas que acabam respingando no próprio governo, como a baixa qualidade da educação pública, e o fato de o orçamento federal ter, segundo ele, 93% dos recursos carimbados com despesas obrigatórias. "Sobram apenas 7% daquilo que é chamado de despesa discricionária, ou seja, o dia a dia do governo, e investimento. Portanto, é uma situação complicada."
Na área econômica, Mourão analisou que estamos encerrando um ciclo, iniciado logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, e fez apontamentos sobre momentos marcantes ao longo do período até agora, culminando com o conflito entre Rússia e Ucrânia. O vice-presidente mencionou os reflexos na economia, que colocam vários países em um quadro de recessão.
"Óbvio que essa crise toda tem consequências aqui. Nosso país tem uma disrupção porque tem uma situação econômica e um sistema jurídico que não andam em harmonia um com o outro. Temos uma Constituição que é antimercado. E a partir desse momento fica difícil haver estabilidade para quem deseja investir, produzir aqui. A gente está sempre brigando contra alguma regra que é colocada do dia para noite, muitas delas penduradas na Constituição. É uma questão a ser debatida pela Suprema Corte", opinou, mas sem apontar alternativas para a legislação.
Para Mourão, o avanço da economia do país passa por dois pontos: equilíbrio fiscal e produtividade. O vice-presidente afirmou que Bolsonaro vai encerrar a gestão com gasto público menor que o Produto Interno Bruto (PIB), o que pode vir a ser indicador de equilíbrio, mas o Brasil ainda peca na produtividade por entraves burocráticos e a necessidade de reformas, como a tributária, que não aconteceram. No Senado, as reformas estarão em sua pauta.
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