Dias depois de negar que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estaria com a "cara do governo", o ministro da Educação, Milton Ribeiro, mudou o discurso e endossou a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em visita ao Espírito Santo nesta sexta-feira (19), ele reafirmou que "o Enem vai ter a cara do governo, sim".
“Eu quero reafirmar que o Enem vai ter a cara do governo, sim. Um governo que é ético, honesto, competente, e que leva a sério o imposto que todo o cidadão paga. Não vai haver nenhum tipo de tendência ideológica, nem para a esquerda nem para a direita,” disse em entrevista para a TV Gazeta.
A declaração foi feita após cerimônia de inauguração do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) de Barra de São Francisco. O ministro estava acompanhado do deputado federal Evair de Melo (PP), que é um dos vice-líderes de Bolsonaro na Câmara.
Às vésperas do Enem, que acontece neste domingo (21), o governo passa por uma crise que envolve suspeita de interferência em conteúdo da prova e assédio moral de servidores.
No início do mês, 37 funcionários ligados à organização do Enem pediram exoneração do Ministério da Educação (MEC). Eles alegam sofrer assédio moral do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela prova. Eles afirmam que há "fragilidade técnica" na gestão atual.
Há também denúncias de interferência direta do governo federal no conteúdo do Enem.
Conforme revelou o jornal Folha de São Paulo, Bolsonaro teria pedido ao ministro da Educação para que trocasse a palavra "Golpe de 1964" por revolução nas questões que abordassem a ditadura militar na prova.
Os presidente é um defensor da ditadura e já tentou reescrever a história em outros momentos. O golpe foi rememorado nos quartéis, em cerimônias oficiais, no primeiro ano do governo.
O pedido de Bolsonaro teria ocorrido no primeiro semestre, segundo relatos de integrantes do governo. Milton Ribeiro chegou a comentar a fala com equipes do Inep, mas não levou o pedido adiante, já que as questões da prova envolvem um longo processo de elaboração.
As denúncias levaram o Tribunal de Contas da União (TCU) a abrir um processo para investigar supostas irregularidades na organização do exame deste ano. O ministro, contudo, nega qualquer interferência na prova.
“As provas foram impressas há mais de três meses, então não tem como interferir nas questões. Nem eu, nem o presidente da República, nem o presidente do Inep conhecemos alguma questão. Existe um grupo preparado, que frequenta uma sala sigilosa onde eles preparam as questões”, disse Ribeiro.
Confira na entrevista do ministro da Educação na íntegra:
O ministro atribuiu a debandada dos servidores do MEC a um "descontentamento político" e que acredita ser "muito difícil" que os casos de assédio tenham realmente acontecido.
“Existe um grupo pequeno de funcionários do Inep que são mais politizados, que manifestaram um descontentamento, que tem mais a ver com a área administrativa do que com a acadêmica”, disse.
"Quem alega é quem deve que provar. E no serviço público existem canais e meios próprios para pessoa mostrar que tem sofrido assédio moral. Mas eu acho que isso é muito difícil", completou.
O atual presidente do Inep, denunciado por assédio moral, foi levado ao cargo por Milton Ribeiro, de quem é próximo.
Para Milton Ribeiro, os pedidos de exoneração tem relação a uma certa insatisfação dos servidores com mudanças em gratificações pagas pelo governo.
“O que eles, talvez, não estejam gostando é que estamos colocando algumas normas que interferem na renda deles, que sobre a gratificação de Cursos e Concursos (GEC). Um funcionário do Inep que participa disso ganha o salário dele, os cargos em comissão (DAS), e o GEC, que é essa gratificação, que chega a ser para alguns RS 60 mil por ano, quase um salário. O que nós fizemos foi regulamentar essas gratificações, para só quem tem direito receber"
De acordo com o ministro, nenhum dos servidores será realmente exonerado, já que são concursados. Com o pedido de demissão, os funcionários, na verdade, abriram mão de um percentual que eles ganhavam a mais.
O ministro da Educação esteve no Espírito Santo para participar de eventos no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes). Na quinta-feira, ele participou da cerimônia de posse dos novos reitores do Instituto, em Vitória.
Ao lado dele estiveram o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), a vice-governadora Jacqueline Moraes (PSB), os senadores Fabiano Contarato (Rede) e Rose de Freitas (MDB), além do deputados federal Helder Salomão (PT).
Nesta sexta-feira, Milton Ribeiro viajou até Barra de São Francisco, no Noroeste do Estado, onde participou da inauguração do Campus do Ifes na cidade.
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