A disputa pelo segundo turno para o Governo do Espírito Santo começou levantando temas sensíveis para a história do Estado. Nesta terça-feira (4), o deputado Felipe Rigoni (União) publicou um vídeo onde associa o candidato ao Executivo estadual Carlos Manato (PL) à Scuderie Le Cocq e ao crime organizado “que assombrou o Estado até os anos 2000”. No mesmo vídeo, postado nas redes sociais, Rigoni declara apoio ao adversário de Manato, o atual governador Renato Casagrande (PSB).
Apontada como um dos principais grupos de extermínio a agir no Espírito Santo, a Scuderie Detetive Le Cocq foi fundada no Rio de Janeiro na década de 1960, e chegou oficialmente ao Estado na década de 1980.
Até a data da dissolução da organização por decisão da Justiça Federal em 2004, a Le Cocq tinha sido acusada de 30 assassinatos políticos e quase 1.500 homicídios anuais que transformaram o Espírito Santo no segundo estado mais violento do Brasil e as cidades da Grande Vitória nas mais violentas do mundo.
A Scuderie foi oficialmente fundada no Espírito Santo em 24 de outubro de 1984, pautada para “aperfeiçoar a moral e servir à coletividade”. Um dos lemas do grupo era “bandido bom é bandido morto”.
Nela, foram associados advogados, juízes, políticos, promotores, empresários e comerciantes. O símbolo é o mesmo dos esquadrões de morte: uma caveira, duas tíbias e as iniciais EM.
O grupo não era clandestino e nem ilegal. Tinha registro de CNPJ, ficha de inscrição - é estimado que tenha tido cerca de 800 membros no Estado - e os integrantes costumavam ser identificados por chaveiros, broches ou adesivos nos carros.
Classificada muitas vezes como organização paramilitar, investigações apontam que a entidade interferiria na apuração de crimes para garantir a impunidade de associados.
Pessoas associadas à Le Cocq foram acusadas de assassinatos e de envolvimento com tráfico de drogas, jogo do bicho, roubo de carros, roubos a bancos e sonegação de impostos.
A Le Cocq esteve no centro dos crimes e violações de direitos humanos no Espírito Santo cometidos principalmente entre os anos 1990 e início dos anos 2000. A organização era considerada o braço armado do crime organizado capixaba.
É importante destacar que, diferente de hoje em dia, o que se entendia por crime organizado não era aquele composto por traficantes de drogas em torno de compra e venda de entorpecentes e disputa de territórios.
Ele era formado por membros importantes da sociedade, e envolvia juízes, parlamentares, secretários, governantes, policiais, promotores e grandes empresários que se articulavam para a manutenção do próprio poder.
Os integrantes do crime organizado estavam infiltrados em todas as esferas de poder, inclusive nas altas cúpulas do Judiciário, dos Executivos municipais e estadual, Legislativo e até em instituições financeiras.
Na decisão de 2004 que extinguiu oficialmente o grupo, o juiz federal Alexandre Miguel, então na 4ª Vara da Justiça Federal, em Vitória, dissolveu o registro jurídico da associação e mandou suspender de imediato todas atividades da organização e a inclusão de novos sócios. O documento também proibiu a divulgação do nome e de símbolos da Scuderie.
O candidato ao governo do Estado, Carlos Manato (do PL), reagiu ao vídeo do deputado federal Felipe Rigoni (do União Brasil) e afirmou que "é lamentável que alguém que criticou o governo se preste a fazer um papel desses".
O candidato do PL esclareceu que em 1991 fez um ciclo de estudos da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Adesg). De acordo com Manato, a entidade reunia juízes, advogados e médicos e, depois da conclusão dos cursos, passou a integrar outra instituição que também teria objetivos filantrópicos e distribuição de cestas básicas, chamada de Fraternidade, Força e Honra (FFH).
Segundo ele, foi por causa da participação nessa fraternidade que teria se relacionado com o grupo conhecido como Scuderie Le Cocq.
Manato afirma que "a instituição acabou na década de 90 porque tinha pessoas de má índole. Nunca participei de nada, não tenho arma, nunca dei um tiro"
Ao final, o candidato do PL desafiou os adversários a comprovarem qualquer participação sua com o crime organizado.
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