O Espírito Santo foi o único Estado do país que não recebeu uma visita oficial do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desde o começo do mandato, em janeiro de 2019. O chefe do Executivo já teve agenda, pelo menos uma vez, nas outras 25 unidades da federação. Mesmo durante a pandemia de Covid-19, Bolsonaro segue com compromissos públicos pelo Brasil – inclusive descumprindo medidas como distanciamento e uso de máscara –, mas ainda não esteve em terras capixabas.
Normalmente, as viagens do presidente são para participar de cerimônias de inauguração ou lançamento de obras e projetos do governo federal. Na mais recente delas, na última sexta-feira (7), Bolsonaro esteve em Porto Velho, capital de Rondônia, para a inauguração de uma ponte que liga o município ao Acre.
Nesta quinta-feira (13), o presidente vai fazer mais uma viagem. Ele vai ao Estado de Alagoas participar de solenidades de inauguração de um residencial, de um complexo viário e do Canal do Sertão Alagoano.
Mesmo durante a pandemia, o presidente não interrompeu o calendário de viagens pelo país e manteve uma rotina intensa de visitas. Entre os dias 24 e 26 de fevereiro, quando o país vivia um dos momentos mais críticos e atingia 250 mil óbitos por Covid-19, o presidente passou por Acre, Paraná e Ceará, gerando aglomerações nesses locais.
Ignorado pelo presidente na agenda, o Espírito Santo deu a Bolsonaro uma votação expressiva nas eleições de 2018. No primeiro turno ele garantiu 54,76% da preferência do eleitorado capixaba, percentual que foi para 63,06% no segundo.
Um dos principais apoiadores de Bolsonaro no Espírito Santo e candidato ao governo em 2020, Carlos Manato afirma que Bolsonaro não visita o Estado para evitar desconfortos com o governador Renato Casagrande (PSB), que é crítico do presidente. Manato sustenta que o partido do governador é um dos principais opositores do governo federal.
“Ninguém vai aonde não é bem recebido. Acredito que o presidente quer evitar desconfortos, por isso não veio ao Espírito Santo ainda. Nós sempre fazemos convites e esperamos uma visita dele”, afirmou Manato.
Bolsonaro, no entanto, já esteve algumas vezes na Bahia, que é governada pelo petista Rui Costa, crítico ferrenho do presidente. A visita mais recente foi em 26 de abril. Foi a segunda estadia na Bahia neste ano e a nona desde que foi eleito.
A vinda do presidente ao Espírito Santo chegou a ser anunciada para novembro de 2020. Durante o evento de inauguração do novo Cais de Atalaia, no Porto de Vitória, e de celebração da renovação do contrato do Terminal de Vila Velha (TVV), o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, disse que Bolsonaro estaria no Estado para a assinatura da prorrogação por 30 anos do atual contrato de concessão da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), operada pela mineradora Vale. O contrato foi assinado, mas o presidente acabou não vindo.
No final de janeiro de 2020, após a devastação de algumas cidades no Sul do Espírito Santo devido às fortes chuvas, capixabas cobraram nas redes sociais que o presidente visitasse o Estado para acompanhar e ajudar na reconstrução dos municípios atingidos.
O presidente esteve em Minas Gerais, que enfrentou situação parecida. "Até o momento, não há previsão de visita do presidente da República ao Espírito Santo", disse, por meio de nota, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República, na ocasião.
Na época, o apelo pela vinda de Bolsonaro ganhou o coro entre aliados do presidente na bancada capixaba na Câmara dos Deputados. O deputado federal Evair de Melo (PP) publicou em redes sociais que conversou com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, pedindo a presença do presidente.
A deputada federal Soraya Manato (PSL) chegou a enviar um ofício ao Planalto solicitando uma visita do presidente ao Estado.
Quando ocupava o posto de deputado federal, Jair Bolsonaro esteve algumas vezes no Espírito Santo. A última delas foi no dia 31 de julho 2018, enquanto pré-candidato ao cargo de presidente.
Na ocasião, Bolsonaro foi recebido com festa de apoiadores no Aeroporto de Vitória e subiu em um caminhão ao lado de aliados políticos.
Para o cientista político João Gualberto Vasconcellos, o fato de Bolsonaro não vir ao Espírito Santo configura falta de leitura política do presidente, já que ele teve votação expressiva e conta com muitos apoiadores. Ele pondera que o Estado é pequeno, mas destaca que o bolsonarismo é forte entre os capixabas.
“Razões para vir ele tem, já que teve uma votação muito boa no Estado. Além disso, o presidente conta com aliados importantes aqui no Estado. Acho que é uma falta de leitura do eleitorado”, avalia.
Apesar disso, João Gualberto lembra que mesmo não vindo ao Estado, o presidente não deixa de se comunicar com os apoiadores capixabas. O cientista político pontua que Bolsonaro é fruto do meio digital e consegue movimentar os apoiadores via internet.
A reportagem procurou a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República para questionar os motivos de o Espírito Santo não ter recebido visitas presidenciais e se existe previsão para a uma vinda de Bolsonaro. Até a publicação deste texto não houve resposta.
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