Dentre as muitas propostas de governo de candidatos ao Executivo dos municípios, as promessas de melhorias na saúde costumam ser uma das mais chamativas para os eleitores. Mas quais são as reais necessidades da saúde nos municípios? O que deve ser prioridade nos mandatos dos futuros eleitos? No segundo episódio da série, a CBN discutiu os principais desafios dessa área na Região Metropolitana de Vitória, com o médico e professor da Universidade Federal Do Espírito Santo, José Geraldo Mill.
Para José Geraldo, aumentar a cobertura vacinal dos municípios é muito importante, porque a vacinação é um cuidado preventivo, que pode evitar altas despesas futuras com doenças que podem ser evitadas. “O anuário do IBGE mostra que vitória tem um índice ruim de vacinação. Em 2023, nos grupos prioritários a cobertura vacinal atingiu 61% e isso é muito baixo. Para algumas doenças, a cobertura precisa passar de 90%”. Além da Capital, Mill também alerta para a baixa adesão de vacinação de outros municípios: Vila Velha 47%; Serra 50%; Cariacica 52%; Viana 53%.
O professor destaca que doenças como sarampo, poliomielite, difteria, que no passado foram consideradas erradicadas, estão voltando a se tornar comuns devido ao baixo índice de vacinação. “A descrença nas vacinas é causada por informações erradas, que aterrorizam as pessoas. Com isso, você prejudica quem se vacina e quem não se vacina”.
A atenção básica de saúde é oferecida pelos municípios pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), e nesse local que muitos brasileiros acessam antes mesmo de nascer, com o cuidado pré-natal. O especialista afirma que a taxa de mortalidade infantil é um ponto há melhorar. “Em 2019, alcançamos o melhor dado: 6,7 óbitos a cada 1000 nascidos vivos. Em 2022, a taxa voltou como era em 2016, e está entre 10 e 11.”.
O professor explica que o cuidado materno-infantil é uma prioridade: “É um esforço que a prefeitura vai ter que fazer para melhorar o pré-natal, fazendo busca ativa de gestantes para fazer acompanhamento.” “Uma mãe que não cuida da sífilis, por exemplo, corre o sério risco de desenvolver deficiências físicas e mentais para o resto da vida”, completa o especialista.
Uma boa gestão é indispensável para o funcionamento do sistema de saúde. Um dos serviços que tem problemas para atender às demandas da sociedade é o das especialidades. “ É preciso um estudo de demanda. Vejo algumas unidades de saúde com pouco movimento e outras sobrecarregadas. É preciso um redimensionamento”, defende. O grande tempo de espera para tratar doenças é outro ponto que precisa de atenção. “Pacientes ficam anos para fazer exames ou realizar cirurgias”.
A ampliação da verba na área da saúde não é tarefa fácil, mas poderia aliviar a sobrecarga dos atendimentos. “O custo de saúde com cada cidadão brasileiro está entre 150 e 200 dólares. Comparado ao Canadá, que tem o sistema de saúde está praticamente nas mãos do Estado, o valor por pessoa fica entre 1.000 e 1.200 dólares por ano. Estamos com o gasto per capita ainda baixo, e isso se mostra nos gargalos”.
As unidades de Pronto Atendimento (PA), apesar de oferecerem o serviço, são alvos de reclamações da população, principalmente pela demora. “São os locais onde necessitam profissionais mais capacitados por tratar de situações de urgência. Entretanto, a remuneração do trabalho não valoriza o profissional, o que resulta em profissionais em início de carreira e com baixa experiência”.
O médico sugere um adicional de salário nessa área, que seja compensador para profissionais com mais vivência clínica, que são capazes de atender com mais agilidade e tomar decisões mais acertadas.
Mill fala da importância da legislação não ser um fator que atrase de alguma forma o fluxo da saúde. Um exemplo disso é o desperdício de vacinas destinadas para um grupo prioritário, mas que por falta de adesão desse público, acaba vencendo nos postos de saúde, quando poderia ser usada para vacinar outras pessoas.
“A perda das vacinas de dengue pela limitação legislativa é falso argumento, porque você paga o vereador e o deputado estadual para legislar, e quando houver um problema, o legislador possa achar a solução e ter uma decisão efetiva. Perder vacina nas unidades de saúde, quando há pessoas querendo se vacinar, é uma decisão irracional.”
O especialista ainda destaca que os futuros eleitos devem aprender com os erros que já foram cometidos e com outros municípios que estão com ações dando certo. Além disso, o médico explica que cuidados com a saúde devem ser amplos e integrados com outras áreas. “Saúde não é só médico e hospital, os principais indicadores de saúde estão no modo de vida”, completa o professor.
Para acessar a entrevista, acesse aqui.
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