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Espírito Santo tem a menor proporção de prefeitas eleitas do país

Espírito Santo tem a menor proporção de prefeitas eleitas do país

Das 19 candidatas que concorreram ao cargo nas Eleições 2024 nos municípios capixabas, apenas duas saíram vitoriosas

Publicado em 15 de outubro de 2024 às 14:57

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Espírito Santo tem a menor proporção de prefeitas eleitas do país
Mulheres eleitas para comandar os Executivos municipais no ES representam apenas 2,63% do total de escolhidos. (Arte: A Gazeta)
Julia Camim
Jornalista / [email protected]

Pelos próximos quatro anos, apenas duas cidades do Espírito Santo serão comandadas por mulheres: São Domingos do Norte, que reelegeu a prefeita Ana Malacarne (MDB) e Montanha, onde quem assume o cargo é Iracy Baltar (Podemos). As duas mais votadas nos respectivos municípios representam apenas 2,63% do total de escolhidos para comandar os Executivos municipais capixabas. Esta é, em comparação com os outros estados brasileiros, a menor proporção de mulheres eleitas para assumir prefeituras.

Em todo o país, 86,8% dos que conquistaram o cargo de prefeito no primeiro turno são homens e apenas 13,2% são mulheres. Ou seja, a proporção capixaba, além de ser a pior em termos de representação da sociedade — de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 52% do eleitorado do Estado é feminino — também está muito abaixo da média nacional: são quase 10,6 pontos percentuais a menos.

Considerando que dois dos 78 municípios ainda não definiram o pleito — na Serra será disputado o segundo turno, no próximo dia 27, entre Weverson Meireles, do PDT e Pablo Muribeca, do Republicanose em Presidente Kennedy a decisão está sub judice — é possível afirmar que essa proporção de mulheres eleitas será, ao fim do processo eleitoral, ainda menor, podendo chegar a 2,56%.

A taxa de vencedoras acompanha a proporção de candidatas no Estado — que, igualmente, foi a menor do Brasil. Neste ano, foram 19 candidaturas femininas (6,86%) frente a 258 masculinas. Isso significa que as mulheres que tiveram sucesso são 10,5% daquelas que participaram da corrida eleitoral majoritária.

Espírito Santo tem a menor proporção de prefeitas eleitas do país

De acordo com a pesquisadora e diretora do Instituto Alziras (organização social sem fins lucrativos que estuda a presença feminina na política e na gestão pública) Michelle Ferreti, os dados são críticos não só para a democracia, visto que a maior parte da sociedade está sub-representada nos espaços que gerenciam a vida pública, mas para a própria população, que é afetada pela falta de olhares diversos.

“O que a gente vê é que, em geral, nas prefeituras governadas por mulheres, há uma cobertura maior dos serviços básicos, de atenção às famílias e que dizem respeito à sociedade como um todo. Há uma maior redução de mortalidade infantil, especialmente na primeira infância, em prefeituras onde as mulheres estão no comando, por exemplo”, evidencia a pesquisadora.

A prefeita eleita Iracy Baltar, que vai assumir o terceiro mandato (ela foi eleita em 2008 e em 2016), em entrevista à rádio CBN Vitória, avaliou a situação capixaba. Para ela, a baixa presença feminina nos espaços de poder não diz respeito ao Estado em si, mas à violência de gênero “que vem, ao longo da história, silenciando as mulheres”. “E a violência política de gênero, além de silenciar, afasta e vai tomando um espaço maior do que deveria”, afirmou.

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Tanto homens quanto mulheres ficam muito mais à vontade para afrontar, difamar, caluniar, adotar posturas mais agressivas quando se trata de uma candidata. Com o candidato homem, eles já têm mais receio, já que esse é um espaço mais masculino. A gente precisa se unir mais e ter mais coragem

Iracy Baltar (Podemos)
Prefeita eleita em Montanha
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Ao todo, das 3.320 candidatas aos três cargos eletivos em disputa neste pleito (vereador, vice-prefeito e prefeito), apenas 116 foram eleitas, sendo, além das duas prefeitas, sete vices e 107 vereadoras, que correspondem a 9,21% e 12,3% do total, respectivamente. Separadamente, os índices também são os piores do Brasil, exceto o de vereadoras. Neste caso, o Rio de Janeiro foi o estado que elegeu menos mulheres: apenas 9,7%.

Para Ferreti, o que explica o baixo índice de sucesso eleitoral das mulheres no país todo é justamente as desigualdades que as candidatas enfrentam para poder participar da disputa. “Desde acesso desigual a recursos financeiros para fazer as campanhas, visibilidade menor no tempo de propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV, com aparições concentradas nos horários de menor audiência e nos dias iniciais da campanha, até os próprios partidos que têm, em geral, uma taxa muito baixa de mulheres nos espaços de decisão. Tudo isso impacta a disputa eleitoral”, argumenta a especialista.

Além disso, para a pesquisadora, a dinâmica nos espaços de poder é muito mais custosa para as mulheres, que têm que lidar com a violência política de gênero mesmo após serem eleitas.

“Tem uma construção histórica que naturaliza a presença masculina nos espaços políticos e que faz com que as mulheres precisem constantemente se provar para poder ocupar esses espaços também”.

Diversidade feminina

Além da falta de representatividade da maior parte da população brasileira, o próprio grupo feminino nos espaços de poder e tomada de decisão não corresponde fielmente à realidade capixaba.

No Espírito Santo, as mulheres negras (pretas e pardas) são 60,15% do total da população, de acordo com o Censo 2022 do IBGE, mas apenas 34,5% das que conquistaram os cargos disputados: das vencedoras, apenas 40 são negras, das quais 38 se elegeram vereadoras e 2 vice-prefeitas.

Representar na política a heterogeneidade das mulheres, que são diferentes entre si e conhecem realidades distintas a depender de onde moram, como são e o que fazem, é, segundo Ferreti, essencial. “O grupo é plural: estamos falando de mulheres negras, indígenas, periféricas, LGBTQIAPN+. Há uma diversidade de mulheres que precisa ser levada em consideração, porque a diversidade enriquece a democracia”.

Por isso, a pesquisadora ressalta a importância da existência de políticas públicas de incentivo às candidaturas femininas e das exigências legais — como a cota de gênero, que determina que ao menos 30% das candidaturas aos cargos proporcionais de um partido sejam reservadas a mulheres.

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