O Espírito Santo teve apenas um prefeito autodeclarado preto eleito no primeiro turno das Eleições 2024. João Trancoso (PSB), de 54 anos, vai comandar pela primeira vez o pequeno município de Vila Pavão, na Região Noroeste do Estado, de pouco mais de 9 mil habitantes. O socialista é o primeiro prefeito preto eleito no Estado desde 2016, quando a autodeclaração começou a valer para este tipo de pleito.
Trancoso é eletricista e se aproximou da política quando foi trabalhar na prefeitura como operador de máquinas. Depois, virou chefe do setor, diretor de transportes e chegou ao cargo de secretário de Agricultura e Meio Ambiente. Ele disputou sua primeira eleição em 2012, quando a gestão municipal em que estava iria mudar, mas perdeu e voltou a trabalhar por contra própria. Depois, venceu a disputa para vereador em 2016, ficando no cargo até este ano, após ser reeleito em 2020.
Sobre representatividade negra na política, o político destacou que sua vitória é ainda mais significativa, pois Vila Pavão é “terra de pomeranos”, de maioria branca. “Só que a gente se interage bem. Sou uma pessoa muito simples, humilde, sei chegar e sei sair, e assim que é o meu trabalho”.
Dos 78 municípios capixabas, 24 serão comandados por políticos que se autodeclararam negros, o que inclui pretos e pardos, conforme a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além de João Trancoso, que declarou ser preto, há 23 que disseram ser pardos.
Nas eleições municipais anteriores, todos os negros eleitos se autodeclararam pardos.
No consolidado geral, o Estado elegeu 411 negros, o equivalente a 40% das 1.022 vagas para os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador, um crescimento de 14,2% em relação a pleitos anteriores. Na eleição municipal de 2020, foram eleitos 359 negros; já em 2016 foram 348.
Cabe aos próprios candidatos declararem a cor no momento de registrar a candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), podendo ser amarelo, branco, indígena, pardo ou preto, ou nenhuma raça.
A cor ou a raça dos candidatos é usada na definição de políticas públicas, como a distribuição do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral, dinheiro público repassado pelo governo aos partidos.
A eleição de um único preto a prefeito e o fato de apenas 40% das cadeiras em câmaras e prefeituras serem ocupadas por negros no Estado, evidencia, na avaliação do cientista social Wilson Camerino, que o patriarcalismo e o racismo estrutural continuam presentes, mantendo as desigualdades étnico-raciais, de gênero e de diversidade sexual no país.
“Na remota história do Brasil a população preta já se organizava politicamente em torno das rebeliões contra o sistema escravagista. Vários movimentos existiram em todo Brasil, por exemplo, a cabula, que era um misto de missão religiosa e política, as irmandades do rosário e os abolicionistas, que em nosso Estado capixaba fizeram história na luta contra a escravidão”, afirma.
Segundo Camerino, a representação que temos no cenário capixaba eleitoral não é a melhor, embora seja fruto do avanço da luta dos movimentos sociais organizados pela representatividade da população preta e das mulheres no cenário político.
“A representatividade é uma questão histórica, e não será diferente na representação política. Acredito que em alguns anos essa disparidade étnico-racial e de gênero será mais horizontal. E, quem sabe, com os novos atores sociais na política, como os novos vereadores Ana Paula Rocha (Psol), Professor Jocelino (PT), eleitos em Vitória, no ato de uma boa representatividade, eles serão exemplo para muitos jovens adentrarem ao cenário partidário eleitoral”, conclui.
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