O juiz Felipe Leitão Gomes, de Fundão, recebeu denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual contra o ex-prefeito de Fundão Anderson Pedroni (PSD), acusado de liderar uma organização criminosa para compra de votos de vereadores. O objetivo seria fazer os parlamentares aprovarem um decreto legislativo que pretendia tornar Pedroni elegível nas eleições de 2016.
Pedroni havia tido as contas de prefeito rejeitadas pela Câmara, em 2012, e acabou cassado. Ele foi prefeito interino por cerca de sete meses, entre 2011 e 2012. Os revéses fizeram com que ele fosse pego pela Lei da Ficha Limpa. Mesmo sendo o mais votado de 2016, acabou barrado.
Além das batalhas na seara jurídica, Pedroni lançou mão de uma série de atitudes criminosas, segundo o Ministério Público.
Cada qual com seu envolvimento específico, constituíram e integraram organização criminosa, para o fim de obter a compra de votos de vereadores de Fundão, oferecendo dinheiro, cargos públicos e outras vantagens pessoais indevidas, em troca de apoio em todas as etapas dos procedimentos legislativos que visavam desconstituir as causas de inelegibilidade de Anderson Pedroni, diz a denúncia assinada pelo promotor Egino Rios.
O grupo pretendia aprovar um decreto que daria a Pedroni a chance de ter as contas novamente apreciadas na Câmara. Com uma maioria favorável, as contas seriam aprovadas com ressalvas e o político teria mais chance de reverter o indeferimento da candidatura.
CENTRAIS
De acordo com a denúncia, faziam parte do núcleo da organização criminosa, além do ex-prefeito, o presidente do PSD da Serra, Flávio Serri, e o empresário Marcos Antunes. Tinham inequívoco interesse pessoal no êxito da empreitada, uma vez que, dentro do esquema, em troca de apoio, seriam agraciados com promessas de cargos públicos, influência política e direcionamento de contratos administrativos no âmbito do Poder Executivo Municipal de Fundão, narra a denúncia.
Em conversa telefônica com Flávio Serri, interceptada com autorização da Justiça, Pedroni refere-se a Marcos como seu patrocinador e que, com a vantagem, partiria para cima deles. Na interpretação do promotor, o político estava sugerindo que teria condições de oferecer vantagens indevidas em troca de apoio político.
Na mesma conversa, Flávio, aparece como o responsável por elaborar a minuta do texto que deveria ser aprovado. Ele disse que o escreveria dentro da Câmara, mas foi desaconselhado por Pedroni, que alertou para a presença de opositores.
DINHEIRO
Além de cargos, houve oferta de dinheiro, segundo a denúncia. Cerca de 30 dias antes da eleição de 2016, houve uma reunião em uma empresa de Marcos Antunes. O empresário, Pedroni e Serri chamaram dois vereadores que estavam sendo pressionados a votar como os denunciados queriam.
Pedroni orientou que todos os presentes desligassem os aparelhos celulares. Na sequência, falando em seu nome e de seu grupo, ofereceu a quantia de R$ 15 mil para cada um dos vereadores presentes, conta a denúncia.
A outro vereador também foi oferecida ajuda em seus anseios políticos, com promessa de cargos comissionados na prefeitura e ajuda financeira para cobrir as despesas de campanha à reeleição como vereador. Os parlamentares negaram ofertas de dinheiro, conforme a denúncia.
Os outros denunciados foram o vereador Janilton Carli (PDT) e o então presidente da Câmara, Carlos Augusto Tófoli (Rede). Eles são apontados como braço político-operacional da organização criminosa. Tófoli disse em depoimento ao MPES que a ele foi perguntado quando dinheiro ele queria para agilizar a tramitação do decreto. O último denunciado é o vendedor Wagner Poltronieri, acusado de dar apoio e suporte aos principais denunciados.
Os crimes variam entre organização criminosa, corrupção ativa e usurpação de função pública.
A promotoria chegou a pedir a prisão preventiva do grupo, por entender que eles continuam tendo influência na administração municipal. O juiz negou o pedido por não vislumbrar continuidade dos crimes apontados.
Há uma linha tênue que divide o exercício da política partidária sadia com aquela fundada no fisiologismo, lembrou o juiz, na decisão de 6 de março.
DEFESA REBATE E ALEGA "CONVERSA POLÍTICA"
O advogado de Anderson Pedroni e de Carlos Augusto Tófoli, Felipe Osório, afirmou que a denúncia não apresentou nenhum fato novo e destacou que não houve perícias em documentos nem quebra de sigilo bancário.
Também sublinhou que as conversas interceptadas são diálogos políticos, sem ligação com crimes. Todos esses fatos já foram elencados. A polícia ficou mais de um ano com esse inquérito e não teve perícia, não teve quebra de sigilo bancário. O que teve foram conversas telefônicas de política, pontuou.
Osório disse que Carlos Augusto não deveria estar respondendo ao processo. É um homem do interior, vive de agricultura. Algumas pessoas ligaram para ele porque ele é líder político de um lugar pequeno, frisou.
NOTIFICAÇÃO
Advogado de Flávio Serri, Fábio Modesto informou que ainda não havia sido notificado sobre os últimos andamentos do caso e, portanto, não teria condições de se manifestar.
O empresário Marcos Antunes, procurado por meio de sua defesa, disse negar todas as acusações feitas sobre ele.
Janilton Carli e Wagner Poltronieri não foram localizados para comentar o caso. Os advogados deles também não.
REGISTROS FORAM DESTRUÍDOS
A análise dos materiais apreendidos revelou, segundo o Ministério Público Estadual (MPES), que os denunciados tinham acesso a informações privilegiadas sobre a investigação contra eles. Eles ficaram sabendo de uma operação de busca e apreensão antecipadamente e tiveram tempo para apagar e destruir registros de contatos e provas mais relevantes acerca de atuação ilícita.
A investigação foi iniciada pelo Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas (Nuroc) e pela Delegacia de Crimes Contra a Administração Pública. Segundo o MPES, a operação policial de busca e apreensão que confiscou o celular na casa de Pedroni, no dia 21 de fevereiro, mostrou que ele, de propósito, danificou o aparelho para ocultar provas dos crimes praticados pelo grupo.
Quando foi questionado sobre o motivo do aparelho estar quebrado, surgiram contradições do ex-prefeito.
De acordo com a denúncia do MPES, primeiro ele disse que a mulher dele, a atual vice-prefeita, Alexsandra Schunck Rodrigues (PSD), arremessou o telefone na parede durante uma briga do casal.
Em outro momento, alegou que ele mesmo quebrou o telefone com as mãos na noite anterior à operação porque a mulher dele teria descoberto possível traição.
Já no depoimento formal prestado aos investigadores, Anderson Pedroni disse que quebrou o telefone pela manhã, pouco antes da operação, por ter ficado nervoso durante uma briga conjugal.
A polícia, então, colheu depoimento de Alexsandra. Ela contou que nem dormiu em casa na noite anterior à operação e que não houve nenhuma briga conjugal.
A equipe de investigação apontou que Alexsandra não se encontrava no imóvel do casal no dia da diligência, sendo certo, diante das circunstâncias, que Anderson Pedroni, em atitude desesperada e intencional, destruiu o objeto assim que soube da chegada dos policiais à residência, escreveu o promotor Egino Rios.
O advogado do ex-prefeito, Felipe Osório, informou que o telefone foi danificado porque o político estava nervoso, mas que os dados do aparelho não foram prejudicados.
DESPACHO
Mesmo sem vínculo formal com o município, Pedroni fazia reuniões políticas no gabinete do prefeito interino. Depois, o aliado dele, Pretinho Nunes (PDT), sagrou-se o vencedor da eleição suplementar. Em fevereiro, Pedroni foi nomeado enfermeiro da prefeitura.
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