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Ex-prefeito de Presidente Kennedy aposta em outra sobrinha como vice

Ex-prefeito de Presidente Kennedy aposta em outra sobrinha como vice

Município do Sul do Estado ficou marcado, nos últimos anos,  por denúncias de corrupção. A prefeita Amanda Quinta, sobrinha de Reginaldo, foi presa e afastada do mandato. Agora outra entra em cena

Publicado em 6 de outubro de 2020 às 15:36

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Reginaldo Quinta (DEM) e a sobrinha Geovana Quinta (Republicanos), candidatos à Prefeitura de Presidente Kennedy. (Reprodução/Facebook)

O cenário eleitoral no município de Presidente Kennedy, no Sul do Espírito Santo, conta, mais uma vez, com alianças entre familiares e candidatos com histórico na prefeitura tentando retornar ao Executivo municipal. A começar pelo ex-prefeito Reginaldo Quinta (DEM), que reapareceu na cena política, agora ao lado de outra sobrinha, Geovana Quinta (Republicanos), para disputar os cargos de prefeito e vice, respectivamente.

Além do vínculo familiar muito próximo entre os dois, Reginaldo e Geovana já atuam juntos politicamente há anos. Reginaldo já indicou uma sobrinha para sucedê-lo, Amanda Quinta, que acabou presa e afastada. A outra sobrinha, que agora ele indica para vice, é ré no processo da Operação Lee Oswald. A princípio, o demista estava inelegível para as eleições municipais deste ano, por ter uma condenação definitiva por improbidade administrativa.

No entanto, ele obteve no Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) uma decisão provisória que suspendeu os efeitos da condenação e, com isso, solicitou o registro de candidatura. O Ministério Público impugnou o pedido e agora resta à Justiça Eleitoral decidir se ele pode ou não disputar. Caso seja impedido, há quem veja na escolha da sobrinha Geovana como vice uma forma deste grupo familiar continuar sua influência na política da cidade.

Reginaldo Quinta (então no PTB) foi prefeito da cidade de 2009 a 2012, mas não terminou o mandato. Na reta final, foi preso pela Polícia Federal durante operação Lee Oswald, acusado de chefiar uma quadrilha que desviou R$ 55 milhões dos cofres do município, e também teve o mandato cassado pela Câmara.

Na reta final das eleições daquele mesmo ano, desistiu de sua candidatura, encampando o nome da sobrinha Amanda Quinta (hoje sem partido), de 25 anos na época, para substituí-lo no pleito. Ela foi eleita com 57,65% dos votos.

Amanda Quinta, prefeita de Itapemirim
Amanda Quinta, foi prefeita de Presidente Kennedy. (Carlos Alberto Silva)

Amanda havia sido secretária municipal de Cultura na gestão do tio, assim como Geovana Quinta, que é uma velha conhecida da da população da cidade. Desde aquele ano, ela chegou a ser cotada para assumir o município e era considerada "escolha natural do tio". Geovana foi secretária municipal, comandou três pastas, dentre elas, a Secretaria de Educação, sendo conhecida inclusive como "supersecretária".

No entanto, como ela aparecia nas investigações da Polícia Federal da Lee Oswald – chamada inclusive de "abelha rainha" – e também poderia enfrentar problemas por conta das denúncias, acabou não sendo lançada. Depois, ela acabou se tornando ré nesse processo, que ainda não foi a julgamento.

GESTÃO AMANDA

Nas eleições seguintes, de 2016, Reginaldo e Amanda disputaram diretamente a prefeitura e passaram a ser rivais declarados. Críticas públicas de um para o outro tornaram-se comuns, ao ponto de Reginaldo pedir "desculpas" por tê-la indicado ao cargo.

A trajetória de Amanda foi semelhante à do tio: acabou afastada do cargo, em maio de 2019, após ter sido presa em flagrante durante a Operação Rubi, do Ministério Público Estadual (MPES).

Quem assumiu o cargo foi o vice Dorlei Fontão (PSD), que formou chapa com Amanda nos dois mandatos e também mantinha proximidade com o grupo político dos Quinta há alguns anos.

Em 2012, quando da deflagração da Lee Oswald, ele era presidente da Câmara Municipal e foi um dos quatro vereadores citados no inquérito da Polícia Federal e afastados do cargo. Foi investigado um esquema de fraude em licitações e os parlamentares eram acusados de agir para blindar Reginaldo. Dorlei é um dos réus no processo que resultou da Operação, mas ainda não foi julgado.

Este ano, Dorlei será candidato a prefeito enfrentando Reginaldo Quinta e tendo como vice o ex-prefeito da cidade Aluízio Correa (PL), que governou Kennedy entre 2001 e 2008.

Também estão na disputa da prefeitura o ex-vereador Brunão do Povo (DC) e o empresário Rubens Moreira (PDT), que é presidente do Sicoob Sul.

Após ter sido alvo de sucessivas denúncias, crises e afastamentos de políticos, a cidade de Presidente Kennedy, com sua população de 11,6 mil pessoas, segue sobrecarregada por problemas sociais e falta de acesso aos serviços básicos prestados à população, apesar de possuir uma receita milionária com royalties de petróleo.

A arrecadação expressiva é um importante motivo para a prefeitura ser tão cobiçada. Em 2019, de acordo com a Revista Finanças dos Municípios, a cidade registrou a maior arrecadação em royalties no Espírito Santo, com R$ 295 milhões. Também teve a maior arrecadação per capita do Estado, de R$ 25,4 mil.

O QUE PODE AFETAR O PLEITO

A candidatura de Reginaldo ainda não é uma certeza. O impedimento para que ele dispute a eleição não é devido aos processos da Operação Lee Oswald, que causaram a cassação de seu mandato em 2012, e sim, de outro caso, o da Operação Moeda de Troca.

Geovana Quinta (Republicanos), o presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos), e Reginaldo Quinta (DEM)(Reprodução/Facebook)

Nela, Reginaldo foi condenado por improbidade administrativa por conta da assinatura de convênios para a realização de shows na cidade, em 2010, e que teria causado prejuízo de R$ 485 mil aos cofres públicos. A ação já transitou em julgado (quando não é mais possível apresentar recursos) em outubro de 2019, resultando na suspensão dos direitos políticos dele por 3 anos, ou seja, até 2022.

Na véspera do prazo para o registro de candidaturas, o demista conseguiu uma decisão favorável em uma ação rescisória que, em decisão liminar (provisória), suspendeu os efeitos de sua condenação, possibilitando sua candidatura.

Ele e Geovana também foram em busca de alianças com políticos com influência no cenário estadual, entre eles os deputados estaduais Theodorico Ferraço (DEM) e Erick Musso (Republicanos), que apoiaram a chegada deles a seus partidos, e Norma Ayub (DEM) e Hudson Leal (Republicanos), que estiveram na convenção dos Quinta. Os dois também têm registros em agendas do governador Renato Casagrande (PSB).

Para o Ministério Público Eleitoral, contudo, o registro dele deve ser negado. Primeiramente, porque a decisão da ação rescisória é liminar e, portanto, pode ser revista pelo TJES. Haveria ainda a ausência de condição de elegibilidade.

Aspas de citação

A suspensão dos direitos políticos, portanto, é mais gravosa que a inelegibilidade. Sem os direitos políticos não se tem capacidade eleitoral, nem mesmo a ativa, não podendo o brasileiro votar e ser votado, não tendo condição de elegibilidade, não podendo apresentar-se como candidato

Itamar de Ávila Ramos
Promotor de Justiça
Aspas de citação

Ele também apontou como motivo para barrá-lo uma condenação do ex-prefeito no âmbito do Tribunal de Contas do Estado, em prestação de contas julgada em 2018.

O juiz eleitoral ainda não decidiu sobre o registro de candidatura. Mas políticos da oposição já comentam sobre as consequências práticas da situação da chapa dos Quinta.

Uma possibilidade é que, se barrado, Reginaldo desista da vaga de prefeito e Geovana assuma. Assim como aconteceu com o lançamento de Amanda Quinta. Partidos políticos e coligações têm a possibilidade de substituir candidatos que tiverem seus registros indeferidos ou cassados, ou, ainda, que renunciarem até 20 dias antes das eleições, ou seja, até 27 de outubro.

Se for indeferido, mas ainda houver recurso pendente, Reginaldo também pode disputar o pleito, mas com o risco de depois ter o mandato cassado. Se assim ocorrer, a vice ficaria com a vaga.

"O que estão fazendo é desrespeito, usando o capital político e desafiando o Judiciário. Geovana não tem popularidade na cidade. Isso é para ele continuar exercendo influência na gestão. E se ele for cassado depois de eleito ela fica no lugar", afirmou um político, que preferiu ter o nome preservado.

Ele comenta que embora tenha havido um rompimento público com Amanda Quinta, internamente todos pertencem ao mesmo grupo político. "Inclusive quando ela foi presa Reginaldo saiu em sua defesa. Aqui, tudo gira em torno deste grupo e a população é obrigada a aceitar. Mesmo as pessoas que anseiam pela mudança têm que se calar. Todos que se atrevem contra eles são perseguidos, seja servidor efetivo, comissionado, qualquer um", disse.

O QUE DIZ A FAMÍLIA QUINTA

Procurada pela reportagem, Geovana Quinta relatou que sua relação com Reginaldo é muito próxima. "Ele é minha referência como pai. Ele não teve filhos e desde pequena temos muita afinidade, sempre o acompanhei na política. Morei com ele até me casar, meu primeiro emprego foi com ele, e fui sua secretária. Agora também construímos alianças políticas", disse.

Segundo Geovana, ainda não há discussões para que ela assuma a chapa, caso o tio seja barrado.

"Não pode um juiz de 1º grau querer derrubar decisão de desembargador, seria perseguição política. Ele é candidato", afirmou.

Geovana disse ainda que Amanda não tem tido participação nas discussões do pleito municipal. "Ela está na cidade, mas não participa da campanha. Reginaldo já teve uma divergência com ela, mas é passado. Deve nos apoiar com o voto", declarou.

A reportagem tentou contato com Reginaldo Quinta, mas não conseguiu retorno.

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