A ex-servidora do senador Flávio Bolsonaro (PSL), Andrea Siqueira Valle, deixou a quitinete onde morava na região da Praia do Morro, em Guarapari, na noite desta segunda-feira (03), segundo informou ao Gazeta Online o proprietário do imóvel, que preferiu não se identificar, nesta terça-feira (04).
De acordo com o jornal "O Globo", Andrea constou como funcionária do gabinete do então deputado estadual por mais de uma década, mas só em 2017 obteve um crachá para entrar na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A mudança dela para Guarapari ocorreu no fim de 2018, também conforme a publicação.
"Ela estava com aluguel adiantado. Venceria no dia 8, mas ela avisou ontem (segunda) que estava indo e saiu de noite. Ela alugou por alguns dias a quitinete, que já era mobiliada", reforçou o proprietário do imóvel, que não quis dar mais detalhes sobre o contrato e declarou não ter contato direto com Andrea. Segundo ele, a ex-assessora não tinha móveis na residência e saiu sem dever nada.
Ela está na lista dos servidores que teriam dificuldade para comprovar que, de fato, assessoraram Flávio. Para explicar a situação, a reportagem do Gazeta Online tentou conversar com Andrea na segunda-feira e foi novamente a Guarapari nesta terça.
Conforme relatos, a ex-assessora sempre caminhava na orla da Praia do Morro desde que chegou a Guarapari no ano passado. Quiosqueiros e pessoas que dizem já ter visto a mulher caminhando por lá declararam que não a viram mais nesta terça-feira. Vizinhos do local onde ela morava também disseram não ter contato com a ex-assessora.
Andrea, que é fisiculturista, frequenta uma academia próxima à casa onde morava, mas não esteve no local na manhã desta terça-feira.
"Ela não apareceu aqui hoje de manhã. Normalmente ela vem umas duas vezes (por dia). A última vez que ela veio foi ontem (segunda) pela manhã. No sistema não consta nem o nome completo dela, mas ainda está matriculada", contou uma funcionária da academia, que não quis ser identificada e reforçou não ter contato telefônico de Andrea.
A funcionária explicou que a academia é nova e disse que os novos empregados não sabem há quanto tempo Andrea frequenta o local, já que a ex-servidora comparecia ao estabelecimento antes de eles começarem a trabalhar lá.
RELEMBRE O CASO
Andrea é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
A reportagem do Gazeta Online também esteve na cidade do litoral do Espírito Santo na segunda-feira à procura de Andrea. Lá, vizinhos e conhecidos informam que ela, fisiculturista, costuma frequentar a academia Sports Center, ainda na Praia do Morro, mais de uma vez por dia, e também é presença constante na orla.
Renata Mendes, dona da Sports Center, ressaltou que pouco pode dizer sobre a vida pessoal da ex-funcionária de Flávio, atleta patrocinada pela academia, que ostenta uma faixa de "sob nova direção". "Assumi a academia há cerca de seis meses e ela já malhava aqui, ela é aluna. Também não sou daqui", afirmou Renata.
Perto dali, no mesmo bairro, Andrea morava em uma quitinete. Vizinhos contam que ela mantém uma rotina rígida de exercícios, mas, nesta segunda, o que chamou a atenção de todos foi a procura da imprensa pela fisiculturista. "Ela sumiu, não tá aí, não. Depois que veio até televisão aí ela saiu e não voltou mais", contou um vizinho. A quitinete é alugada por R$ 860 ou R$ 800, com desconto, mensais.
Na academia, o relato é que a ao menos um treino Andrea compareceu, na manhã desta segunda. A reportagem se postou por horas em frente ao endereço da ex-assessora de Flávio, mas ela não apareceu. A fisiculturista está entre as pessoas que tiveram os sigilos fiscal e bancários quebrados, como o próprio Flávio Bolsonaro, em uma investigação do Ministério Público Estadual do Rio.
SALÁRIOS
No Portal da Transparência da Alerj ela está. A página não é, assim, tão transparente, mas registra repasses feitos a Andrea até agosto do ano passado. De acordo com "O Globo" foi no final de 2018 que ela passou a morar em Guarapari.
Em agosto de 2018, os vencimentos de Andrea foram de R$ 3,2 mil brutos; no mês anterior, de R$ 8,5 mil. A folha de pagamento mais antiga disponível no Portal da Transparência é de 2016. Em janeiro daquele ano, ela recebeu R$ 7,3 mil brutos.
A página lista nomes de funcionários, cargos e salários, mas não apresenta informações sobre para qual deputado trabalham, ou trabalharam.
RACHID
A suspeita é que no gabinete do ex-deputado Flávio Bolsonaro, hoje senador, havia um esquema de "rachid" no Rio chamado de "rachadinha" , em que funcionários comissionados devolvem parte dos salários. O ex-assessor Fabrício Queiroz seria o operador do esquema. Queiroz também tem paradeiro desconhecido.
Na investigação, o Tribunal de Justiça do Rio determinou, a pedido do MP, a quebra dos sigilos de Flávio e de outras 94 pessoas físicas e jurídicas. Os promotores pediram dados relativos a dez anos, de abril de 2007 a dezembro de 2018. Flávio tenta, pela terceira vez, impedir que as apurações sigam em frente.
Com informações de Letícia Gonçalves
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