Inovação nas eleições 2022, as federações partidárias poderão ter papel relevante no cenário eleitoral do Espírito Santo, principalmente na formação das chapas para a disputa ao governo do Estado e nos nomes que concorrerão à Câmara dos Deputados. Até agora, três federações foram aprovadas: Rede e Psol, PSDB e Cidadania, além de PT, PCdoB e PV.
Aprovada em 2021 pelo Congresso Nacional, a federação partidária pode ser formada por dois ou mais partidos políticos com afinidade em seus programas e tem validade mínima de quatro anos. As legendas reunidas funcionam como um partido único, com abrangência nacional. A união pode servir de teste para a fusão ou incorporação entre elas.
O tempo de duração da aliança é a principal diferença da federação para as coligações, pois estas podem ser desfeitas assim que acabam as eleições.
Na eleição deste ano, as coligações estão autorizadas somente para a disputa majoritária (governador, senador e presidente), enquanto a federação vale também para a disputa proporcional (deputado federal, estadual e distrital). Os partidos têm até 31 de maio para definir se querem formar federações.
Entre as três federações partidárias já aprovadas, o maior impasse no Espírito Santo é entre Psol e Rede, que nunca estiveram próximos por aqui. A direção estadual do Psol se manifestou nas redes sociais contrária à união, mas venceu a posição da direção nacional.
Com a federação aprovada, os dois partidos deveriam andar juntos na disputa estadual, ao menos na teoria. Entretanto, a Rede lançou o ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos na disputa para governador no último dia 30 sem a presença do Psol, que quer o professor Gilbertinho Campos concorrendo ao Senado.
As duas legendas não possuem mandatários na Assembleia Legislativa ou na Câmara dos Deputados, mas ter uma base de candidatos a deputado forte é muito importante para viabilizar uma candidatura ao governo ou ao Senado. Os dirigentes de Rede e Psol no Espírito Santo se reuniram no final de abril, pela primeira vez, para tentar aparar as arestas, amenizar as divergências e encontrar convergências para a parceria no Estado.
“Temos divergências, mas vamos ver o que converge. Vamos nos pautar nisso. O diálogo é importante”, ressalta Audifax, porta-voz estadual da Rede. Nas conversas para a disputa ao governo, ele pende mais para o centro-direita, dialogando com PSD e Republicanos, por exemplo.
Por outro lado, o Psol é declaradamente de esquerda e não abre mão de algumas bandeiras por questões eleitorais. "A Rede tem uma linha de prioridades de aliança diferente do Psol. Vamos reivindicar a vaga ao Senado e tentar avançar nas conversas das chapas proporcionais mais adiante", esclarece o presidente estadual do Psol, Toni Cabano.
Em nível nacional, tanto a Rede como o Psol declararam apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a disputa presidencial. Algumas lideranças locais avaliam que isso poderá influenciar na definição do cenário para governador mais adiante. Mas o assunto não está pacificado por aqui.
A federação formada por PT, PV e PCdoB tem como prioridade máxima a eleição do ex-presidente Lula ao Palácio do Planalto. Com isso, garantir um palanque presidencial forte no Espírito Santo pode passar tanto pela manutenção da pré-candidatura a governador do senador Fabiano Contarato (PT) quanto por uma aliança com o pré-candidato da Rede.
Se o PT optar por uma aliança estadual, a opção de apoiar a reeleição do governador Renato Casagrande (PSB) é vista como uma parceria mais provável, devido à aliança nacional entre petistas e socialistas. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) foi indicado para vice de Lula. Mas, quem estiver mais bem posicionado nas pesquisas pode ganhar pontos nessa corrida.
Os três partidos - PT, PV e PCdoB - já andaram lado a lado em várias disputas, querem eleger o máximo de parlamentares possível e devem se reunir nas próximas semanas para avaliar melhor o cenário. O PT ainda tem dois nomes para a disputa ao Senado - Célia Tavares, que foi candidata a prefeita em Cariacica em 2020 e chegou ao segundo turno, e o ex-reitor da Ufes Reinaldo Centoducatte.
“A formação da federação é muito positiva. Permite fazer mais projetos de médio prazo. É um ingrediente novo para a eleição”, avalia o vice-presidente estadual do PT, João Coser.
Assim como a federação liderada pelo PT, a união entre PSDB e Cidadania reúne lideranças que quase sempre estiveram juntas no Espírito Santo. Os dois partidos têm, juntos, a maior bancada na Assembleia Legislativa, com cinco deputados estaduais, ao lado do PSB.
Além de eleger o máximo de deputados, o PSDB também quer espaço na disputa majoritária, indicando o vice ou um nome ao Senado. A primeira opção se mostra mais possível no cenário atual, até pela proximidade do ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB) com Casagrande. No Cidadania, o interesse é trazer o ex-prefeito de Vitória Luciano Rezende de volta aos holofotes.
Da mesma forma que a conjuntura local, a orientação da direção nacional também pode influenciar o rumo do PSDB no Estado, segundo o vice-presidente estadual tucano, Oziel Andrade.
Em nível nacional, Cidadania e PSDB buscam uma terceira via para a disputa presidencial. Os dois partidos já se mostraram anteriormente mais próximos de apoiar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) do que a possível candidatura de Lula, que tem Alckmin indicado para vice.
O principal objetivo da federação partidária é fortalecer os partidos agrupados, visto que alguns deles sozinhos poderiam não vencer a barreira de votos imposta pela legislação eleitoral para obter acesso a alguns benefícios. Do ponto de vista do sistema eleitoral, seria também um incentivo para a fusão de legendas e a consequente redução do total de siglas partidárias.
É por esse motivo que a formação de chapas para a disputa à Câmara dos Deputados tem tanta importância, pois a Justiça Eleitoral condiciona ao total de votos obtidos e à quantidade de deputados federais eleitos a distribuição do tempo de propaganda na TV e recursos do fundo partidário.
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