Dos quatro prefeitos das maiores cidades da Grande Vitória, somente Juninho (Cidadania), de Cariacica, não se manifestou sobre as eleições de novembro. Longe dos holofotes desde o início da pré-campana, o prefeito, que está no segundo mandato consecutivo e, logo, não pode tentar reeleição, não declarou apoio a nenhum candidato e se manteve nos bastidores das articulações políticas. Para a surpresa de aliados, o partido de Juninho decidiu integrar o bloco que apoia o deputado estadual Euclério Sampaio (DEM) na disputa pelo Executivo estadual, mas o prefeito garante que isso não significa que o demista tem seu apoio pessoal.
Juninho nunca foi muito próximo ao governador Renato Casagrande (PSB), que tem em Euclério um de seus principais aliados na Assembleia Legislativa. Euclério é considerado por muitos como o candidato do Palácio Anchieta em Cariacica, apesar de o PSB de Casagrande ter candidatura própria, com Saulo Andreon.
Na cidade, no entanto, o apoio do prefeito e, consequentemente, do Cidadania, era esperado por legendas que compõem a base de Juninho, como PSL e MDB. As negociações entre a sigla e o DEM, garante o prefeito, vieram do diretório estadual da sigla, tendo apenas seu "respeito."
Na Capital, já faz um tempo que Luciano Rezende (Cidadania) trabalha para fazer do deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania) seu sucessor. Na Serra, embora o apoio tenha sido definido apenas durante a pré-campanha, Audifax Barcelos (Rede) esteve presente em convenções partidárias para buscar alianças e está ao lado de Fábio Duarte, candidato da Rede, nos materiais gráficos da campanha. Em Vila Velha, Max Filho (PSDB) confirmou em convenção o que já era esperado: vai tentar a reeleição. Enquanto isso, Juninho continua "sumido" no tabuleiro eleitoral.
O prefeito esteve presente apenas na convenção partidária do Cidadania, onde fez um pronunciamento para motivar os candidatos a vereador do partido. Durante o encontro, a aliança com Euclério foi apenas anunciada, a decisão já havia sido tomada em reuniões anteriores, entre o diretório estadual da sigla e os representantes municipais da legenda na Grande Vitória. Em um comunicado de deliberação, datado do dia 12 de setembro, três dias antes da convenção da sigla em Cariacica, Gandini assina o posicionamento do partido.
"Eu tenho por orientação partidária, sempre que estamos com candidaturas competitivas, respeitar quem tem melhores condições. Ainda mais se tratando de região metropolitana, como é o caso de Vitória. Nesse caso específico, fui consultado sobre fortalecer a candidatura de Gandini, se eu teria algum empecilho do Cidadania ficar com Euclério. Como não temos candidatura esse ano eu respeitei. Não seria eu apoiando e sim o partido. Foi uma decisão que houve respeito de ambas as partes", declara Juninho.
O movimento, no entanto, não teve reciprocidade. Em Vitória, o presidente municipal do DEM e vereador de Vitória, Cleber Felix, desistiu da pré-candidatura à prefeitura e fechou parceria com Lorenzo Pazolini (Republicanos), um dos principais adversários de Gandini na disputa.
Na Câmara de Vitória, que é marcada por um racha entre vereadores alinhados ao prefeito e a oposição, o principal desafeto de Clebinho é Vinicius Simões, do Cidadania. "Esse casamento não ia sair nunca, o DEM estava namorando Pazolini desde o início", disse à reportagem uma fonte do DEM em Cariacica.
Questionado sobre essa falta de retorno, Juninho disse que não está a par dos detalhes da política das outras cidades, mas que atendeu a um pedido expresso de Gandini. "Ele me ligou e deixou claro que era importante esse apoio ao Euclério. Eu respeitei assim como espero que exista o respeito por parte do diretório estadual quando o partido tiver uma candidatura competitiva em Cariacica", afirma.
O discurso não convenceu a todos os aliados. Joel da Costa (PSL), candidato que contava com o apoio do prefeito e do Cidadania, admite que se sentiu "traído" com a movimentação. "A Executiva estadual não interfere na municipal em Cariacica. O Juninho sempre teve um acesso direto à Executiva. O argumento foi esse [apoio ao Gandini], mas eu fui em Vitória sondar e vi que não tem nada disso. Não posso precisar, mas o que eu imagino é simples: todo mundo sabe que o Euclério é o candidato do governador, então para mim ficou claro que foi uma ordem vinda de cima pra baixo, do governo", pontua.
Para o candidato do PSL, as motivações para Juninho atender a um pedido do governo do Estado, com quem nunca teve afinidade, podem ter como pano de fundo um interesse eleitoral visando 2022. "Ele tem o projeto de ser candidato em 2022, cada um tem seu projeto político, até lá o governador ainda vai estar no cargo, ir contra ele poderia não ser uma boa estratégia", opina. Juninho nega que seu posicionamento tenha relação com o pleito de 2022.
Já o MDB, que tem como candidato o pastor Ivan Bastos, também estava na lista dos que brigariam pelo apoio de Juninho. Para eles, a decisão de apoiar Euclério foi uma surpresa. Diferente de Joel, o MDB não chegou a conversar com o prefeito sobre o apoio, por isso prefere acreditar que ele não teve envolvimento. "O partido ter apoiado dá o entendimento de que ele também apoia, mas não posso dizer que a pessoa dele teve essa influência. Possivelmente deu autonomia para o presidente do partido decidir. São situações que podem ter acontecido, não estou afirmando", afirma Benízio Lázaro, presidente municipal da sigla.
Estar fora dos holofotes, no entanto, não significa que Juninho se absteve de negociações. Até o momento o prefeito insiste no discurso de que só vai declarar apoio a algum candidato se houver uma "grande ameaça", mas, em entrevista, admitiu que se seu companheiro de gestão, o vice-prefeito Nilton Basílio (PDT), tivesse a candidatura confirmada, tanto ele quanto o partido o apoiariam. "Desde que eu não corresse risco de perder meu foco administrativo, quase 100% de certeza que apoiaria Niltinho. O Cidadania, se dependesse do meu aval, ficaria com ele e eu me dedicaria mais à candidatura dele", disse.
Sem o vice na disputa e sem apoiar a escolha do partido, no entanto, Juninho permanece na indefinição e sem dar muitas respostas sobre apoio. Confirmou, no entanto, que já vislumbra as ameaças das quais vem falando. "Já vejo algumas ameaças, estou esperando o dia 26 para ver se são candidaturas que vão se confirmar", pontua.
Desta vez, embora não tenha especificado nomes, o prefeito descreveu melhor o que poderia configurar uma ameaça. "Quem quer estar na cidade atacando os outros, com sectarismo ou que já teve oportunidade de estar com projeto municipal na prefeitura ou na Câmara e agora está querendo vender uma imagem que vai ser a solução dos problemas. Ou quem está querendo partir para a federalização da campanha, se apela para o federal é porque não tem projeto para a cidade", assinala.
Muitos dos nomes colocados na disputa, até agora, podem se encaixar na descrição, já que são vereadores ou já atuaram como secretários em gestões anteriores. Juninho insiste em não apontar, nominalmente, "ainda", quem considera ameaça, mas quis livrar dois: "Quero deixar claro que isso não se aplica ao Joel [do PSL] e ao Sandro Locutor [do PROS]."
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