Pouco mais de dez anos após a primeira eleição que disputou, em 2008, e perdeu, o jovem Erick Musso já passou por quatro partidos, presidiu a Câmara de Aracruz, está no segundo mandato de deputado estadual e com o passaporte carimbado para o terceiro biênio no comando da Assembleia Legislativa do Espírito Santo. É um feito notável para o político de 32 anos, que tem planos para ir além na próxima década.
Os caminhos percorridos em tal trajetória, no entanto, são, se não tortuosos, controversos. Até o resultado da caminhada, aliás, é contestado, dada a falta de alternância de poder a que a Assembleia, voluntariamente, submete-se.
Para aliados, é tudo fruto do perfil conciliador do jovem deputado e do feeling político herdado do avô, Heraldo Musso, que foi prefeito de Aracruz e também deputado estadual. Para quem não vê Erick Musso com tão bons olhos, o fator preponderante não é o próprio Erick e sim os aliados mais experientes que o cercam.
Em 2008, então com 22 anos e filiado ao PSDB, Erick Musso tentou eleger-se vereador da cidade. Não deu. Em 2012, chegou lá, pelo PP. Foi eleito presidente do Legislativo municipal, tornando-se, aos 27 anos, o mais jovem a ocupar a cadeira. Em 2014, pelo mesmo partido, chegou à Assembleia. Em 2016, já filiado ao PMDB (hoje MDB), disputou a Prefeitura de Aracruz. Perdeu. Seguiu no mandato de deputado estadual até 2018, quando foi reeleito, pelo PRB (hoje Republicanos).
A história, no entanto, é bem mais longa do que os registros eleitorais. Na Assembleia, Erick, deputado de primeiro mandato e o mais jovem entre os colegas, virou vice-líder do governo Paulo Hartung (hoje sem partido, mas na época filiado ao PMDB). O endosso de Hartung, ainda que não possa levar todo o crédito, foi uma força e tanto para o iniciante.
Quando o deputado aventurou-se na disputa pela prefeitura, em 2016, o então governador gravou um vídeo com apoio a ele, ainda em setembro. Foi o primeiro afago público do emedebista a um aliado naquela campanha. Faltando três dias para a eleição Hartung ainda subiu no palanque ao lado de Erick, único agraciado com o gesto naquele pleito. Mas não adiantou.
Quem venceu a disputa que, aliás, contou com um debate acalorado, foi Jones Cavaglieri (SD). Hoje, o prefeito já não trata o deputado como adversário e até aventa uma possível aliança para 2020 e quiçá, para 2022. "Eu propus que se o grupo dele não apresentar candidato (a prefeito, em 2020) a gente pode até fazer uma conversa, um apoio branco, que não seja uma oposição", contou Cavaglieri.
"Ele (Erick) tem um carisma, uma forma de agregar o apoio dos deputados, que deram a ele o apoio para um terceiro mandato de presidente (da Assembleia). Acho que está bem articulado", avaliou.
Já Marcelo Coelho (PP), que foi prefeito de Aracruz enquanto Erick presidia a Câmara e é aliado de longa data do deputado - Erick já foi assessor do ex-prefeito na Assembleia -, crê que essa veia agregadora de Erick é praticamente um dom de família. "Desde cedo ele viu o trato do avô com a coisa pública, de lidar com as pessoas, conviveu. Foi um jovem que se dedicou a cuidar do avô, que estava debilitado fisicamente, abriu mão da juventude para cuidar do avô e isso mexeu com ele", avaliou.
Amaro Neto (Republicanos), que integra o núcleo duro de apoio ao correligionário Erick Musso, o define como "um cara de bom coração, trabalhador, divide bem espaços, dá governabilidade ao Executivo, dialoga bem com outros Poderes, dá atenção a prefeitos e vereadores".
As palavras são, por óbvio, menos abonadoras quanto mais longe se vai desse núcleo. Um deputado que prefere não se identificar para não jogar mais lenha na fogueira, joga mesmo assim, só que sob anonimato: "A origem dele é com Paulo Hartung, que o criou, ensinou a ele os caminhos que levam a Roma", afirmou, ao lembrar que Hartung é adversário político do atual governador Renato Casagrande (PSB).
O socialista, no entanto, vinha mantendo um bom relacionamento institucional com o presidente da Assembleia, teve vários projetos aprovados, inclusive a Proposta de Emenda à Constituição da Previdência estadual, votada a jato. Mas junto com essa PEC estava também a da eleição antecipada da Mesa Diretora da Assembleia, que culminou com a reeleição de Erick 14 meses antes do início da próxima legislatura, manobra à qual o governador se opôs, mas de nada valeu.
A ousadia de Erick ao convocar a eleição na última quarta-feira (27), de surpresa, e conseguir garantir os votos da maioria dos colegas, pegando até Casagrande de surpresa com tamanha agilidade, para um parlamentar que acompanha as movimentações da Casa não são obra da astúcia política de Erick.
E tampouco de conhecimento adquirido em livros de autores recentemente citados por ele, como Montesquieu, Platão, Aristóteles e Maquiavel, mas de figuras do tempo presente: os deputados Marcelo Santos (PDT) e Enivaldo dos Anjos (PSD) - este líder do governo Casagrande - e Roberto Carneiro (Republicanos), diretor-geral da Assembleia. "
"O Erick distribui bem (entre os deputados) os cargos ligados à Mesa Diretora, contempla quase todos os deputados", pontua um aliado, citando vagas preenchidas por servidores comissionados por indicação dos parlamentares. Uma prática pouco republicana, mas certamente mais velha que o próprio Erick Musso.
A reportagem tentou contato com Marcelo, Enivaldo e Carneiro, mas não obteve retorno. Hartung, que agora mora em São Paulo, também foi procurado, por meio de sua assessoria, mas também não deu retorno. Já o próprio Erick segue "mergulhado" desde a eleição antecipada da Mesa Diretora.
Mas o que fez Erick Musso como presidente da Assembleia? O deputado destaca frequentemente a prestação de serviços que não são, em si, funções intrínsecas ao Legislativo, como uma agência do Procon e atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica. Mas outros episódios também marcam a gestão do deputado, como a criação de mais um assessor para cada gabinete dos 30 deputados e os superpoderes que concedeu, com o aval dos colegas, a si mesmo.
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