Dos 77 anos de vida de Gerson Camata, 44 foram dedicados à atividade política. Camata ocupou praticamente todos os cargos públicos no Espírito Santo: foi vereador, deputado estadual, deputado federal, governador e senador, só não foi prefeito.
E apesar de que o envolvimento com a política tenha sido de certa forma herdado de família já que seu pai, Higino Camata, foi vereador de Colatina pelo PSD, na década de 50 sua primeira eleição como vereador de Vitória, em 1966, não era algo considerado propriamente como sua ambição. Camata foi convidado a entrar para a política justamente por sua popularidade como radialista.
Ele comandou o programa Ronda da Cidade, na rádio Vitória, programa que mesclava o informativo policial com notícias de utilidade pública. Os corredores da emissora viviam lotados com pedidos de ajuda. Ele também conduziu o programa Ronda Policial, da Rádio Espírito Santo, líder de audiência na época.
Ainda como repórter de rádio, Camata teve seu primeiro contato com o poder quando entrevistou, por 20 minutos, o presidente Costa e Silva.
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Naquele 1966, época em que as siglas se reorganizavam por conta do bipartidarismo estabelecido pelo AI-2, o então jornalista foi convidado pelo médico Deomar Bittencourt para se filiar à Aliança Renovadora Nacional (Arena). Camata relutou, mas para não decepcionar o amigo, assinou o livro.
Mesmo sem ter comparecido à convenção partidária, foi escolhido para ser candidato a vereador da Capital. Iniciando a campanha tardiamente, foi o segundo mais votado, com 912 votos. Na Câmara Municipal, durante os anos mais duros da ditadura militar, dizia ter vontade de desistir do cargo alegando que o Executivo não ouvia o Legislativo, e que via mais utilidade no sue programa de rádio, do que no cargo.
Em 1969, formou-se em Ciências Econômicas pela Ufes, e em 1971 assumiu o cargo de deputado estadual, até 1974.
Visado pelos companheiros de cúpula do partido, na eleição seguinte foi lançado a deputado federal, cargo que ocupou por dois mandatos, de 1975 a 1982. Como parlamentar, suas bandeiras eram a defesa do consumidor, contra as multinacionais e a favor dos plantadores de café.
Seu segundo mandato foi marcado pela insatisfação dentro do partido governista. Com a extinção do bipartidarismo em novembro de 1979 e a consequente reorganização partidária, em que a Arena transformou-se no PDS, Camata foi pressionado pelo Planalto e por políticos capixabas ao indicar a intenção de mudar de partido.
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Ele chegou a se esconder em Marilândia, mas foi descoberto por emissários do governo federal, que ameaçaram demitir todas as pessoas empregadas por ele nos órgãos públicos. Mesmo assim, filiou-se ao PMDB, partido de oposição ao governo. Em 1981, casou-se com Rita Camata, que posteriormente também ingressaria na política.
Nesta quarta-feira (26), após o crime, a viúva de Camata não fez qualquer tipo de manifestação.
EXECUTIVO
Crítico do governo Eurico Rezende, denunciando atrasos no pagamento do funcionalismo público, Gerson Camata venceu a convenção do PMDB, em 1982, derrotando Max Mauro por cinco votos de diferença.
Nesta primeira eleição direta para o governo do Estado do processo de redemocratização, um incidente durante a campanha fez com que o político fosse enquadrado na Lei de Segurança Nacional pelo crime de ofensa à moral e honra do presidente da República por ter chamado o presidente Figueiredo de general mentiroso, em um discurso em Afonso Cláudio.
O fato, na verdade, contribuiu para fortalecer o nome de Camata junto às massas, por ser considerado não apenas um homem de oposição devido a força de seus pronunciamentos, como também vítima do arbítrio e da pressão dos órgãos federais.
Ele venceu a disputa contra Carlito Von Schilgen, do PDS, por 67%, cerca de 500 mil votos.
Chegando ao governo aos 41 anos, Camata assumiu a herança de um Estado falido econômica e socialmente, com dinheiro que mal dava para a folha de pagamento. No entanto, por ser um governo oposicionista, despertou esperança e entusiasmo popular.
Entre suas promessas de início de governo, anunciou cortes de gastos, como em água, luz, telefone, além da retirada de carros oficiais dos secretários e o cancelamento do cargo de subsecretários. Camata também passou a ir trabalhar em seu próprio veículo.
Na economia, seu governo desfrutou dos benefícios da industrialização. Foi nele que a CST começou as operações, e junto com grandes empresas, como a Vale do Rio Doce e a Aracruz Celulose, e os setores da indústria e serviços passaram a responder por aproximadamente 85% da renda interna do Estado.
Durante os 4 anos de sua gestão, que foi até 1986, o Estado passou registrou desenvolvimento econômico rápido, baseado na concentração de grandes indústrias voltadas à exportação.
Apesar do mal-estar junto ao presidente por conta do episódio da campanha, Camata concentrou esforços junto ao governo federal para desbloquear recursos externos e reaver as obras, já que os fundos federais estavam bloqueados. Uma delas foi a obra da Terceira Ponte, que teve boa parte de sua execução neste período, até ser inaugurada em 1989.
No meu tempo, encostei no Tancredo (Neves) para ter acesso ao presidente Figueiredo, pois ele era um de seus homens fortes. E assim conseguimos ajuda para a Terceira Ponte, BR 101, BR 262. Com esses investimentos públicos e as indústrias, houve geração de 30 mil empregos, lembrou Camata, recentemente à reportagem.
Camata também se destacou como defensor da produção rural. Mandou pavimentar as estradas abertas no final dos anos 60 pelo governador Christiano Dias Lopes Filho, no projeto chamado Espinha de Peixe, considerando que a espinha principal era a BR 101 e as demais espinhas, as estradas vicinais.
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Em 1986, estimulado pelo então presidente José Sarney (MDB), desincompatibilizou-se para concorrer ao Senado, sendo substituído pelo vice-governador José de Morais.
Após realizar um governo considerado desenvolvimentista de grande aprovação popular, conseguiu se eleger para atuar na Assembleia Nacional Constituinte.
Na mesma ocasião, sua esposa, Rita Camata, que concorreu a deputada federal constituinte e se elegera como a mais votada no Estado, também assumiu seu mandato.
PROJETO DE LEI DEU ORIGEM AO ESTATUTO DO DESARMAMENTO
Na Constituinte, atuou na Comissão do Sistema Tributário, Orçamento e Finanças. No processo de impeachment contra o presidente Fernando Collor, votou a favor. Gerson Camata totalizou 24 anos de atividade no Senado, após ter sido reeleito em 1994 e em 2002.
No vácuo de lideranças que o Espírito Santo viveu nos anos 90, seu nome era sempre lembrado como candidato ao governo. Mas ele não disputou mais o Palácio Anchieta.
Em 1998, inclusive, mesmo sendo favorito nas pesquisas eleitorais, renunciou à pré-candidatura e anunciou seu apoio a José Ignácio Ferreira (PSDB), candidato da coligação.
Foi autor do Projeto de Lei do Senado número 292/1999, que deu origem ao Estatuto do Desarmamento atual Lei 10.826/2003.
No último mandato, em maio 2006, assumiu a Secretaria de Desenvolvimento, Infraestrutura e Transportes do Espírito Santo a convite do governador Paulo Hartung e ficou no cargo até novembro daquele ano.
DESPEDIDA
Com o fim de seu último mandato, em 2010, Camata não disputou outra eleição. Em seu discurso de despedida, em 16 de dezembro daquele ano, disse que deixava a vida pública com a consciência tranquila e ressaltou jamais ter perdido a fé na grandeza do Espírito Santo.
Se há algo de que me orgulho é de nunca ter encontrado dificuldades para conciliar ética e política. (...) Mesmo fora da vida pública, nunca abandonarei esta crença, a de que tudo é possível quando existe empenho, vontade de progredir e de mudar, para proporcionar uma vida melhor a todos. Estarei sempre à disposição para trabalhar, voluntariamente, pelo desenvolvimento do Espírito Santo, declarou.
TRAJETÓRIA
Vereador, deputado estadual, deputado federal, governador e senador. Gerson Camata ocupou diversos cargos eletivos no Espírito Santo. Apenas não foi prefeito.
1941 - ORIGEM
Gerson Camata nasceu em Castelo, no Sul do Espírito Santo, no dia 29 de junho de 1941. Fez carreira como jornalista e radialista. Ganhou destaque como apresentador dos programas de rádio Ronda da Cidade e Ronda Policial.
1966 - VEREADOR
A popularidade que alcançou na rádio o levou a ser eleito para a Câmara Municipal de Vitória, em 1966, na legenda da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação ao regime militar.
1970 - Deputado estadual
Em 1969 tornou-se bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Espírito Santo, e em novembro de 1970 elegeu-se deputado estadual, para a legislatura 1971-1975.
1974 - Deputado federal
Eleito deputado federal em novembro de 1974, sempre na Arena, assumiu o mandato na Câmara dos Deputados em fevereiro do ano seguinte. Foi membro da Comissão de Comunicações e relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Consumidor (1976). Foi reeleito para a Câmara Federal em 1978.
1979 - Oposição ao governo federal
Com a extinção do bipartidarismo, em novembro de 1979, e a consequente reorganização partidária, filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), de oposição ao governo federal.
1982 - Governo do estado
Casado desde 1981 com Rita Camata, em 1982 lançou sua candidatura ao governo do Espírito Santo, disputando com Carlito Von Schilgen, do Partido Democrático Social (PDS), de apoio ao governo. Considerado um fenômeno eleitoral, obteve 67% dos votos válidos.
1986 - Senado
Em 1986, estimulado pelo presidente José Sarney, concorreu ao Senado, sendo substituído no Executivo estadual pelo vice-governador José de Morais. Camata foi eleito senador e foi reconduzido outras duas vezes ao cargo. Passou, assim, 24 anos no Senado. Por um breve período, de maio a novembro de 2006, licenciou-se para ser secretário de Desenvolvimento do governo Paulo Hartung.
2010 - Aposentadoria
Gerson Camata despediu-se da vida pública em 2010. E não mais disputou cargos eletivos. Ele chegou a trabalhar no gabinete do senador Ricardo Ferraço (hoje no PSDB). Deixa um casal de filhos, fruto do casamento com Rita Camata.
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