O vereador da Serra Geraldinho Feu Rosa (sem partido), afastado temporariamente, foi gravado afirmando ter recebido dinheiro para fazer campanha eleitoral para o conselheiro aposentado do Tribunal de Contas do Estado (TCES) Marcos Madureira (PRP), candidato a deputado estadual na eleição de 2018. A suspeita é de corrupção eleitoral e está sob análise da Polícia Federal.
A quantia de R$ 5 mil, que não aparece na prestação de contas de Madureira à Justiça Eleitoral, teria sido distribuída pelo vereador a eleitores, configurando compra de votos. As informações estão na ação civil ajuizada pelo Ministério Público Estadual (MPES), e que tornou Geraldinho o terceiro vereador da Serra a ser afastado por suspeitas de crimes.
Na gravação, cuja transcrição foi anexada à ação elaborada pela promotora Maria Clara Mendonça Perim, da 13ª Promotoria Cível da Serra, o vereador diz, ainda, que ele não foi o único beneficiado com dinheiro não declarado. O parlamentar sugeriu que outros vereadores também receberam recursos ilegalmente.
"Fazer como Madureira fez aqui com nós. Tirou uma mixaria, igual deu uma mixaria para cada um. No caso me deu R$ 5 mil e eu distribuí. E falou: 'se eu ganhar você tem tantos mil'. Fechei na hora", disse, em reunião com seus funcionários, em 2018, discretamente gravada por um ex-servidor.
O áudio foi obtido pelo MPES e incluído na ação que acusa o parlamentar de improbidade administrativa. Para o órgão ministerial, Geraldinho abusou do poder político ao exigir 10% dos salários dos servidores de gabinete.
A arrecadação, admitida pelo vereador em depoimento, seria usada para promoção de ações sociais em comunidades, pagamento de obrigações partidárias de mandatários e, além disso, para abastecer uma espécie de caixa com vistas à eleição de 2020.
"O cenário, a partir dos elementos probatórios coligidos pelo MPES, comprova uma prática ilegal, pessoalizada, desleal à instituição do Poder Legislativo e imoral", frisou a promotora, na ação.
"CONCORDEI NA HORA COM ELE"
Em outro trecho da conversa, Geraldinho diz que foi procurado por um notório aliado de Madureira, Wanokzor Alves Amm de Assis, ex-chefe de gabinete do conselheiro de Contas aposentado. Wanokzor atua como procurador da Câmara de Itapemirim, mas costuma ser visto na Serra.
"O Wanokzor chegou pra mim e falou: 'Geraldo, senta aqui comigo. Se o homem ganhar, você tem tanto. Eu vou te dar condição de você pôr gasolina no seu carro, você fazer o negócio aí. Se você quiser' (...) 'Eu peguei na mão dele e concordei na hora com ele", disse o vereador, conforme consta na ação civil.
A tese da influência de Madureira no acirramento político da Serra é algo recorrente nos bastidores. Como o Gazeta Online já publicou, atribui-se a Marcos Madureira parcela do mérito da conquista da presidência da Câmara por Rodrigo Caldeira (Rede), grande opositor do prefeito Audifax Barcelos (Rede).
Também não é novidade que a campanha de Madureira, não eleito, foi apoiada por parte dos vereadores que hoje compõem grupo oposicionista do Legislativo da Serra. Agora, porém, com a gravação levada ao MPES, surge um indício sobre possível atuação ostensiva do conselheiro aposentado junto aos membros da Casa.
Em recente entrevista, Rodrido Caldeira já negou a interferência de Madureira, mas saiu em defesa do conselheiro aposentado.
"O Madureira eu apoiei e outros vereadores também apoiaram. Em todas as candidaturas os vereadores apoiam alguém. Eu conversei com ele, gostei dos projetos e apoiei. Só que nem vi ele na campanha. Só vi no dia que fui visitar o Moreira, há dois dias. É um homem íntegro, respeitado e onde passou deixou a marca dele. Não teve sujeira, não teve processo. É homem íntegro", declarou.
O HISTÓRICO DE MADUREIRA
Ao lado de José Carlos Gratz e Valci Ferreira nos anos 1990, Marcos Madureira compôs um grupo que concentrou um enorme poder político no Estado.
Com apoio de Gratz, Madureira tornou-se conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. O período em que ele presidiu a Corte de Contas foi marcado por denúncias.
Em 2012, ele foi afastado do cargo por decisão da Justiça. Sob o risco de perder a função, pediu a aposentadoria no ano seguinte.
De volta à política, concorreu na eleição de 2018 e obteve 13.222 votos. Lideranças da Serra consideram a votação expressiva, e que ela pode ser considerada um "ensaio de organização política".
POLÍCIA FEDERAL
Ao colocar abertamente o interesse nas parcelas dos salários, o vereador pediu aos funcionários para que o pleito fosse mantido em sigilo. Para o MPES, a preocupação significa que ele claramente sabia que estava cometendo ilicitudes.
Em duas oportunidades, disse que não poderia depositar os valores em sua conta bancária, caso contrário "a Polícia Federal vai vir em cima de mim, meu irmão".
Curiosamente, parte do caso está com a PF. É que fontes confirmaram que a polícia recebeu uma representação do MPES com pedido de apuração da suposta corrupção eleitoral praticada por Marcos Madureira e Geraldinho.
Na ação civil de improbidade, direcionada apenas aos atos administrativos do vereador da Serra, não há, por uma questão legal, qualquer pedido de providência contra Madureira.
Procurado para dizer se providências foram tomadas com relação ao conselheiro aposentado, o MPES não confirmou se alguma representação foi enviada à PF.
Disse apenas, "por meio da Promotoria de Justiça da Serra", que "as investigações referentes ao caso continuam".
Em nota, a Polícia Federal informou que não poderia comentar o caso específico, mas explicou que, "por padrão, tão logo recebida a requisição do Ministério Público, os dados são encaminhados para instauração de inquérito policial pela delegacia de competência".
OUTRO LADO
Marcos Madureira foi procurado para comentar as citações, mas não foi localizado. Um dos principais interlocutores dele disse que o conselheiro aposentado está em viagem a São Paulo e indisponível. Wanokzor também não foi localizado.
A defesa de Geraldinho Feu Rosa nega que a arrecadação de salários tivesse tido motivação eleitoral.
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