> >
Grupo faz marcha com o mesmo nome de atos que comemoraram o golpe de 64 no ES

Grupo faz marcha com o mesmo nome de atos que comemoraram o golpe de 64 no ES

Marcha convocada para este domingo (21), em Vila Velha, contou com cerca de 100 pessoas e levou o nome de atos realizados antes e depois do golpe militar

Publicado em 21 de junho de 2020 às 19:13

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Grupo marca manifestação na Prainha que leva nome de marcha
Grupo marca manifestação na Prainha que leva nome de marcha "da vitória" após golpe militar. (Manoel Goés)

Durante essa semana circulou em aplicativos de mensagens e redes sociais um convite para uma marcha que seria realizada neste domingo (21), na Prainha, em Vila Velha. A imagem divulgava a "Marcha da família com Deus pela liberdade", com frases religiosas e fotos de manifestações e bandeiras do Brasil. Em 1964, marchas realizadas em diferentes Estados levavam o mesmo nome e ocorreram em diferentes datas: Em São Paulo, semanas antes do golpe que instaurou uma ditadura militar no país, e em Vitória, no Espírito Santo, algumas semanas depois, em forma de comemoração pela tomada de poder dos militares.

Em plena pandemia do novo coronavírus, no dia em que o Espírito Santo alcançou a marca de 1.328 mortos, o ato foi convocado para as 14 horas, mas diferente das marchas realizada em 1964, a Prainha viu entre 60 a 100 pessoas se reunirem ao som do Hino Nacional entoado em um carro de som. A apropriação do nome, no entanto, pode significar uma "intenção de fazer apologia ao regime militar", explica o historiador e professor da Ufes, Pedro Ernesto.

O contexto do governo de João Goulart, que precedeu a ditadura militar, era de um país polarizado, de acordo com o professor. Jango, como era conhecido, assumiu a presidência após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e alguns setores da sociedade como empresários, parte da igreja católica, parte da imprensa e das Forças Armadas começaram a tomar uma série de ações para desestabilizar o governo, sob o argumento de que Jango "era comunista e queria transformar o Brasil em uma nova Cuba", aponta Ernesto.

Em 1964, relata o historiador, Jango anunciou reformas de base na educação, no sistema bancário e a reforma agrária e, como resposta, as "marchas da família com Deus pela liberdade" começaram a ser organizadas e reuniram milhares de pessoas. A primeira, no dia 19 de março daquele ano, aconteceu em São Paulo, na praça da Sé. Cerca de um mês depois, após o golpe militar que aconteceu no dia 1º de abril, o ato foi realizado em Vitória, em frente ao Palácio Anchieta, com apoio dos setores de comércio e indústria que liberaram seus funcionários para participar. "Aqui, como o golpe já tinha acontecido, a marcha aconteceu como comemoração desses setores conservadores", assinala.

O ato deste domingo não teve a adesão de muitas pessoas. Cerca de 60 a 100 pessoas se reuniram com um carro de som e bandeiras brasileiras e de Israel. Parte do esvaziamento pode ser explicado pelas caravanas que levaram grande parte dos movimentos conservadores e de direita do Estado para Brasília neste final de semana. 

O professor Pedro Ernesto avalia, no entanto, que este é mais um movimento antidemocrático que se soma a outros que têm sido realizado por apoiadores do governo em todo Brasil. "Apesar do nome religioso é um movimento de caráter político e antidemocrático. A história não se repete, mas de maneira constrangedora a semelhança entre as marchas de hoje e de 1964 são as pautas antidemocráticas e conservadoras", finaliza.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais